O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 10 de Fevereiro de 1919 13

O Sr. Presidente: - Em vista da votação da Câmara está em discussão esta proposta.

O Sr. Amâncio de Alpoim: - Sr. Presidente: os monárquicos estão no Pôrto! Parece que se torna necessário repetir com frequência esta dolorosa verdade para que alguns Srs. Deputados a recordem, suspendendo seus ataques ao Govêrno, que defende a República, quando tantos a atacam pela insídia, pela traição e pelas armas.

Êste grito: "Os monárquicos estão no Porto!" deve ser na nossa boca um ritornelo semelhante àquele que no Parlamento e no jornalismo francês apareceu quando os prussianos se colocavam em impetuoso avanço quási às portas de Paris.

Sempre que um reduzido grupo de exaltados, parecendo desconhecer a iminência do assombroso perigo nacional, levantava na Câmara francesa irritantes questiúnculas partidárias, a voz do bom senso gaulez recordava-lhe, em grita, que essas mesquinhas questões surgiam inoportunas, desastradas, pendant qu'ils sont à Noyon...

Os prussianos de cá, os germanófilos que, para nossa vergonha e opróbrio, a Pátria portuguesa ainda contêm nas suas fronteiras, os monárquicos estão no Pôrto! Se alguém da Câmara ainda o não sabe, Sr. Presidente, eu peço a V. Exa., republicano e português de sempre, que faça escrever em formidável dístico na branca parede da nossa sala a dolorosa, a cruciante verdade, dêste clamor de advertência.

Sejam repetidas constantemente estas palavras pelo bom senso dos portugueses, merecedores do nome, que repelem e sacodem enojados toda a cumplicidade, directa ou indirecta, com a miserável e assassina obra de traição que a monarquia tentou realizar em Monsanto e consumou no Pôrto.

Morrem nos momentos que estão passando soldados de Portugal fuzilados pela traição couceirista em Lamego e nas margens do baixo Vouga.

Pense neles a Câmara, pensem neles os Srs. Deputados e consuma o calor das suas palavras, a ardência dos seus entusiasmos, enviando desde aqui, em sentido e apaixonado clamor, o testemunho da nossa gratidão, do nosso respeito e admiração aos heróis da República que vertem seu nobre sangue na luta com os fanáticos realistas.

Trabalhemos para êles, facilitemos-lhes a vitória na medida das nossas fôrças, no campo das nossas actividades; e se houvermos de chorar, Sr. Presidente, caiam as nossas lágrimas sinceras, justas, sentidas sôbre os arrefecidos corpos dos nossos irmãos na Pátria e na República, que em Monsanto, como na Beira e no Douro e em Trás-os-Montes, perderam a luz do dia e os sonhos da sua alma na defesa abençoada do ideal republicano.

São êles tantos, Sr. Presidente, é tamanha a legião dos sacrificados e dos torturados, dos heróis e dos mártires, que não chegarão nossas lágrimas para lavar piedosamente o sangue das suas feridas.

Não temos tempo, não devemos tê-lo, os parlamentares da República Portuguesa, para pensar nos outros, naqueles que arremessados da treva e da embuscada pretendem anavalhar a República e, repelidos a tiro, escabujam agonias sôbre a terra da sua Pátria, que não souberam amar.

Conservemo-nos de pé, sem rancor, mas sem piedade; sem ódio, mas com justiça, perante os inanimados corpos dos que parecem vitimados nos torvelinhos do embate que êles próprios provocaram. Há vítimas, há mártires nas fileiras da República! Vá, meus senhores, sem vergonha, com orgulho, ajoelhemos perante êsses! E, se o tempo nos sobrar, lamentaremos o fanatismo que estonteou e perdeu os nossos adversários. Mas só depois! Mas só de pé, com olhos enxutos, como serenos juizes.

Ouvi hoje, Sr. Presidente, - só os meus ouvidos não me enganaram - ouvi dizer nesta casa que o assassinato do Sr. Jorge Camacho era um crime que envergonhava a República.

Ah! meus senhores; como sinto o coração apertado pela garra do desespero ao pensar que nesta Câmara há bocas de republicanos empregando palavras na tareia de mal dizer da República, quando ela estremece sacudida por um supremo e ignominioso assalto!

Quando ela carece do nosso auxilio, da nossa dedicação, da nossa lialdade, não