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26 DE JULHO DE 2019

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Estudo Nacional sobre Comunidades Ciganas, verificámos que a principal fonte de rendimento de cerca de 35%

daqueles inquiridos era o RSI (rendimento social de inserção) e muito poucos tinham pequenos subsídios —

subsídio de doença, de desemprego, etc.“

Aborda, neste contexto, o acesso ao trabalho e a dificuldade extrema em conseguir trabalho por conta de

outrem, a que chama racismo institucional ou estrutural. Conta que, “A Isabel Pereira, que é técnica do Centro

de Emprego de São João da Madeira, fez um levantamento das pessoas ciganas inscritas nesse Centro de

Emprego e conseguiu constatar que havia pessoas inscritas há mais de 10 anos que nunca tinham sido

chamadas nem para uma proposta de formação, nem para uma proposta de emprego. Depois, ela também se

interessou por tentar perceber o ponto de vista das entidades patronais e fez algumas entrevistas a alguns

patrões. Sucede que, entidades patronais — e isto é mesmo uma situação de racismo institucional ou estrutural,

não sei como é que podemos chamar — que nunca tiveram uma pessoa cigana a trabalhar para si, dizem, à

cabeça, que não os querem. Dizem que nunca tiveram, nem querem ter, uma pessoa cigana a trabalhar par si,

para além de outros casos. A própria Isabel, quando esteve a fazer o trabalho de campo, chegou a levar um

candidato a uma entrevista e o candidato acabou por não ficar. Depois, alegam que não têm as habilitações ou

não têm o perfil pretendido, entre outros”.

A oradora refere, ainda, a relação de algumas pessoas das comunidades ciganas com o mercado de trabalho

e que não são facilitadoras do processo. “Em algumas famílias, não há memória de ter havido algum elemento

que tenha trabalhado. Nas famílias mais velhas, havia, por exemplo, o avô, que tratava dos animais, que era

ferreiro ou andava na jorna, como se diz lá para o Norte, portanto, no trabalho sazonal. Temos famílias em que

não há um elemento que saiba o que é — e não estou sequer a falar de trabalho formal — trabalho informal.

Portanto, são famílias que não têm contacto com o mundo do trabalho”.

Igualdade de Género

Olga Magano refere a desigualdade de género nas comunidades ciganas, a divisão por género dos papéis

sociais muito vincada, e o condicionamento da liberdade das mulheres pelos homens. “Depois, também há a

questão (…) do condicionamento à liberdade de circulação das mulheres. As mulheres continuam ainda a ter

muitas restrições, por exemplo, para saírem sozinhas do bairro. Normalmente, só podem ir ou aos Centros de

Saúde para levarem os filhos ao médico, ou à Câmara para tratarem da questão da habitação. É ainda

impensável, por exemplo, entrar num carro e aceitar uma boleia, mesmo que seja de alguém conhecido. Uma

situação desse género, ainda continua a ser bastante difícil. Depois, a decisão daquilo que a mulher pode fazer,

ou não, continua a ser uma decisão masculina. Na semana passada, estive num encontro na Esgueira, em

Aveiro, e estava lá uma senhora, a Catarina Vieira, mediadora, uma pessoa muito interessante, sem dúvida, que

disse: «O meu marido é muito moderno, o meu marido, deixa-me ser mediadora». Mesmo algumas mulheres

que neste momento já trabalham, sobretudo, no campo da mediação, acabam por ter permissão para trabalhar

porque o pai o permite ou porque o seu marido é um marido moderno”.

Sobre a violência doméstica que considera existir nas famílias ciganas, mas que é considerado tabu, refere

que “um aspeto que continua a estar muito presente nas famílias ciganas e que, por vezes, é naturalizado, tem

a ver com a questão da violência doméstica, a violência sobre as mulheres. Isto continua a ser um assunto tabu.

Muitas vezes, as mulheres referem: «Ah, foi só um estalo» ou «Não foi muito, não foi com força». Há uma certa

desculpabilização por parte da mulher relativamente às atitudes violentas dos homens. Este aspeto é importante,

continua a ser tabu e está na base de algumas separações de casais. Algumas mulheres conseguem libertar-

se e acabam, por vezes, por ir morar para longe da família, porque, de alguma forma, são banidas. Estas

mulheres vão morar para longe e começam a ter uma vida diferente, porque, normalmente, as crianças são

retiradas às mães quando isto acontece. Achei que este é um aspeto que continua a ser importante e que não

é muito falado, aparece sempre de uma forma camuflada e não diretamente”.

Olga Magano aborda ainda o casamento precoce dentro das comunidades ciganas: “Também decidi

assinalar a questão dos casamentos precoces, que é uma situação que continua a verificar-se. Esta informação,

agora mais recente, através da cidade do Porto, evidencia que nestes últimos anos houve um retrocesso e são

as próprias pessoas ciganas que o dizem. Ou seja, as meninas voltaram a casar mais cedo, voltaram a fazer

ajuntamentos mais cedo”.

 Mirna Montenegro, Educadora de Infância e Investigadora

Mirna Montenegro traz para a sua intervenção os temas dos casamentos precoces, a educação, a influência

da Igreja Evangélica nas comunidades ciganas, e como é que as comunidades ciganas se organizam