momento, não vamos poder avançar. Esperamos mais dois ou três meses e a prova estará mais consolidada". Assim foi combinado. E, cá está a operação! E ainda bem!
Mas disse: "Vamos avançar com a operação da Brisa". A Brisa é um processo engraçado, cuja identificação do modus operandi foi obtido, graças à actuação dos meios de vigilância, que permitiram, noites e noites a fio, identificar como é que se fazia a fraude com os tickets da Brisa. Se não fosse assim, a Brisa iria continuar a suportar os prejuízos até hoje e o processo seria apenas um monte de papel.
O processo só não foi um monte de papel, porque foram utilizadas técnicas pró-activas de investigação e meios específicos e de prova, no quadro legal e no quadro da coadjuvação das autoridades judiciárias e com a autorização das autoridades judiciárias, como é evidente.
Essa conversa terminou desta maneira, isto é, sem nunca se discutir as grandes linhas de fundo.
O que é que sucedeu depois da operação da Brisa? A operação da Brisa foi no dia 3 de Junho, o Sr. Director Nacional até me deu os parabéns e enviou-me uma caixa de bombons e um cartãozinho.
A partir dessa data, houve de facto grandes dificuldades no exercício das minhas funções. Nunca eram grandes coisas. Vamos ver, quando falo em divergências de natureza operacional, estou a raciocinar com base em dois fenómenos, que são: "Isto vai mudar tudo! Já sabemos que a Sr.ª Doutora não concorda! Acredito, tenho de acreditar. Não tenho razões para não acreditar".
Depois, há aquilo que eu estava a fazer. É preciso saber aquilo que eu estava a fazer. Ora, aquilo que eu estava a fazer quando a direcção Adelino Salvado tomou posse era um processo não tradicional de combate à grande fraude e à corrupção.
Eu considerava o crime económico prioritário, porque o crime económico está no coração da fraude internacional e do crime organizado internacional. Porquê? Porque os circuitos financeiros da fraude fiscal, do branqueamento e do tráfico de droga são idênticos. Mais: a corrupção é o elemento potenciador do crime económico e do crime organizado internacional. Tal como as novas tecnologias de informação são um elemento potenciador do crime económico e do crime organizado internacional.
Nesse sentido, percebi que não podíamos estar a investigar para o passado e não podíamos estar a "dormir em cima dos papéis". Para isso, havia que quebrar três mitos: o mito de que os juizes de instrução não têm sensibilidade para estes casos, e como tal não dão resposta às operações de recolha de prova da polícia; o mito de que o Ministério Público não está no terreno e não acompanha a polícia neste tipo de investigações; e o mito de que nós não temos meios humanos.
Devo dizer que durante metade da minha direcção trabalhei com metade dos coordenadores e metade dos efectivos previstos para aquela direcção central, porque os quadros só foram completados, em termos de quadro previsto, em finais de Novembro de 2001.
No entanto, proibi as pessoas de falarem mais e disse: "Vamos para o terreno, há muito que fazer, vamos investigar, utilizar meios específicos de prova, fazer acompanhar as investigações com um sentido integrado dessas investigações". Isto porque há uma ligação entre as investigações da corrupção, da fraude, do contrabando organizado e da criminalidade informática. Como tal, tem de haver uma análise e um tratamento de toda a informação que decorre de todas essas investigações.
Portanto, criei o lugar de coordenador superior de investigação criminal, para fazer a investigação integrada ao nível das secções de investigação criminal.
Criei uma secção de investigação do contrabando organizado, que não existia (foi criada em Novembro de 2001, com 10 pessoas), ideia que me foi transmitida pelo Dr. Rosário Teixeira.
Criei uma secção de vigilâncias em Novembro de 2001, para recolha de prova no terreno em tempo real, para identificação dos autores da infracção; fiz acompanhar todas as investigações de perícias informáticas, perícias financeiras e perícias contabilísticas.
Desenvolvi a pluridisciplinaridade; pedi apoio à IGF, pedi apoio à banca, reuni com os representantes do contencioso da banca, nomeadamente do Montepio Geral, portanto pedi a colaboração das instituições financeiras para fornecimento de informações no combate ao branqueamento, ao dinheiro sujo, aos proventos do crime.
Pedi às operadoras de telecomunicações o fornecimento de dados digitais em termos de identificar os autores dos crimes praticados através da internet.
Desenvolvi um espírito de trabalho combativo, de um trabalho com visibilidade, de um trabalho que divulgasse junto da opinião pública os valores da honestidade, da seriedade e do combate à corrupção.
Defini prioridades orgânicas que passavam pela distinção entre a prevenção, entre a investigação, entre a análise e recolha de prova.
Defini prioridades no terreno em termos de investigação criminal, que diziam respeito a zonas de risco na sociedade portuguesa, onde a corrupção atingiu níveis intoleráveis, a saber: a máquina fiscal, forças policiais, como a Brigada de Trânsito, no futebol, leiloeiras, que estão também inseridas em todo este circuito - isto, já, no domínio de prioridades dentro das tipologias do crime -, contrabando ao IVA em carrossel, contrabando aos IEC (Impostos Especiais sobre o Consumo) e, como os meios eram escassos, desenvolvi protocolos, e, ainda, a fraude na saúde, farmácias e laboratórios.
Aprovei um protocolo com a Inspecção-Geral de Saúde, como a forma de colmatar a fala de recursos humanos, pedi apoio à IGF, o qual nunca me foi negado, tive peritos da IGF a trabalharem constantemente connosco, pedi apoio a polícias estrangeiros, a congéneres estrangeiras - aliás, tenho aqui um agradecimento de uma polícia estrangeira, a polícia aduaneira inglesa, a respeito do trabalho que foi desenvolvido sob a minha direcção durante esse tempo e que me foi enviado no dia 28 de Agosto.
Isto para dizer que o meu espírito não era estar enfiada no buraco do n.º 42-A da Rua Alexandre Herculano, mas, sim, vir para a rua, prender, apreender e desmantelar, no quadro das investigações, no quadro das prioridades legais definidas, dar visibilidade à actuação da Polícia Judiciária e dar um sinal à opinião pública de que estava a fazer-se qualquer coisa.
Com isso, obteve-se uma grande viragem no combate ao crime económico e a Polícia Judiciária foi prestigiada. Eu saí há dois meses da Polícia Judiciária e há trabalho que ficou lá, do tempo da minha direcção. Protagonismo, por protagonismo, não me importo de o dizer: há trabalho que eu deixei lá e que, neste momento, permite às pessoas invocarem que estão a continuar a luta contra a corrupção, até estão a continuar a defender os meus objectivos, porque esse trabalho ficou lá, é trabalho sólido.
Portanto, o meu protagonismo não foi de exibicionismo pessoal, nem de valores pessoais, nem de promoção pessoal, não fui para a Polícia para isso, bem pelo contrário!