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16 Diário da Câmara dos Deputados

Não é tudo isto extraordinário?

Não revela tudo isto o caos em que se encontra a administração pública, e beis assim que a nossa Legação de Madrid estava dentro ao negócio perfeitamente às escoras, sem detalhes nenhuns para fiscalizar essa operação?

E vêm então dizer que levantamos campanhas de moralidade para favorecer os nossos amigos?

Não, Sr. Presidente. O nosso fito é mais alto; é que esta documentação vem provar o caos completo dos negócios públicos em Portugal, o de há muito que se levanta o brado da nossa indignação, p ara que se não façam negócios como êste. Oxalá, os nossos ministros e encarregados de negócios fiscalizem de futuro melhor, e não pela maneira desleixada como esta questão o foi.

Sr. Presidente, vê-se, por êste telegrama da Legação em Madrid,, que ela em Madrid não sabia se as operações estavam ultimadas; ela, segundo as ordens emanadas das repartições de Portugal, só deveria entregar o dinheiro mediante conhecimentos de embarque, quando tivesse a absoluta certeza de que o arroz ora um negócio arrumado, e que viria para. Portugal, Mas o Sr. Augusto de Vasconcelos enviou o resto do dinheiro, para quê?

Eu irei a essas contas, e é muito interessante o comentário que sôbre êsse facto farei; mas, vamos adiante, para não complicar a questão.

Sr. Presidente, passados dias é o Sr. Augusto de Vasconcelos quem dê motu próprio envia para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em 31 de Junho, a seguinte telegrama:

"Casimiro Reis, cumprindo ordens do Govêrno Português, suspendeu as suas operações, vai caminho de Lisboa, e são razoáveis os seus. propósitos".

Casimiro Reis vem a Lisboa, mas julga V. Exa. que êle se dirigiu ao Ministro do Trabalho ou à secção das Subsistências. Públicas, para tratar do seu contrato?

Não, Sr. Presidente.

Dirigiu-se, a mais alto; Casimiro Réis está na alta.

Casimiro Reis, traz uma carta do Sr. Augusto de Vasconcelos, e é introduzido, no Paço de Belêm, perante o Sr. Bernardino Machado, então Presidente da República.

Naturalmente, o Sr. Augusto de Vasconcelos, homem muito culto, quiz armonizar o negócio do arroz com os termos da Constituição, visto que é o Sr. Presidente da República o encarregado dos negócios estrangeiros.

Mas, eu não sei nem quero saber o que se passou, o que se conversou no Paço de Belêm, entre o enviado plenipotenciário do arroz e o Sr. Presidente da República, visto que quero cingir-me apenas aos exactos termos da documentação que me foi fornecida.

Realizou elo algum novo contrato? Casimiro Reis pela conversa que teve no Paço de Belêm com o Sr. Ministro da Trabalho, que lhe foi apresentado pelo Sr. Presidente da República, realizou algum documento em que porventura se pudesse escudar para não enviar o arroz?

Sr. Presidente, eu não sei o que lá se passou, mas, já à imprensa veio o Ministro de então, Sr. Lima Basto, afirmar no Século que durante o seu consulado se não realizou qualquer contrato com espanhóis para a compra de arroz.

Vamos ao Ministério dos Negócios Estrangeiros, o, após quatro longos meses, nada se sabia sôbre o assunto. Em 31 de Junho, data última do telegrama em que o Sr. Augusto de Vasconcelos informava o Govêrno da República Portuguesa que Casimiro Reis vinha a, Lisboa, nada se sabia. O mais completo silêncio, o mais absoluto vácuo sôbre a questão do arroz.

Que se importavam êles que o povo rebentasse de fome, se à sua alimentação só proviesse do arroz de Espanha?

Até que, em 28 de Novembro, o Sr. Augusta de Vasconcelos apresentou um telegrama no Ministério dos Negócios Estrangeiros, que pároco uma vitória da carreira diplomática de S. Exa.

O telegrama caiu como uma bomba; oficiou-se ao Ministério do Trabalho a preguntar de que arroz se tratava; êste telegrafou ao Sr. Augusto de Vasconcelos, e êste Sr. respondeu, que se tratava do arroz do Reis, e dizendo mais, que estava tudo solucionado para ser o arroz enviado para Portugal, que convinha não dizer nada por causa dós submarinas. Isto em 4 de Dezembro.

Mas, passou-se Dezembro, passou-se Janeiro, passou-se quási Fevereiro, e só em 28 dêste mesmo mês; é que realmente