O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 12 de Dezembro de 1919 17

parecer que o meu velho amigo Hermano de Medeiros me deu nesta Câmara, de que estudasse bem as questões, vendo-as com os meus próprios olhos e encarando-as debaixo de todos os pontos de vista.

Fiz efectivamente, um pouco de Sherlok Holmes, e assim estou habilitado a dizer ao Sr. Ministro da Agricultura, ao Sr. Presidente do Ministério, e a toda a Câmara, as infâmias que se praticam em Lisboa à sombra de pretensos privilégios que não existem, à sombra de leis que tambêm não existem, e à sombra até duma perda enorme de carácter, o que é palra lamentar, e que vai desde o mais humilde até o mais alto nas posições hierárquicas da sociedade.

Sr. Presidente: em 7 de Novembro, tive notícia de que tinham sido apreendidas 16 sacas de açúcar, que foram dirigidas, depois da apreensão, para a estação policial do Teatro Nacional.

Fui lá e preguntei particularmente quando seria vendido o açúcar apreendido, visto que estava já tanto povo à espera da venda. Responderam-me que êle não era vendido ali, e, se o fôsse, só mais tarde o seria.

Indo mais tarde lá, e declinando a minha identidade, preguntei pelo açúcar, e a resposta que obtive foi esta: "já se vendeu, mas não aqui; vendeu-se numa loja ao lado", de cujo nome agora não me recordo.

Todavia, a loja, que me indicaram não o tinha vendido pelo menos na totalidade.

Pedindo explicações, obtive respostas assaz curiosas.

Temos a atender à psicologia do nosso povo, problema muito importante.

A mim já me foi dito uma vez nas minhas pesquisas de ordem cívica, se eu queria açúcar, que mo arranjavam em determinadas condições.

O Sr. Hermano de Medeiros: - Eu não encontro manteiga ao preço da tabela, mas se quiser pagar 3$ por quilograma, tenho quanta quiser.

Vozes: - Aonde? Diga em que rua.

O Sr. Hermano de Medeiros: - É na esquina do meu prédio, o número não mo lembro, mas é na Rua Barata Salgueiro.

Vozes: - Diga o número.

O Sr. Mem Verdial: - Está feito com o comerciante.

Riso.

O Orador: - Eu vi uma carroça com sacas de açúcar que costumam ser brancas como se sabe, envolvidas noutras trigueiras, para parecer outra cousa e a carroça levava serradura para disfarçar a suspeita carga.

Concluí imediatamente que havia fraude, pois era uma cousa que não se podia vender às claras, visto ir tam disfarçada.

Não larguei a pista.

Preguntei quem eram os donos.

Um nome disseram-me bem, o outro disseram-me errado.

Apareceu um fulano a reclamar o açúcar que ia para Leiria.

Depois apareceu um factor da Companhia Portuguesa a reclamar o açúcar que era para mandar para a Figueira.

Certamente que não eram o factor nem o outro maltrapilho os donos do açúcar.

Não passavam duns testas de ferro, a cuja sombra se encobriam os verdadeiros assambarcadores.

A guia foi apreendida e o açúcar não pôde seguir ao seu destino, e porque?

Em primeiro lugar, porque o açúcar ia escondido, e portanto sonegado, e segundo, porque tinha uma guia com um número menor de sacas do que as apreendidas.

Portanto, nem a guia era daquele açúcar, nem os homens eram os donos do açúcar.

Quis ver essa guia e falei com o inspector Belanger a quem devo fazer as melhores referências pela boa vontade com que me atendeu e o bom desejo de colaborar na descoberta dos assambarcadores.

Não me foi possível ver o processo porque tinha sido enviado ao tribunal de transgressões.

O Ministério da Agricultura requisitara a guia e eu quis vê-la.

Nessa secretaria do Estado, porêm, nenhum empregado tinha conhecimento do caso.

Isto quero dizer que naquele Ministério os serviços não estão montados com a regularidade necessária.