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10 ANNAES DA CAMARA DOS DIGNOS PARES DO REINO

posto triunfo é ephemero, de que o seu poderio é transitorio? E depois? Não prevê o que lhe possa acontecer? Calcula que pode calcar as aspirações de uma nação inteira e que este estado de cousas pode durar muito tempo? E assombrosa a sua ingenuidade, é lamentavel a sua cegueira! Como pode imaginar que ha de governar muito tempo contra a vontade da nação?

Convence-se de que a opinião está a seu lado! Só uma verdadeira allucinação é que lhe não deixa ver o seu erro. Triste gloria a do Sr. João Franco!

Ainda ha pouco, adorado por uns, estimado por outros, indifferente aos restantes, é hoje odiado, escarnecido e execrado pela nação inteira.

Quanto não lhe teria sido mais util se tivesse caido quando não quis cumprir o seu programma.

Voltaria em breve tempo; assim, para viver mais uns dias, enterrou-se para nunca mais resuscitar. Morre politicamente odiado por todos, e nunca mais ninguem o acreditará, faça o que fizer, diga o que disser.

É com a alma repassada de pesar que lamento o seu estado pathologico, pois só com as faculdades alteradas se pode explicar tanta loucura e sem utilidade, nem para si, nem para o país, nem para o Rei".

Eu terminava a carta da seguinte maneira:

"Vá-se embora, já que não sabe governar com a lei, já que não sabe governar com a Constituição. Vá-se embora, já que não sabe governar senão a tiro, já que não sabe governar senão matando. Vá-se embora, porque não tem direito de nos trazer a todos com o espirito sobresaltado e inquieto".

Sr. Presidente: como V. Exa. vê, e a Camara, previ os acontecimentos com sete meses de antecedencia.

O Sr. João Franco devia ter abandonado o poder quando não póde ou não quis cumprir o seu programma.

Mas a sua ambição de mando não lhe deixou ver os perigos que corria, que eram previstos por toda a gente.

Cegou-o o gloria que suppunha ter alcançado e perdeu-se, perdendo o Rei.

Sr. Presidente: não era a ambição politica, que nunca tive, que me fazia escrever d'aquelle modo; era a convicção profunda de que caminhavamos para um precipicio.

A minha ambição unica era chegar a esta Camara, a que muito me prezo de pertencer.

Não é pouco, mas nos tempos que vão correndo vê-se que, quando se attinge a meta que cada um desejava, outra maior logo apparece. É raro que cada um esteja satisfeito.

Ainda bem que ha gente que tem aspirações, que caminha para um fim, que tem um norte, um ponto de mira. Eu já pouco poderei fazer, mas, ainda bem que ha muita gente com aspirações de governar o país, e que se julga com saber e competencia para tão elevadas funcções.

Nas conversas particulares aponta-se muita gente que, dizem, quer ser Presidente do Conselho, que se julga com envergadura para salvar a patria.

Ouço dizer que ha pelo menos oito politicos, não incluindo os chefes dos partidos, que teem a ambição, aliás legitima, de desempenhar tão elevado cargo.

Ainda bem que o nosso país tem tanta gente a tal altura.

O Sr. Arroyo, que fala sempre com muita graça, com muito talento, com muita elevação, dizia no outro dia aqui que os dois partidos não valiam dois caracoes, querendo assim amesquinhar os dois partidos e os pobres caracoes. V. Exa. julga que os caracoes não teem importancia? Engana-se. Teem importancia, e muita.

Valem bastante, são muito succulentos e alimenticios e teem ainda outras propriedades muito apreciaveis.

Eu sou da provincia do Algarve, onde se comem muitos caracoes, e V. Exa. se nunca os comeu não sabe o bom que é.

Mas o Sr. Arrojo, que quando fala tem sempre muita graça, é muito pittoresco, deixou-nos no outro dia encantados com os caracoes.

Eu logo mais alguma cousa direi sobre os caracoes. Agora basta que o Sr. Arroyo saiba que os caracoes não são tão inuteis como S. Exa. suppõe, e portanto o simile que quis fazer dos partidos não tem cabimento.

Se aquelles que pretendem amesquinhar qualquer cousa dizem que não vale dois caracoes, é que não sabem qual o valor d'estes animaezinhos.

Sr. Presidente: Era grande, como disse, o terror que se tinha apoderado dos espiritos. Só o Governo não via o perigo que as suas medidas iam produzindo.

Parecia que todos estavam a viver no Olympo, para poderem continuar indifferentes ao rugir da tempestade que se desencadeava.

Não falei com o Sr. João Franco, e tive pena, mas depois de certo tempo eu não me approximava d'elle. Constava pelos seus amigos que o Sr. João Franco não tratava ninguem bem. Estava muito irrascivel e até se dizia que para os seus collegas e para os seus mais dedicados correligionarios era muito desamoravel.

Eu sou muito cioso da minha dignidade e do meu nome, que me custou o meu trabalho a adquirir e a firmar, e não supporto que ninguem me trate com falta de paciencia. Quando prevejo que isso pode acontecer, afasto-me e não incommodo com a minha presença.

Sr. Presidente: eu tinha muita razão no que profetizava, porque conhecia o estado da opinião. O que eu escrevi não representava má vontade, nem odio ao Sr. João Franco.

Eu não odeio ninguem. Não sinto odio absolutamente por pessoa alguma. Tenho as minhas divergencias de opinião, mas não odeio. Não sei se sou odiado por alguem; se assim é, perdoo-lhe.

Tenho pena de ver um homem d'aquelle valor na situação em que elle se encontra.

Sr. Presidente: ainda varios artigos escrevi no Correio da Noite sem assinatura. Nenhum d'elles chamou á razão o Sr. João Franco nem os seus seis collegas.

Eu, na minha pequenez, empregava todos os meios possiveis para ver se conseguia qualquer modificação naquelle estado de cousas, para ver se conseguia que o Governo se fosse embora para socego de todos nós.

Quando o actual Governo subiu ao poder, estavam os espiritos perfeitamente anarchizados, ninguem sabia para onde se devia dirigir.

Ninguem sabia qual o caminho que devia tomar.

Este Governo tem prestado incontestavelmente grandes serviços á nação.

Tem acalmado os espiritos, que estavam alarmados, tem socegado com muita cautela e com muita brandura e muita ponderação.

Merece o meu applauso, porque é assim que se governam os povos.

O país deve ser governado com a serenidade possivel, com o maior criterio, com a maior circunspecção.

Fontes Pereira de Mello, o illustre chefe do partido regenerador, dizia que a força se representa pela figura de uma mulher de braços cruzados.

Os Governos só devem usar da força em casos excepcionaes, quando for absolutamente imprescindivel.

Sr. Presidente: consta-me que está muita gente zangada commigo, pela maneira porque eu me referi em uma