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20 Diário da Câmara dos Deputados

exportação de mil e quinhentas toneladas ao preço antigo, não falando já nas quatro mil, nas percas dos seus negócios, nas variações do câmbio.

Isto passou-se - e eu peço a especial atenção da Câmara para o que vou afirmar - em 20 de Junho de 1918, mas, acidentalmente, o Ministro de Portugal em Londres, que é o Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos, passa por Madrid, e que faz o espanhol? Envia ao Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos uma carta com a exposição do assunto, para que S. Exa. confirme ou não confirme, para que faça a apreciação que entender e dó a sua opinião sôbre essa carta. E o que faz agora o Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos?

Lê a carta de Reis, certamente medita, certamente vê as responsabilidades gravíssimas em que incorre fazendo a sua rubrica nessa carta, mas o Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos confirma tudo o que Reis diz, o Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos rubrica e o Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos acrescenta!

Vamos a ler, Sr. Presidente, êsse documento e vai em espanhol, embora a Câmara me tenha que desculpar de eu não sabor ler muito bem essa língua.

Sr. Presidente: lido êste documento, eu não quero tirar conclusões, mas ou pregunto ao Sr. Ministro dos Estrangeiros, que me fala em nome do Govêrno, que me fala em nome do dossier que me foi fornecido pelo seu Ministério: quem deu autorização à nossa Legação em Madrid para dar como nulo um contrato assinado com o Govêrno para fazer um outro com Reis em condições absolutamente ruinosas para o bem do País? (Apoiados).

Então, Sr. Presidente, a Legação de Madrid, sem ordem do Govêrno, sem ordem do Ministro dos Estrangeiros, sem ordem de ninguêm, vai assinar um contrato novo, dando ao espanhol uma base para que se precate em relação ao andamento da transacção?! Há ou não há uma responsabilidade tremenda na assinatura dêste documento em que o Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos declara que concorda com tudo e que entrega o dinheiro sem nada, absolutamente nada? O Sr. Dr. Augusto de Vasconcelos que sabia que só se devia entregar o dinheiro mediante os conhecimentos, mediante o frete, mediante os seguros marítimos e de guerra, êle que devia ter mandado o arroz consignado, como lhe ordenava o Govêrno a que devia obedecer, ao Presidente da comissão das subsistências públicas, êle que entrega o dinheiro sem o mais pequeno conhecimento, no desleixo mais absoluto, na ignorância mais crassa; êle, que não contente com a figura que fez, de desgraçada incompetência, através do estendal desta documentação, indo até, por motu próprio, já fora da Legação de Madrid, incidentalmente de passagem nessa cidade, rubricar uma carta que o Reis lhe entregou, ainda vai lançar sôbre o Govêrno Português, nos termos da sua resposta, as responsabilidade de não cumprimento do contrato! E isto quando à face da documentação o próprio Reis, em 5 de Abril de 1917 dizia que o arroz já devia estar em Lisboa, quando, o próprio Sr. Augusto de Vasconcelos afirma que parte da remessa já vem a caminho!

Pois é com conhecimento dêstes factos que a nossa Legação de Madrid assina semelhante documento, sem que lho trema a mão!

Mas, Sr. Presidente, o Sr. Augusto de Vasconcelos ainda diz mais, e nos termos do que diz, ou pregunto ao Ministro dos Estrangeiros à ordem de quem está consignado o, arroz, nos entrepostos de Valência: A ordem do Govêrno ou à ordem de Reis?

Eu afirmo que êste arroz está consignado à ordem de Reis.

O arroz esteve uma vez para ser embarcado em nome do vice-cônsul, mas Reis opôs-se dizendo que não podia seguir visto que os documentos não iam passados em seu nome.

Êste documento é espantoso, é enorme, demonstra a falta de conhecimento da situação de Ministro plenipotenciário do país junto de qualquer legação.

Não sabemos se todos os negócios que correm pelas chancelarias estrangeiras são tratados com o mesmo cuidado dêste. Eu pasmo e eu estremeço como Deputado e como português ao pensar no péssimo concerto em que porventura estarão as nossas embaixadas e legações.

Daqui afirmo a toda a gente, àqueles que me dizem que é inútil gastarmos o nosso tempo no Parlamento com estas