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14 Diário da Câmara dos Deputados

há o direito de lhe substituir os esfôrços por censuras, e os merecidos elogios, por injustificadas recriminações. Envergonhada a República?! Olho, bem para ela. Vejo-lhe na mão a espada com que a todos e à Pátria nos defende, não lhe diviso o punhal dos assassinos monárquicos. Só traz sangue nas roupagens é dos seus inimigos, que em bom e lial combate está ferindo e vencendo.

A República não assassinou. Há um homem que pareço ter assassinado o Sr. Jorge Camacho, e a República, reprovando o criminoso gesto dêsse alucinado, como nós todos o reprovamos, lançou mão dele, e justiceira, inflexível, mantêm-no numa prisão aguardando seu castigo.

Onde está aqui a vergonha?!

Que partido político que instituição pode sofrer acusações, baseadas no gesto, desnorteado e criminoso dum fiscal de subsistências que, por seu risco e por sua conta, sem instigações, nem cumplicidades, realizou um desgraçado e reprovável homicídio?!

Apelo para a consciência, apelo para a boa fé do todo o país que, através da imprensa, nos escuta. Êle, com certeza, dará razão às minhas palavras, e reprovando o negregado crime, cometido contra um indefeso prisioneiro, louvará a serena justiça do Govêrno que cerra a porta duma prisão sôbre aqueles que assassinam os inimigos da República.

Iluminava-se de alegria a minha alma deslumbrada pelo contraste entre a luz que nós representamos e a treva que os outros, os de lá, representam.

Que péssima ocasião se escolheu, Sr. Presidente, para lançar culpas e cargos à República justiceira e combatente!

Ainda há pouco vibraram de indignação as vozes dos Srs. Deputados Cunha Lial e Adelino Mendes, contando-nos as infâmias e as. torturas a que, nas prisões de S. Julião da Barra, em Lisboa, e do Aljube, do Pôrto, foram sujeitos os presos republicanos. Surge o contraste assim, esmagador, indesmentível.

Vejam e reconheçam, Srs. parlamentares da República, com enlevado orgulho, formidável diferença.

Vejam! E depois deixem aos nossos inimigos, porque a êles só pertence, a vã e inglória tarefa de nos assacar crimes e defeitos que não praticados nem possuímos. Êles sabem fazê-lo: inventam, insidiam, intrigam, caluniam.

Abusando da nossa tolerância de republicanos, confiados na falta de repressão que a nossa brandura lhes concede, inventam e espalha mentirosas afirmações que nos rebaixem, intrigas que nos dividam. Estão no seu miserável papel. Não os auxiliemos.

Recordem, meus senhores: em Monsanto, foram fuziladas, depois de presos, um oficial e um soldado da guarda republicana, que se recusaram a combater ao lado dos revolucionários realistas...

O povo do Lisboa, que heroicamente assaltou o traiçoeiro reduto, foi encontrar os dois mártires, assassinados, não por um desnorteado e quási analfabeto fanático republicano, mas por um conselho de oficiais monárquicos, chamarrado de galões.

O soldado, vítima obscura do dever e da honra, tinta as mães amarradas atrás das costas...

Manietaram-no para o assassinar!

Esta sim!

Êste é o crime duma cansa; é o crime dum partido que, piamente, sem piedade e sem respeito humano, ordena uma trágica matança.

Como recompensa do seu gesto cobardíssimo os carrascos do Monsanto, receberiam decerto da monarquia triunfante galões para seus braços de assassinos, espórtulas para as suas mãos ensanguentadas.

A República, entretanto, prendeu e vai julgar o homem que assassinou o monárquico Camacho...

Vá! Surja alguém que se atreva a desmentir o contraste!

Não o há dentro, desta casa, com certeza!

Olhem para o Pôrto.

Vejam o que lá se passa; vejam o que se passou.

Andaram por ali monárquicos que, para esfarrapar a bandeira da República se envolviam nela, assassinando a tiro, chicote e cacete, no silêncio nocturno das ruas e no segredo das prisões.

V. Exas. sabem, como eu, as consequências que deste miserável trabalho lhes derivavam...

Recebiam dos seus instrutores e chefes, monárquicos confessos ou disfarçados, a paga de quinze tostões diários!