orientação, de guide lines no combate ao crime. Não sei quais são as prioridades, só sei que o Sr. Director Nacional limita-se a dizer que o crime agora é todo único, tem um cérebro, está muito organizado, e, como tal, tem de se concentrar a resposta a esse crime num único órgão de polícia criminal. É a única coisa que eu percebo ali, portanto, não sei se é um projecto hegemónico de a Polícia Judiciária passar a combater toda a espécie de criminalidade ou o que é.
E o que vejo também da Sr.ª Ministra é que está muito preocupada com os telemóveis e com os carros e, depois, em matéria de combate à grande criminalidade, é combater aquilo que o nosso povo quer que nós combatamos. Portanto, eu também não sei o que é o nosso povo quer que nós combatamos.
Agora, indo para o compromisso de ficar, devo dizer que quando o Sr. Desembargador tomou posse, no dia 24 de Maio, havia um clima na Polícia de que era melhor todos pormos o lugar à disposição. Eu coloquei a questão ao meu, então, director, o Dr. Luís Bonina e disse-lhe: "É melhor…" Aliás, o Dr. Luís Bonina sabia que tinha havido, da parte da Sr.ª Ministra, uma grande censura à minha pessoa, por causa de umas palavras que ela apelidava de entrevista à TSF, que, no fundo, eram uma exortação aos operacionais, no sentido de que continuassem a combater a corrupção fosse qual fosse a pessoa que ficasse à frente da Direcção Central. Sei que essas palavras desagradaram muito à Sr.ª Ministra e fui acusada de excesso de visibilidade. O Dr. Bonina, na altura, disse-me: "Bem, penso que o assunto está sanado e eu faço questão que continues na Direcção Central. Há muito trabalho em marcha, há coisas que não podem ser abandonadas a meio e penso que toda a gente pensa isso, é uma atitude institucional correcta".
Entretanto, nunca fui contactada pelo Dr. Adelino Salvado e eu fui colocando sempre a questão de ser melhor pôr o lugar à disposição. Disseram-me sempre que não, que o Dr. Adelino Salvado queria que eu fizesse parte da direcção dele…
Eu, hoje, até já tenho dúvidas de que seja assim tão admissível a constituição de equipas para desempenhar funções de comissão na Polícia Judiciária, porque penso que a Polícia Judiciária não pode estar sujeita a este vai e vem de programas e de pessoas. Isto é, de cada vez que há um director nacional há uma nova lei orgânica da Polícia Judiciária, há novos regulamentos, há tudo novo e, de facto, a certa altura, a própria Polícia Judiciária entra em desorientação e vêm à superfície muitos fenómenos que nada têm a ver com o combate ao crime - mas, enfim, isso já é produto da minha análise.
Na altura, achava perfeitamente legítimo que se escolhesse uma equipa, com prejuízo e com interrupção das comissões que estavam a ser desenvolvidas, sendo que a minha comissão era de três anos e eu estava a um ano e meio do fim da mesma.
Eu sabia que havia um encontro com a Sr.ª Ministra, no dia 23 ao fim da tarde, porque me tinham dito, para assentar definitivamente nos nomes da direcção, e tinha combinado, tinha pedido ao ainda meu director, Dr. Bonina, que telefonasse a dizer-me, de facto, o que é que eu devia fazer, porque tinha necessidade de esclarecer, de saber com que linhas me cosia.
A tarde foi passando, já íamos a meio da noite, quando me telefona o Dr. Bonina e me diz: "Está tudo resolvido e a direcção conta contigo, fazes parte da direcção". E eu peço: "Deixa-me falar com o Dr. Adelino, tenho de falar com o Dr. Adelino, tenho de saber o que é que se passa".
Portanto, aquela conversa passou-se também na presença - julgo eu - do Dr. Bonina, porque é ele que me pôs em contacto, por telemóvel, com o Sr. Desembargador, que, na altura, disse-me: "Não diga nada. Estou muito cansado. O que eu lhe quero pedir é que, aconteça o que acontecer, fará sempre parte da minha direcção e eu recuso-me a tomar posse…" - disse-me o Sr. Desembargador - "… se a Sr.ª Doutora se recusar a fazer parte desta direcção. Mas não diga nada.". E eu disse: "Bom! Isto parece tudo contrário à lógica, porque se me diz para eu não dizer nada é porque havia qualquer coisa para dizer mas, está bem, não é altura para discutir as coisas. Sinto-me muito honrada, muito comovida, muito exaltada até com a sua atitude e está bem, aceito, fazemos esse compromisso. Eu faço parte da direcção e, pronto, o Sr. Desembargador poderá tomar posse à vontade, porque eu não vou recuar neste compromisso". Ele disse-me: "Mas garanta-me, porque a Sr.ª Ministra não queria que fizesse parte da lista e eu disse-lhe que não tomava posse se a Sr.ª Doutora não fizesse parte da direcção".
Isto, disse-me o Sr. Desembargador a mim, foi a versão dele para mim dos acontecimentos. Mas, do Sr. Desembargador para mim, ele só tomava posse se eu aceitasse fazer parte da direcção. A razão de todo este dramatismo é porque havia alguém, e era a Sr.ª Ministra, que não queria que eu fizesse parte da direcção.
Ora, perante a atitude intransigente - terá sido, no dizer do próprio - do Sr. Desembargador, a Sr.ª Ministra… Não aceitou nem deixou de aceitar, porque era uma atitude intransigente, ele não tomava posse se eu não fizesse parte. Penso que, segundo ele me disse, a Sr.ª Ministra até lhe terá dito que ia pedir ao Sr. Procurador-Geral para me arranjar outro lugar qualquer, o que não faz grande sentido, porque eu estava numa comissão fora do Ministério Público mas… Atenção, isto é uma conversa por telemóvel entre o Sr. Desembargador e eu estou a relatar as palavras do Sr. Desembargador, mais nada! Não sei o que é que efectivamente se passou, sei o que se passou comigo.
Fiquei, como podem calcular, preocupada com tudo isto. No dia seguinte, de manhã, telefono ao Sr. Desembargador e, por mais patético que isto possa parecer, peço-lhe autorização para ir à tomada de posse, porque eu própria já não sabia se devia aparecer ou não na tomada de posse. A isto, ele disse-me "Sim, senhora, quero que, mais uma vez, confirme, reitere o seu compromisso" e eu respondo-lhe "Sim, senhor, eu não mudo da noite para o dia, a esse respeito não sou uma pessoa inconstante. Com certeza que continuo, mas peço-lhe para ir à sua posse". Ele diz-me "Vá mas não fale com os jornalistas" e eu respondo-lhe "Está bem, também não tenho o hábito de andar a falar com os jornalistas por tudo e por nada, só quando há alguma coisa de importante e de interesse público para dizer mas não é o caso, não é a altura para isso e gostaria de ir à sua posse". E assim foi.
A posse foi numa sexta-feira e a posse dos directores nacionais adjuntos terá sido depois, na segunda-feira.
Faço notar que eu não tomei posse, eu continuei a comissão, quer dizer, aconteceu que não houve cessação da comissão mas eu não tomei posse nenhuma. Não houve despacho nenhum, não houve nada, houve o continuar de uma situação administrativa funcional que se manteve em vigor, que não foi anulada.
No dia seguinte, no sábado, o Sr. Director Nacional faz questão de ter uma conversa comigo nas instalações da Alexandre Herculano, conversa relativamente à qual eu estaria até funcionalmente ansiosa. E eu coloquei-lhe a