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26 DE JULHO DE 2019

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História e uma projeção de uma identidade nacional convivem muito bem com pôr negros a dançar em palhinhas,

no palco”.

“Noto também que a interculturalidade não é vivida na escola de uma maneira substantiva em termos de

ensino de outras línguas, de outras culturas, de um ensino religioso em condições, de facto, iguais para todas

as religiões no que se refere à História”.

Marta Araújo refere ainda um caderno de discussão que a sua equipa preparou e que está disponível online

para apoiar os professores no ensino da História, e diz, sobre a evolução dos últimos anos: “Tem havido

mudanças. De facto, na análise dos manuais de 2018, notam-se que leram os nossos trabalhos. Há questões

que estão a ser abordadas. Por exemplo, fazíamos menção, muitas vezes, de que os manuais dos anos 70

faziam menção ao pan-africanismo, ao movimento da negritude e a todos os projetos políticos de contestação

colonial. Essas questões voltaram a aparecer em alguns manuais, muito superficialmente. Portanto, têm sido

mudanças, na maior parte das vezes, cirúrgicas e muito desiguais entre manuais. Temos manuais que estão

completamente iguais ao que eram há mais de 10 anos e outros que mudaram”.

“Portanto, é preciso repensar qual a identidade que queremos construir, através da escola”.

b) – Audição a Especialistas sobre as comunidades ciganas

 Olga Magano, Professora da Universidade Aberta

Habitação

Olga Magano inicia a sua intervenção com o tema da habitação e diz “Comecei, precisamente, por selecionar

a questão da habitação. Se já estiveram em Bragança (…) infelizmente, um dos grandes problemas que ainda

existe em relação a muitas famílias ciganas é o problema habitacional. Como sou professora da Universidade

Aberta, tenho a sorte de ter alguns mestrandos que têm feito trabalho sobre ciganos em vários territórios de

Portugal continental e, com a devida autorização desses meus alunos, trouxe algumas fotografias, porque acho

que as fotografias revelam muito melhor a realidade que ainda existe em Portugal (…), estudei precisamente

esses ciganos de Bragança — isto já foi há mais de 10 anos e eles continuam lá —, portanto também os conheço.

Mas estas fotografias são recentes e são de outros locais”.

Olga Magano relata situações de habitação precária em várias comunidades ciganas no país: Aveiro, Santa

Maria da Feira, Évora e Reguengos de Monsaraz.

Diz sobre Évora “Este, se calhar, é o mais grave de todos (…) É em Évora. Agora, em abril de 2019, temos

pessoas a viver nestas condições. Eram famílias que estavam num terreno. A autarquia construiu um parque

para caravanas e as famílias que estavam nesse terreno tiveram de sair. Entretanto, a GNR permitiu que

ficassem noutro terreno. Só que, mais uma vez, são pessoas que não têm dinheiro sequer para construir uma

barraca com caráter mais seguro. Neste caso concreto, não têm acesso a água, têm de ir buscar água, com um

balde, a uma estação de serviço, onde se lavam os carros. Claro que depois são perseguidos, porque não os

querem deixar ir buscar água. Isto para dar conta da situação que existe”.

“Isto serve para traduzir que, em termos de habitação, ainda há problemas graves por resolver”.

Faz ainda uma referência à situação da habitação na cidade do Porto e ao problema da sobrelotação nas

casas de habitação social com que se confrontou “Eu tive, recentemente, o prazer de participar na elaboração

do Plano Local para a Integração dos Ciganos, na cidade do Porto, um documento que ainda está sob reserva

porque a Câmara ainda está, neste momento, a fazer a própria candidatura para o Alto Comissariado para as

Migrações. Tive a possibilidade de andar, durante dois meses no terreno, na cidade do Porto, entre os principais

bairros onde moram mais ciganos e um dos problemas que é indicado — e neste caso, claro, já é uma situação

diferente, porque a maior parte das famílias está alojada, vive em casas municipais — é o da sobrelotação,

porque, neste momento, a Câmara não faz desdobramentos, não aceita entregar novas casas aos elementos

familiares”.

Outro aspeto muito importante ao qual a Professora da Universidade Aberta dá destaque são as dificuldades

e os impedimentos constantes que as pessoas da comunidade cigana encontram quando tentam arrendar casa.

“(…) Depois, temos casais jovens que, do ponto de vista financeiro, até têm possibilidade de arrendar uma casa

no mercado de arrendamento particular, mas debatem-se — e aqui a questão é racismo — com a dificuldade

de os senhorios ou os proprietários não arrendarem as casas a pessoas ciganas. Muitas vezes, quando

conseguem, é através de intermediários, é através de alguém que não é cigano e que faz, no fundo, a mediação.

Depois, muitas vezes, quando descobrem que a família é cigana, o contrato não é renovado e têm que sair”.