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0472 | II Série C - Número 027 | 08 de Maio de 2004

 

de planeamento a tempo inteiro no seio do SHAPE com o objectivo de organizar missões da União Europeia independentes.
59 - Apesar destas divergências, registou-se um importante progresso relativamente à questão da partilha de informação entre a União Europeia e a OTAN. Após vários meses de negociações, as duas organizações assinaram um acordo, a 14 de Março, no sentido de partilhar informação confidencial. Este acordo, em conjunto com o acesso garantido aos meios de planeamento da OTAN, prepara o caminho para a União Europeia assumir o comando da missão de manutenção da paz na Antiga República Jugoslava da Macedónia [A Turquia reconhece a República da Macedónia com o seu nome constitucional]. Em ambas as organizações, muitos crêem que esta é uma das etapas finais no estabelecimento de relações formais entre a União Europeia e a OTAN.

V - O deslocamento das forças americanas em território europeu
60 - Outra questão que poderá afectar a relação transatlântica é o estacionamento de forças americanas em território europeu. Os Estados Unidos estão a ponderar a reestruturação da sua presença militar na Europa. As propostas que apontam nesse sentido foram apresentadas pela primeira vez na Revisão Quadrienal da Defesa de 2001 (2001 Quadrennial Defence Review), que se centrou na criação de um sistema de estacionamento mais flexível para as forças americanas no estrangeiro. A Revisão Quadrienal da Defesa sugeriu, em particular, que se devia olhar para além da Europa Ocidental e procurar bases mais próximas de possíveis áreas de conflito no futuro. A ideia é tornar as forças americanas estacionadas na Europa menos uma guarnição militar permanente e mais uma força expedicionária que poderia deslocar-se em regime de rotatividade por breves períodos de tempo. Segundo declarações do General James Jones, do SACEUR, as bases americanas na Europa tornar-se-iam "folhas de nenúfar", funcionando como pontos provisórios a partir dos quais as forças americanas poderiam ser enviadas rapidamente para as áreas de conflito.
61 - Esta solução é motivada tanto por razões estratégicas como financeiras. De uma forma geral, a Europa Ocidental é uma área segura e as forças necessárias para impedir uma invasão soviética através do Desfiladeiro de Fulda usam agora essas bases para se deslocar para os Balcãs e o Médio Oriente alargado. Simultaneamente, a Aliança expandiu-se para leste, dando aos Estados Unidos a possibilidade de estacionar as suas forças mais perto das possíveis áreas de conflito no Médio Oriente e na Ásia Central.
62 - Os aspectos financeiros do deslocamento das forças americanas incluem benefícios potenciais tanto para os Estados Unidos como para vários novos aliados na Europa de Leste. É possível que os custos operacionais sejam inferiores na Europa de Leste, o que poderia traduzir-se numa redução considerável de despesas para os Estados Unidos a longo prazo. Os aliados mais pobres da Europa de Leste iriam receber uma injecção de capital, pois as famílias dos militares arrendam casas, compram bens de consumo e contribuem de outras formas para a economia regional. Tal como a presença de forças americanas representou um grande desenvolvimento para as áreas situadas junto das bases militares na Alemanha após a Segunda Guerra Mundial, também as comunidades polaca, romena ou búlgara poderiam tornar-se relativamente prósperas, o que contribuiria para a estabilização da economia.
63 - Além disso, o regresso de algumas forças militares aos Estados Unidos e o encerramento de bases na Europa representaria uma redução de custos significativa para o governo americano. Os Estados Unidos criaram cidades americanas na Alemanha, nas quais as famílias dos militares podiam viver e frequentar a escola num ambiente que exigia uma adaptação mínima. Esta solução era onerosa e envolvia despesas consideráveis em termos de educação, alojamento para as famílias e outras infra-estruturas. O regresso das forças às bases americanas, que são já em número excessivo, representaria uma poupança e reduziria a necessidade de encerrar outras bases nos Estados Unidos, o que constitui sempre uma questão política delicada.
64 - Por outro lado, poderiam existir desvantagens consideráveis em deslocar um número significativo de forças americanas estacionadas na Alemanha para bases mais a leste e a sul. Em primeiro lugar, trata-se de uma questão política. As relações entre os Estados Unidos e a Alemanha não estão na sua melhor forma depois das eleições realizadas na Alemanha em 2002 e da recusa da Alemanha em participar em mais acções militares contra o Iraque. Neste contexto, qualquer movimento das forças americanas a partir da Alemanha poderia ser interpretado como tendo motivações políticas, independentemente da garantia de que tal não acontece. Qualquer decisão tomada neste ambiente de tensão pode afectar o conjunto das relações transatlânticas.
65 - A acrescentar a estas considerações políticas existem problemas militares e logísticos associados a este deslocamento. Não é garantido que a analogia "folhas de nenúfar" funcione na prática. Algumas propostas defendem que a maioria das forças americanas deve permanecer nos Estados Unidos e alternar entre as bases europeias por períodos de seis meses. Uma das consequências desta alteração seria o facto de os soldados ficarem separados das famílias durante períodos mais alargados, uma vez que estas permaneceriam nos Estados Unidos. Esta medida seria bastante impopular junto dos soldados e algumas altas patentes militares receiam que pudesse conduzir a demissões. Além do mais, não é certo que a diminuição de bases militares na Alemanha se traduzisse necessariamente numa redução de custos. A reconstrução das infra-estruturas de formação localizadas no sudeste da Europa acarretaria custos elevados e não há garantia de que as despesas de reconstrução fossem suplantadas pela redução de custos operacionais num futuro previsível.
66 - Esta questão merece ainda algumas considerações estratégicas. O argumento principal a favor do deslocamento das bases militares assenta na ideia de que as forças americanas ficariam mais próximas de possíveis áreas de conflito no Médio Oriente. No entanto, é difícil prever onde é que as forças americanas serão necessárias nos próximos anos e muito menos na próxima década ou depois. Dada esta incerteza, parece efectivamente problemático incorrer na despesa e no incómodo de deslocar as forças americanas em território europeu.