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Sessão de 7 de Fevereiro de 1919 9

Devo dizer que não pedi êsse lugar, pelo contrário, recusei-o terminantemente, e já por três vezes pedi a demissão.

Tanto da primeira como da segunda foi-me negada a demissão pelo Sr. Presidente da República e até alguns membros do Govêrno foram ao meu gabinete instar comigo para ficar.

A terceira vez foi ontem. Abandonei o lugar porque o Sr. Ministro da Instrução, servindo rivalidades pessoais, pôs o seu despacho ao serviço dessas rivalidades.

Mando para a Mesa uma nota de interpelação e desde já devo dizer que tenho muito, tenho muitíssimo de tratar de casos muito edificantes, porque aquele estabelecimento, no estado em que o encontrei, e no estado que está actualmente, constitui uma das mais características vergonhas nacionais no regime republicano e no regime monárquico.

Se o Sr. Adelino Mendes tinha intenção de magoar-me, fazendo certas insinuações, devo dizer-lhe que não o conseguiu.

Tenho dito.

O Sr. Costa Cabral: - Sr. Presidente: ao falar, pela primeira vez, não quero deixar de cumprir o dever de associar o meu voto aos que de toda a Câmara V. Exa. tem recebido, de congratulação por ver uma figura de tal estrutura moral, numa idade em que a maioria descansa, presidir e guiar os trabalhos da Câmara, figura que a todos se impõe e a mim sugere uma rendida homenagem de admiração.

Sr. Presidente: não sei como a Câmara vai receber, uns projectos minúsculos que vou ter a honra de apresentar à sua apreciação. Dizem respeito a uma cousa bem comesinha na nossa terra: a instrução. Mas, comesinha como é, fraca e débil a minha voz ao pronunciá-la, todos nós, portugueses de hoje a devemos pronunciar e ouvir com a unção e recolhimento com que o árabe celebra a sua oração da tarde.

Não sei se tanto professor ilustre que pertence a esta casa, se tanto parlamentar amigo do seu país lhes darão o seu voto.

O que eu sei, o que eu quero dizer daqui, gritar, aos portugueses mais surdos, aos mais atacados de cegueira, aos mais enfurecidos nas lutas da política, é que ou encaramos de frente o problema da instrução ou viveremos da mercê que o mundo nos quiser dispensar, se assim pudermos continuar a viver. Sim, porque os valores reais duma grande ou duma pequena nação não estão no número, nem na grandeza dos seus canhões, na imensidade dos seus territórios, nem até no formigueiro inexaurível das suas populações, mas na simples valorização dos cérebros que colectivamente nela operam para se impor à consideração geral.

"O poder da Inglaterra - bradava há pouco no Parlamento inglês Mr. Fisher, sem Ministro de Instrução - não está só no braço de ferro das legiões inglesas que se batem fora da Pátria, nem no braço de bronze que realizou a maravilha do bloqueio da marinha britânica, mas no cérebro da mocidade inglesa, que é preciso amoldar, remexer, valorizar, robustecer, para vencer e predominar".

Não há nenhum povo culto que, primeiro que todos os problemas nacionais, absolutamente todos, não ponha, dominando-os, o da instrução.

Não fora a Escola, e a Alemanha, grande e poderosa, não teria resistido um mês ao rebentar de ódios que criou; não fora a Escola, e a Bélgica, pequena o laboriosa, não anteciparia o golpe que salvou a Europa.

Entre nós, não sei como hei de dizê-lo, a vergonha, a vergonha máxima, a vergonha das vergonhas do escalracho do analfabetismo, não só se não extingue como alastra, alastra e cada vez alastra mais.

Vergonha das maiores! Vergonha máxima! E, Sr. Presidente, eu, que abençoei a implantação da República como um regime que apagaria essa nódoa, essa vergonha no mapa da Europa, êsse travão do nosso desenvolvimento, das energias admiráveis da nossa raça, não sei por que infernal propósito do destino tenho visto a instrução de mal a pior, de mal a pior cada momento que decorre.

Sim, com a criação do Ministério da Instrução, a estada neste Ministério de tantas pessoas ilustres, sábias entre as mais sábias, do meu país, inteligentes entre as mais inteligentes, por vezes, mercê de tantos encómios, parece que até atingindo as raias do génio, verdadeiros gé-