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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Ahi não ha absolutamente nada, nem mesmo o projecto ou a tentativa de um seminario que ha de ser construido á custa da propria fazenda do prelado, e de um subsidio de 8000000 réis, como em Moçambique; ahi nem mesmo se trata de fazer arrendamento de uma casa, arrendamento que só se possa concluir em cinco annos. Ahi, repito, não ha absolutamente, nada.

Vamos a Cabo Verde. Eu de Cabo Verde não tenho informações officiaes. Sei só que do collegio de Sernache tem ido para lá missionarios.

Portanto, convenço-me de que o seminario de Cabo Verde tambem não está nas circumstancias normaes, que as necessidades do ultramar exigem. É este o estado dos seminarios nas colonias.

Olhemos agora para o collegio das missões ultramarinas, estabelecido em Sernache do Bonjardim.

Antes de tudo, eu tenho de declarar a v. ex.ª que qualquer palavra que eu porventura diga em desfavor d'este estabelecimento, não é inspirada nem remotamente pelo intuito de censurar o illustre prelado que o dirige cuja piedade e cuja sciencia eu reconheço, e a cujo merecimento presto homenagem do meu sincero respeito.

Conheço bem, e estou muito longe de pretender amesquinhar o zêlo e abnegação do sr. bispo de Bragança, director do collegio central das missões ultramarinas em Sernache do Bom Jardim.

Sei bem quantas diligencias e cuidados emprega em o dirigir acertadamente; e os senões ou defeitos que n'elle se encontram (tantos e taes que na minha opinião o collegio não corresponde por isso ao fim para que foi creado), ponho-os á conta da força dos: acontecimentos, e não da falta de attenção o disvellos do illustre prelado incumbido de o governar.

Posto isto, digo que o collegio das missões ultramarinas em Sernache do Bom Jardim está muito longe de corresponder ao seu fim. (Apoiados.)

Em primeiro logar não tem capacidade senão para 50 alumnos, alumnos que no collegio lêem de estudar as disciplinas preparatorias e as disciplinas theologicas. Quer dizer, o collegio de Sernache do Bonjardim só póde dar promptos em cada anno lectivo seis a sete missionarios. Mais não.

Ora calcule v. ex.ª, e calcule a camara o que são seis a sete missionarios para as seis, ou antes, sete, que hoje são, amplíssimas provincias que nós temos no ultramar.

É claro que este collegio não póde pelo acanhado das suas dimensões corresponder ao fim para que foi creado.

Disse que este collegio póde preparar annualmente apenas seis ou sete alumnos quando muito; mas de facto tem preparado menos n'este3 ultimos, annos. Segundo as affirmativas do illustre bispo de Bragança, na camara dos dignos pares, n'estes ultimos cinco annos, tem preparado vinte e seis alumnos, o que dá a media de cinco a seis por anno.

Cinco ou seis missionarios é muito pouco para as necessidades das nossas provincias ultramarinas.

Sei que, com o fim principal de alargar o numero dos alumnos destinados ás nossas missões, se submetteu ao exame d'esta camara um projecto que tem por fim crear um collegio filial no convento de Chefias, subordinado ao collegio central de Sernache do Bomjardim. Quando esse projecto entrar em discussão, hei de discorrer mais largamente sobre o assumpto.

Por agora só declaro que, agradando-me muito o pensamento fundamental que presidiu á sua elaboração, discordo, e discordo profundamente, em muita3 das suas disposições, do sentir do auctor. Mas, emfim, isto fica para mais tarde.

Voltando a fallar do collegio de Sernache do Bomjardim, notarei que este collegio, não só pelo acanhado das suas dimensões está muito longe de satisfazer aos fins para

que foi creado, mas ainda pelo modo por que está n'elle organisado o ensino; pelo local em que se acha estabelecido, e ainda pela falta de cadeiras que lá devia haver, e que infelizmente não ha.

No collegio de Sernache do Bomjardim ha o mesmo ensino para todos os, alumnos, qualquer que seja a colonia -para que os destinem.

Em minha opinião ha n'isto um erro e um erro grande. E note-se que isto não é censura, torno a repetir, e desejo que esta idéa fique, bem clara. Quando muito será divergencia do opinião entre mim e quem julgar o collegio bom organisado.

Soja licito a cada um pensar livremente, e livremente tambem dizer o que entende. Quanto a mim, a uniformidade do ensino no collegio de Sernache do Bomjardim, para todos os alumnos, é um systema mau. E não ponho os inconvenientes d'este systema á conta da responsabilidade da administração da casa, mas á conta da lei de 12 de agosto de 1856, que creou e organisou o collegio.

Em meu parecer os missionarios devem receber uma educação religiosa adequada ás circumstancias da localidade para onde são destinados. Nós temos do preparar principalmente missionarios para as nossas possessões da India e para as nossas possessões do continente da Africa.

As idéas, que vou apresentar, não são producto da minha phantasia, mas resultado do estudo consciencioso de muitos documentos, dos quaes não faço menção especial para não fatigar a camara.

Em muitos livros estrangeiros, porque os estrangeiros sabem mais d’isto que nós, tambem encontrei larga base para assentar a minha opinião sobre o assumpto.

Isto posto, direi que a preparação dos missionarios que nós houvermos de mandar para a índia, deve de ser muito differente d'aquella que precisam os que destinarmos ao continente da Africa. A instrucçâo e educação de uns não póde ser a dos outros.

Na índia temos numero consideravel de parochias, muitas das quaes estão occupadas por missionarios estrangeiros. Saro é o paquete que chegue á India, que não leve missionarios europeus, principalmente francezes e italianos. Creio até que ha uma companhia, Messageries impériales que ainda hoje dá passagem gratuita aos padres catholicos ¦• que queiram ir para o Oriente.

Ora, em regra, estes missionarios têem uma esmerada educação, não só theologica mas litteraria. (

O clero de Goa, ao contrario, não por culpa d'elle, que é muito intelligente e applicado, mas por falta de recursos e pelo3 defeitos dos seminarios da provincia, tem uma educação muito mesquinha, muito acanhada e muito inferior ás necessidades das missões do Oriente. D'ahi resulta que os indigenas filhos d'aquella provincia preferem aos padres seus patricios os padres europeus, que têem uma educação mais profunda e completa. Os goanos não estão tão atrazados como estão os africanos. A Africa está na sua infancia, sobretudo a Africa central.

E digo a Africa central, porque a austral já tem um um grande desenvolvimento, devido aos hollandezes e sobretudo aos inglezes.

Mas a índia não está, como a Africa, na sua infancia. A índia tem tradições gloriosíssimas, e sobretudo uma litteratura riquissima, mais rica do que nenhuma da Europa.

E não sou eu que o digo, é uma das auctoridades mais competentes no assumpto, é Lamartine no seu Curso do litteratura:

Nos tempos felizes, de que me recordo com saudade, o nos quaes a falta de saude, os desgostos e os cuidados me não tinham ainda quebrado o corpo nem assoberbado o espirito, quando eram mais larg03 03 meus ócios, e eu tinha mais vagar para ler e estudar, deliciava-mo durante horas e horas saboreando o poema Malahabarata, escripto primi-