O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO N.º 9 DE 25 DE MAIO DE 1908 7

que o atirem pela borda fora para outro ir tomar o commando que está em boas mãos.

S. Exa. conhece bem quem são os zangãos da politica que o querem alijar. Defenda-se que não lhe falta quem o auxilie e o ajude a levar o navio a bom porto.

S. Exa. sabe bem onde estão, na carta nautica da politica, os escolhos; estão bem marcados os cachopos para se desviar, não deixe ir o navio de encontro a elles, previna-se e acautele-se, dê fielmente prova de que é uma pessoa experimentada e sabe navegar no mar furioso da politica como sabe navegar nos oceanos revoltos.

S. Exa. não é do meu partido, mas desejo tanto que S. Exa. se conserve no poder, como se fosse o meu partido que ali estivesse, porque ha muitos annos que pugno por um Governo que salve o meu país, governe com a lei, com liberdade e com moralidade e tenha muita cautela na applicação dos dinheiros publicos, porque o dinheiro do contribuinte é mais do que o seu sangue, é a sua vida, é o seu suor, é o seu labutar de todos os dias, de todas as horas.

Para entrar nos cofres do Thesouro os dinheiros do contribuinte, custam muitas lagrimas, muitos sacrificios, muitos desgostos e muitas inclemencias.

Lembre se S. Exa. que os impostos entram aos tostões e aos mil réis e saem muitas vezes inadvertidamente ás dezenas e até centenas de contos de réis.

O país merece que haja a maior moralidade e economia na administração dos dinheiros publicos, que se trate de desenvolver a sua riqueza, que se proteja a agricultura, que se dê protecção ás artes e industrias, que se mantenha a paz e o socego publico para poder trabalhar sem receio do seu futuro. O Governo, no meu entender, ainda não desmereceu da confiança publica. Conta com todos os elementos constitucionaes para governar. Tem maiorias disciplinadas e enormes nas duas casas do Parlamento, tem a confiança da Coroa, tem a opinião publica a seu lado porque nada tem feito para a perder.

Porque é então que deve cair?

Ainda hoje li um jornal, a - Lucia, - porque eu leio jornaes de todas as parcialidades politicas - não me convencem, mas gosto de os ler, como gosto de ver reunidos em minha casa cavalheiros de todas as parcialidades politicas: republicanos, nacionalistas, regeneradores, progressistas, é claro, e com todos discutimos amavelmente e á boa paz.

O Sr. Conde de Arnoso: - Tambem anarchistas?

O Orador: - Esses não! Os anarchistas são feras, e as feras não entram em minha casa. (Risos).

Mas, como ia referindo, a Lucta de hoje diz:

"Crise - Hontem, por desfastio, falava-se muito em crise ministerial. Os boatos do costume. O Sr. Ferreira do Amaral, que todos os dias se offerece para deixar o Governo, quando todos lhe pedem que fique, é homem para se conservar na Presidencia do Conselho, firme como uma rocha, quando lhe disserem que se vá embora".

Sr. Presidente, até os republicanos entendem que o Governo se deve conservar. E deve. É o seu dever, a sua obrigação.

Um militar brioso quando lhe confiam um posto de honra não o abandona senão na ultima extremidade.

Tomou o Sr. Ferreira do Amaral conta do Governo á queda do Sr. João Franco, que no seu ultimo periodo fez uma politica de odios, de rancores, de perseguições, de violencias, de atropelos, de ameaças e de terror.

Este ultimo periodo do seu Governo foi um verdadeiro sobresalto para o país. Parecia ter resurgido o Governo de D. Miguel Só faltou a força e o confisco aos nossos bens, mas se lhe dessem tempo lá chegariamos.

Na primeira phase da administração de S. Exa. fui eu um seu fervoroso admirador, e bastantes vezes aqui na Camara o defendi com o maior enthusiasmo.

Numa occasião dirigi-lhe palavras de tal louvor, tão encomiasticas, que um dos nossos collegas mais distinctos, que me honra com a sua amizade, e que aliás tem toda a confiança commigo, me disse que tinha pedido lápis e papel para as apontar, e disse para um vizinho do lado: "ainda hei de esfregar o nariz do Machado com as palavras que acaba de proferir".

Pois confesso que, se o Sr. João Franco tivesse continuado no poder, teria de confessar que, para vergonha minha, era verdade tudo quanto aquelle nosso distincto collega affirmava, e que me tinha enganado com as promessas que durante tanto tempo e em toda a parte o Sr. João Franco fizera.

Eu só tive a culpa de suppor que não podia haver um homem que, perante o país, fizesse affirmações tão categoricas para faltar a ellas, sem causa, sem motivo, sem justificação.

O nosso distincto collega tinha razão; eu fui um crente, e elle um vidente.

Mas é preciso confessar que o Sr. João Franco na sua primeira phase governou bem, e foi nesse periodo que eu o apoiei calorosamente.

Logo que elle se lançou na desordenada carreira da ditadura, não era difficil, Sr. Presidente, a quem não fosse leigo em politica, e a quem conhecesse alguma cousa da historia, calcular qual seria o resultado de tantas loucuras.

Havia decerto dar o mesmo resultado que deram, no nosso país e nos outros, processos analogos.

O Sr. Julio de Vilhena, com a perspicacia que todos lhe conhecem, previu os acontecimentos.

Profetisou S. Exa. que, se não se parasse no caminho desordenado por onde o Governo seguia, terminaria, ou num crime ou numa revolução.

Toda a gente de tino previa isso, e aconselhada El-Rei que parasse a tempo, e quando não quisesse que ao menos abdicasse para salvar a sua dynastia e o país de grandes calamidades.

Melhor fôra que o Sr. D. Carlos I tivesse abdicado quando lh'o aconselharam, melhor fora!

Não teriamos a esta hora a lamentar tão tristes acontecimentos!

Mas estava escrito no livro dos destinos que o Sr. D. Carlos havia de perder a vida por causa da teimosia do Sr. João Franco.

Sr. Presidente: eu aprecio os factos conforme o meu criterio, e já vou demonstrar que previ tambem as desgraças que se deram.

Fechou-se a Camara dos Senhores Deputados, abruptamente, quando um illustre membro d'esta casa, o Sr. José de Azevedo, tinha a palavra sobre a questão dos vinhos. Ficou em meio do seu discurso.

Porque foi isto?

Porque na Camara dos Senhores Deputados se quis tratar da questão dos estudantes de Coimbra.

Então se o Parlamento não ha de servir para tratar questões d'esta ordem, o melhor é irmo-nos embora Nas Côrtes devem-se tratar todos os assuntos que interessam á causa publica.

O país estava agitadissimo com a greve dos estudantes de todas as escolas originada por factos academicos succedidos na Universidade de Coimbra e aggravados pela teimosia do Sr. João Franco, que queria levar tudo a golpes de audacia e a actos de força.

A todos os actos de prudencia que lhe aconselhavam, respondia: nada; é necessario um acto de força.

E a final com um bocadinho de paciencia e de cautela tinhamos chegado a bom resultado.

Bastava que o Sr. Presidente do Conselho desse uma sessão para tratar d'este assunto.

Não se lembram V. Exas. d'aquellas celebres sessões de 1886 e 1890, quando o Sr. José Luciano foi pela primeira vez Presidente do Conselho?

Alguma vez S. Exa. pensou em fe-