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pública que se dizia democrático o princípio do sufrágio restrito.

Isso. porém, não tem hoje razão de ser. O programa do Partido Democrático, a que pertence a maioria da Câmara, programa de doutrinas que permitiu a implantação da República em Portugal, é neste ponto inteiramente conforme com xima parto do programa do Partido Socialista. Assim como o programa do Partido Socialista defende o sufrágio universal com voto obrigatório extensivo ás mulheres, o velho programa doutrinário do Partido Democrático tinha incluído o 'princípio do sufrágio universal com direito de referendum e, possivelmente, com direito de iniciativa.

O Partido Socialista, para honra sua, mantêm os mesmos princípios que advogou desde a sua fundação, há 45 anos.

O Partido Demo-crático, que encontrou em 1912 razões para introduzir a restrição do sufrágio, mantêm, através de nove imos, esse absurdo princípio.

Sr= Presidente: a guerra europeia, trouxe ao mundo uma formidável transformação de valores políticos. Olhando para o mapa actual da Europa, nós vemos esta contradirão que é extraordinária e interessante de notar. Só a Rússia, a França, a Suíça e Portugal é que não consignam na legislação eleitoral o princípio do su-ffúgio feminino.

Ora, Sr. Presidente, quando o poder, quando ás forças organizadas do Pais, censuram tam asperamente o recurso a acção directa, reformista e intervencionista por parte daqueles que possuem ideais contraditórios dos que dominam; quando se pretende aconselhar o operariado, na crise de transformação social - que atravessamos, a que enverede por um caminho reformista, conquistando .o poder p.elas eleições — é exactamente, neste momento, em quo o regime, em que a Uepú-blica, em que o Estado está fechando a porta a esse operariado para que não siga por esse caminho, pois outra' significação não tem o afastar das urnas as massas proletárias que, ^uer a monarquia, quer a Eepública, n»o tem tido o cuidado de cultivar e ednear, tornando apenas o direito de eleitor restrito àqueles que sabem ler'© escrever, o que equivale ao mesmo

Diàrio da Câmara dos Depuiadcs

lidade duma acção directa, reformista, e venha para a luta violenta, para a luta da rua, p-ara a luta revolucionária, (Apoiados) .

Se, de facto, a democracia e a fórmula republicana são elementos do transformação e reforma; se, de facto, na fórmula republicana cabem todas as possibilidades de evolução pacífica e de transformação doutrinária., que contrasenso estranho é Gsse de, no momento em que os povos procuram encontrar a base positiva e sólida 'para construir a sua organização e prepararem-se para enfrentar o futuro, dizer à .grande • massa portuguesa, à grande massa dos cidadãos livres do País, dizer ao sexo feminino de Portugal, que não tem elementos para pacificamente, para pela acção reformista, pela acção legal, fazerem valer as suas doutrinas e os seus princípios e defenderem os seus interesses.

E que estranha coragem não será precisa para que os republicanos, que aban-douârauu a sua posição doutrinária do programa do velho partido, possam defender hoje, iro sabor das suas combinações, ao sabor dos seus equilíbrios rle funâmbulos, para alcançarem maior ou menor número de Deputados, o eleitorado português, j como se a Nação pudesse ser uma cousa organizada pelos desconcha-vos, habilidades e combinações que existem entre todos os partidos, que se dizem representar a vontade nacional, dividida em secções e com mais ou menos variantes!

A República 'tem, rnais do que nenhum outro regime, a obrigação de abrir a válvula de segurança à livre expansão da opinião pública; se a fecha, falece-lhe inteiramente a autoridade moral, já de si Bastante abalada pelo espectáculo absolutamente estranho e picaresco que tem dado os partidos republicanos na sua técnica política.