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Sessão de 10 de Dezembro de 1918 9

prensa inglesa, que caíram alguns Ministérios e alguns Ministros, reputados incapazes para conduzir a vitória o grande povo inglês.

Nos Estados Unidos da América sucedeu outro tanto. A censura política nunca existiu. Wilson, uma das primeiras cousas que fez foi declarar que não necessitava dela para fazer a guerra.

Eu agora vou referir à, Copiara um facto passado no Brasil, que revela perfeitamente um estado de civilização. Havia no Rio de Janeiro um jornal chamado Correio da Noite. Era de feição panfletária e excedia-se, talvez, no uso da liberdade de imprensa. Xá presidência da República estava o Sr. Afonso Pena, que recomendava, para seu sucessor, determinado candidato. O Correio da Noite defendia a candidatura do marechal Hermes. O almirante Alexandrino de Alencar, Ministro da Marinha, defendia a candidatura apresentada por Afonso Pena.

Um dia constou na redacção do Correio da Noite que a maruja iria assaltar êsse jornal. E sabe a Câmara o que fez o ilustre jornalista Orlando Correia Lopes, que dirigia êsse jornal? Armou os seus redactores e todo o seu pessoal com carabinas, e chamou a polícia para o proteger. E a polícia chegou ao Correio da Noite Q pôs-se ao lado dos jornalistas que se tinham armado, para defender a sua propriedade contra os assaltantes. Êstes chegaram à esquina da rua onde estava instalada a redacção do dito jornal, mas não se atreveram a assaltar o jornal. A propriedade foi respeitada e os princípios mantiveram-se íntegros e intangíveis. Do que se passa em Portugal escuso de apresentar o contraste. A Câmara conhece-o tara bem como eu, e sabe como a liberdade de imprensa é tratada entre nós. Essa liberdade é uma cousa que chega a ser irrisória. (Apoiados).

Ninguém pode dizer nos jornais o que pensa da vida política portuguesa. Os Srs. Ministros são intangíveis. (Apoiados). Ninguém pode censurar os seus actos, e levam o exagero ao extremo de não permitirem que em jornais portugueses apareçam referências a pessoas e a factos do estrangeiro, que nos jornais estrangeiros vêm narrados com uma largueza que só tem os limites que os jornalistas lhes fixam. (Apoiados).

No actual momento é discutido largamente em Espanha o procedimento dos homens públicos que dirigem êsse país. Pois nos jornais portugueses não são permitidas referências a êsses debates e discussões e nas redacções dos mesmos jornais juntam-se montanhas de telegramas sôbre as questões da Catalunha, das Vascongadas e da Galisa, que não podem ser 1 publicados por a isso se opor a censura.

O Sr. Cunha Lial (interrompendo): - E porque têm medo do exemplo da Catalunha!

O Sr. António Cabral (interrompendo}: - Não é por isso. E porque na Espanha há uma monarquia e em Portugal temos a República.

Apartes.

O Orador: - Há monarquias onde a desordem é mais profunda que em muitas Repúblicas.

Já me referi ao que se passa em Espanha. Em Inglaterra, ao discutir-se a momentosa questão da Irlanda, os irlandeses faziam exercícios militares e a imprensa noticiava-os, porque a lei inglesa os não proibia, pois não se tratava dum crime.

Sr. Presidente: V. Exa., que é a garantia dos nossos direitos nesta Câmara e é, certamente, a sentinela vigilante das nossas regalias, decerto já empregou as devidas diligências para impedir que os extractos parlamentares sejam cortados nos jornais.

Mas, ainda assim, pregunte a V. Exa. se esta violência inaudita (Apoiados) continua a ser permitida, para que nós, Deputados, continuemos a reùnir em sessão secreta, porque sessões secretas são todas aquelas de que a imprensa não pode ocupar-se livremente. (Apoiados).

E onde fica assim o prestígio da presidência?

Vozes: - Muito bem, assim é que é!

O Orador: - Sr. Presidente: vive-se em Portugal num abominável regime de censura. (Apoiados).