6 DE ABRIL DE 1990 229
de Francisco Stromp ao Dr. Emanuel de Sousa: Digo isto até porque o Sr. Engenheiro referiu que o préprio
gr. Ministro p6s a hip6tese de ir residir para um hotel.
O Sr. Engenheiro Almeida Henriques: — Quando se
fez o contrato-promessa de compra e venda com a firma EUTA, com a firma Alves Ribeiro, o processo
do Sr. Ministro s6 nao terminou porque nao estava
feita a escritura. Também nao terminou porque nao
ocupou logo a casa. Tal como disse ha pouco, ficou
tranquilo, na medida em que o.comprador, o yende-
dor das Amoreiras, tinha ficado com o andar, portanto
nao tinha grandes problemas morais em estar la, por-
que ele também estava.a fazer as obras. Quando as pes-
soas comecaram a entrar em sua casa para comprar o andar 4 firma EUTA, que estava a tentar vendé-lo atra- vés da firma Arena... N&o é agradavel para qualquer
pessoas, muito menos para um ministro, que tem, com
certeza, problemas confidenciais em casa, estar a rece- ber pessoas para ver o andar. Nessa altura apercebeu- -se de que o andar estava a ser vendido. Perguntou- -me e eu disse-lhe: «Estou a tentar, através da
Arena ...» Nao sei se the expliquei isto como estou agora a fazé-lo. E ldégico que o tivesse feito, porque ele ficou preocupado de ver as pessoas a andarem a vero seu andar. Provavelmente, também lhe disse: «Fi- nalmente o andar foi vendido pela firam EUTA.» Dai
a sua preocupacaéo. Enquanto era a firam EUTA era
uma coisa, mas uma vez que o andar tinha sido ven-
dido a uma outra pessoa que queria ocupar o andar
éle tinha de sair. Foi isto que ele me disse. Foi nessa
altura que falei com o Dr. Emanuel de Sousa e the co-
loquei o problema. Ele mostrou-se sempre muito 4 von-
tade. Nunca me disse «veja ld se ele sai» ou coisa no
género. Disse-me sempre: «Almeida Henriques, esteja
completamente a vontade, utilize o andar». Ha pouco
perguntaram-me se o Dr. Emanuel de Sousa sabia se
tinha havido permuta, se este negdcio tinha sido feito
pela firam EUTA. Com certeza que sim. Disse-lhe que
as obras das Amoreiras do Sr. Ministro estavam atra-
sadas, que ele ainda nao podia ir para 1a, etc. Portanto,
o Dr. Emanuel. de Sousa sabia isso perfeitamente.
Admito que ndo soubesse isso no dia exacto em que fiz
© negécio, mas mais tarde soube perfeitamente que 0
Sr. Ministro. nao. podia ir ainda para as Amoreiras ¢
por isso ¢ que ainda vivia na Rua de Francisco Stromp.
Nao tinha que referir a quem é que vendi nem o
Sr. Ministro estava interessado nisso. Provavelmente,
ndo o referi. Nao sei se lhe disse, numa outra vez, que
era para o Dr. Emanuel de Sousa. Isso nao era im-
portante. © que era preocupante era o Sr. Ministro es-
tar a viver numa casa que ja nao Ihe pertencia.
Relativamente ao recibo da EUTA de 11 500 contos,
nao sei. Eu entreguei o cheque e suponho que 0 Sr. En-
genheiro Vitor. Ribeiro mandou o recibo para o Dr. Emanuel de Sousa. O cheque estava em nome do
Dr. Emanuel de Sousa. Sei que mais tarde o Sr. Enge- nheiro Vitor Ribeiro. teve algumas preocupagOes, Por- que como o Dr. Emanuel de Sousa disse que 0 andar
nao era para ele, que estava a actuar como gestor de
negécios, o Engenheiro. Vitor Ribeiro queria saber a
quem € que contabilizava. Atéadmito que nao tivesse
passado recibo nenhum, mas ndo sei. Admito que nao tivesse, porque eudei-lhe o:cheque dentro deste regime
de confianca. O cheque:era nominativo, estava assinado
pelo Dr. Emanuel de Sousa. Portanto, se ele passasse
um recibo era‘ao Dr. Emanuel de Sousa. Se nao pas- sou um recibo, ficou provavelmente 4 espera que lhe dissessem quem era a firma que queria comprar 0 an- dar. S6 mais tarde € que o Dr. Emanuel de Sousa me confirmou que era uma firma inglesa, ANRO, com sede em ...Foi nessa altura que transmiti ao Enge- nheiro Vitor Ribeiro... «Se quiser, pode contabilizar em nome da ANRO.» Provavelemente, ele passou o re- cibo em nome da ANRO. Isso ja no sei, porque isso ja nao era comigo, porque a Arena saiu do processo, nao tinha mais nada a ver com aquela situacdo.
Relativamente a participagao do Dr. Mario David, gostaria de dizer o seguinte: o Dr. Mario David traba- Iha comigo, dé apoio administrativo as nossas empre-
sas, portanto sempre que ha assuntos de imobilidrio, em que ele é especialista, como, por exemplo, tratar de registos, o que é bastante dificil, ele faz um traba-
lho importante. Conseguir hoje um registo demora, in-
felizmente, seis, oito meses e as vezes um ano e nem aceitam urgéncias. O Dr. Mario David esta muito 4 vontade nesta area, mexe bastante bem. Inclusivamente, ele esta.a dar esse apoio a firma Alves Ribeiro, que
também deve ter os seus préprios servicos. Quando as
pessoas trabalham connosco tém tendéncia para se
«pendurar» no Dr. Mario David porque sentem que ele
sabe, que ele trata dos assuntos como deve ser. E isso
que se passou exactamente, quer com o Dr. Emanuel de Sousa, quer com o Engenheiro Vitor Ribeiro. Ainda
neste momento quem esta a tratar de marcar a escri-
tura de venda da EUTA ao Dr. Emanuel de Sousa é
o Dr. Mario David. Portanto, ele tem um papel im-
portante em toda a burocracia destes processos.
O Sr: Octavio Teixeira (PCP): — O Sr. Engenheiro
referiu «sempre que alguém trabalha connosco, 0
Dr. Mario David ...». Esse «connosco» é a Arena?
O Sr. Engenheiro Almeida Henriques: — Quando
digo «connosco» € o grupo Amadeu Gaudéncio, que
tem varias empresas. A Arena é uma pequena empresa,
que tem uma funcao imobilidria. A firma Amadeu
Gaudéncio é uma firma de obras publicas € nao se mete
noutros negécios. Como é evidente, nao enjeita os ne-
gécios. Quando Ihe aparecem negocios diferentes da sua
4rea de empreitada de obras publicas funda, forma, no-
vas empresas vocacionadas para essa determinada area.
por isso que nds vendemos automdveis. Nao éa
Amadeu Gaudéncio que vende automoveis, mas, sim,
uma outra firma. Recebemos também as trocas, que
ndo queremos mas: temos que ficar com elas.
Portanto, o Dr. Mario David aparece no grupo a tra-
tar desses assuntos, sobretudo relacionados com a fun-
cao imobilidria. Ele ainda nao ¢ advogado, porque aca-
bou por nao fazer o estagio, e esta ali numa funcgao
de apoio, de solicitador, a tratar de todos estes assun-
tos que muitas vezes os advogados deixam passar mais
facilmente. Realmente, ele trata muitissimo bem des-
tes assuntos, que ¢ fundamentalmente o que faz.
Relativamente ao aspecto da transmisséo do andar
da Rua de Francisco Stromp, numa primeira fase, €
da venda ao Dr. Emanuel de Sousa, numa segunda
fase, parece que, de acordo com o que o Sr. Depu-
tado disse sobre as afrmacdes dos outros declarantes,
o engenheiro Vitor Ribeiro e o Dr. Emanuel de Sousa
terio dito que nao estavam nada interessados. Aqui €
sempre a visdo do comprador e do vendedor que conta.