O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

16 Diário da Câmara dos Deputados

Os confessos monárquicos redactores dêsse jornal casaram no seu espírito as duas ideas, convencidos decerto de que a cruz, a cuja sombra todos cabemos, lhes pode servir de valha couto para evitar a legítima e justa repressão dos seus manejos.

Fale-lhes o Govêrno alto e claro, sem usar hipocrisias nem consenti-las.

Diga-lhes que a República, no exercício do seu legítimo direito de defesa, não consente vozes de monárquicos dentro das suas trincheiras.

As conversas agora são nas margens do Vouga...

E se porventura o jornal insisto na sua mesquinha política, consumindo colunas e colunas, como até aqui tem feito, em apaixonada e desfavorável crítica aos homens, partidos 3 instituições da República, caia sôbre êle o impiedoso castigo do silêncio, para que venham outros, menos desorientados por paixões mesquinhas, defender os legítimos o elevados interêsses dos católicos a cujo grémio, eu republicano, também pertenço.

Respeitemos a Fé sincera e pura que não conhece nem consente especulações políticas.

E dever êste de todos os republicanos, mesmo daqueles que não possuem crenças religiosas.

Mas sejamos impiedosamente justiceiros com os mascarados da monarquia - franco-atiradores que ousam poluir com o eco de profanas discussões e lutas as arcadas do templo de onde Cristo expulsou os vendilhões.

Apresento o exemplo, Sr. Presidente, para que a Câmara reconheça até que ponto de insidiosa ferocidade e audácia chegou o assalto monárquico.

Temos diante de nós uma cerrada fileira de inimigos que nos atacam, mas, ainda mais perigosos do que êstes, vivem e medram, actuam e falam, ao nosso lado, entre nós, inimigos que, disfarçados ou encobertos, aguardam e preparam o trágico momento da vingança e do mal.

São êstes os que dão agasalho e vulto às queixas e recriminações contra a República que combate e triunfará. São estes os que choram lágrimas de crocodilo sôbre o inanimado corpo do capitão Jorge Camacho, e não têm um soluço, nem um gesto de piedade, perante as vítimas de S. Julião, de Monsanto, do Aljube ou das linhas do Vouga.

Perdõem-me os Sr s. Deputados que ao assassinato do Terreiro do Paço se referiram o calor das minhas expressões. Não vai para êles a menor censura, que a não merecem, nem eu teria direito de a formular. Protestaram de boa fé; e se houve quem levou longe do mais o seu protesto, êsse será o primeiro - convencido estou - a reconhecer o exagero.

O crime que agora em Lisboa se praticou é um acto individual, semelhante a muitos outros, mais ou menos repugnantes que o noticiário dos jornais nos aponta todos os dias. E horrível esta matança de um preso político, mas o homem que a realizou está, como tantos outros criminosos, entregue aos poderes competentes para instrução do seu acusador processo. Não devemos desnortear nem desvirtuar a acção serena do Poder Judicial, ao qual o julgamento dêste criminoso pertence, sem nossa intervenção, e muito menos coacção.

Julguem os tribunais aqueles que assassinam, sem distinção de partidos, monárquicos ou republicanos. A nossa tarefa é outra, pelo momento bem simples na sua incontestável lógica.

Sem exageros sentimentais pelo sofrimento dos nossos inimigos, unâmo-nos todos, esquecidos os dissídios e estultos rancores do passado, em torno da sagrada bandeira verde rubra da República e da Pátria. Lá virá o dia da luta entre as ambições pessoais. O destino o tenha longe, que êle por má sina há de vir! Então aqueles que estimam e pretendem retalhar-nos ao sabor das suas vaidades, conveniências e más paixões surgirão de novo, tolerados e consentidos, na ensombrada arena da política mesquinha. Por ora não, que ainda não é tempo! A Pátria e a República carecem de nós todos; estendamos-lhes as mãos lialmente ocupando-as apenas do esfôrço de as defender. Agora vivemos as horas da justiça. Depois, mas só depois, virão as horas da Misericórdia!

O Sr. Ministro da Instrução Pública (Domingos Leite Pereira): - Sr. Presidente: ao usar da palavra pela primeira vez nesta Câmara, apresento a V. Exa. as minhas saudações.