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isto é transmissão de pensamento" - a conversa foi mesmo assim.
Diz-me o Sr. Dr. Adelino Salvado: "Eu vou mudar isto tudo, de alto a baixo! Já sei que a Sr.ª Directora não vai concordar…" - isto é taxativo - "… e, portanto, está liberta do nosso compromisso", que era o compromisso que ele me tinha pedido para jamais, em caso algum, acontecesse o que acontecesse, pedir a cessação da comissão. "Está liberta do nosso compromisso, Sr.ª Dr.ª Maria José", disse-me.
Bom, eu sempre tive muita relutância em contar isto, mas devo fazê-lo, em nome do respeito que merecem os Srs. Deputados e o dever de verdade. "Como personalidade de prestígio…" - acho até um bocado caricato este tipo de conversa, mas foi assim - "… a Dr.ª Maria José, faz favor, pede a cessação da comissão, em vez de ser eu a fazê-lo. Tenho já uma pessoa para o seu lugar com um perfil idêntico,…" - como se vê, até porque a minha demissão foi aceite na quinta-feira e essa pessoa com o perfil idêntico (pode ser mais alta e mais forte, mas terá o perfil idêntico e o sexo oposto…) tomou posse na segunda-feira, portanto, o que se vê é que ninguém foi apanhado de surpresa, tudo isto foi pensado - "… pelo que a Dr.ª Maria José, como personalidade de prestígio, talvez seja melhor colocar a sua comissão à disposição". E eu disse: "Sr. Director Nacional,…" - sempre o tratei muito cerimoniosamente - "… sim senhor, isto é uma questão de minutos. Por acaso, não tenho aqui papel, os computadores acabaram com o papel, nem tenho fax, nem Internet, mas redijo já o meu pedido de cessação da comissão. Gostava de saber os motivos…", ao que ele me respondeu: "Não, não vale a pena". Continuei, "Sr. Director Nacional, estou a 40 minutos de Lisboa, posso ir a Lisboa falar consigo, as minhas férias terminam segunda-feira,…" (era uma terça-feira) "… mas eu gostava de falar consigo".
O Sr. Director Nacional, na 1.ª Comissão, falou muito de conversas "olhos nos olhos", mas comigo foi "ouvidos nos ouvidos", que é outra modalidade. Embora eu tivesse insistido "gostava de falar consigo, perceber isto…", ele disse-me "não vale a pena". Vi que ele já tinha passado à fase seguinte, já praticamente não me ouvia, já não tinha tempo disponível para mim, e, então, eu disse: "Pronto, Sr. Director Nacional, muito bem, tem o meu compromisso em como eu peço a cessação da comissão".
Desliguei, fiquei a pensar em tudo o que ficava para trás, nas pessoas que, súbita e aparentemente, eu tinha abandonado naquele momento, mas era irreversível, eu não tinha escolha. Havia um autor moral para isto, há um autor material para isto - sou eu, eu pedi a demissão. Sempre o assumi, sou uma pessoa com ética e, a partir do momento em que assumo a responsabilidade de pedir a demissão, é evidente que sou eu que peço a demissão. Mas o dia, as circunstâncias, a hora e a ponderação das consequências não me pertenceram.
Fiquei a pensar se devia vir a Lisboa, se não devia, e cheguei à conclusão de que não viria fazer nada a Lisboa senão confrontar-me com aqueles que tinham colaborado e lutado comigo na primeira linha de combate à fraude internacional e à corrupção, confrontar-me com uma situação já irreversível - aliás, os telefonemas começaram a "chover" horas depois - e decidi, eram dez horas e tal, depois de pensar umas quatro horas, que não valia…
Se me perguntarem quem são as testemunhas deste telefonema, é evidente que são as testemunhas das 10 horas da manhã, num dia de férias. Estava o meu marido presente e a Professora Lúcia Amaral, que estava a passar férias connosco em casa, que perceberam perfeitamente o meu drama. Porque é dramático abandonar, saltar assim de uma direcção central, que conduzia com seriedade, com objectivos, com prioridade, com sacrifício.
Passava já das duas horas da tarde, os correios estavam fechados, resolvi mandar um fax da Junta de Turismo da Ericeira, que tenho aqui para entregar à Comissão - aliás, este fax apareceu no Público e não fui eu que o entreguei, alguém suficientemente ansioso para o efeito o entregou, mas também não me interessa quem -, em que digo: "Apresento a minha demissão do cargo de DNA da PJ a partir desta data". Às cinco da tarde, telefono ao Dr. Adelino Salvado, a confirmar o envio do fax. O Dr. Adelino Salvado, na altura, diz-me que ainda não tinha recebido qualquer fax, perguntando-me o que é que se passava, e eu disse-lhe: "Então, é melhor procurar, se calhar já anda a 'passear' pelas redacções dos jornais, porque eu já o mandei há três horas".
O Dr. Adelino Salvado mostrou-se exasperado por eu ter apresentado um pedido de demissão, porque o que estava combinado era um pedido de cessação da comissão, e eu disse-lhe que para o caso tanto importava, porque o que me importava era o resultado, e a esse respeito não valia a pena discutirmos formalidades.
Pedi-lhe encarecidamente, e pela última vez, talvez até um bocado estupidamente, que me dissesse o que é que tinha corrido mal, quais eram as razões, porque ando neste mundo por valores e gostava de saber. A resposta do Dr. Adelino Salvado - eu sei que em relação a tudo isto é a minha palavra contra a dele, mas é assim, e as pessoas valem o que valem - foi: "Não me massacre a mim, nem a si. Deixe-me. Pergunte aos seus colegas". Eu disse-lhe: "Sr. Director, o meu compromisso era consigo, não era com os meus colegas" e devo dizer que ele queria referir-se ao Dr. José Branco e ao Dr. João Vieira, que vieram com ele para a Polícia Judiciária e que são o braço direito para tudo e mais alguma coisa em relação a ele, e, porventura, pareceu-me ofendido por eu não falar com os meus colegas a este respeito, delegação essa que eu não aceitava, porque era a ele que reportava. A partir daí, o Dr. Adelino Salvado nunca mais me atendeu, nunca mais me recebeu, nunca mais aceitou falar comigo.
Passei um dia horrível e, na quinta-feira, resolvi vir a Lisboa e enviei por fax, dirigido da Alexandre Herculano, da DCICCEF, porque se levantava uma grande celeuma na imprensa a respeito da minha demissão… Havia uma ambiente de Titanic na DCICCEF, porque ninguém compreendia como é que isto tinha acontecido assim subitamente, sem qualquer explicação, com tudo a correr bem, com a Polícia Judiciária no combate ao crime económico prestigiada, com investigações a decorrerem a meio… Aliás, deixei tudo a meio, basta dizer que nem o meu gabinete tive tempo de arrumar, quanto mais o resto.
E perante esse ambiente de Titanic e, porventura, numa última tentativa de proteger os operacionais, de evitar represálias - o Dr. Adelino Salvado chamava-me muito "mãe ursa", internamente criticava-me por proteger demais os operacionais, porque publicamente acusa-me de protagonismo, que é outra história -, porventura eu própria, quando pedi a demissão, não tinha o domínio funcional do facto e como não sabia que interpretações se podiam fazer a respeito do meu pedido de demissão, enviei um fax ao Director Nacional, fax esse que hoje foi entregue por alguém às televisões, não por mim, mas já o ouvi ler nas