O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Sessão de 3 de Fevereiro de 1920

Sr. Presidente: a situação de Portugal é muito outra. Temos que contar com os nossos recursos próprios, metropolitanos e coloniais, e procedermos em tudo. com inalterável bom senso.

j Tenho visto preconizar como a medida eficaz para restabelecer o equilíbrio da nossa balança económica paralisar a importação, a fim de evitar a saída de ouro que tanta falta nos faz!

Quem assim pensa ignora que hoje os países não podem viver isoladamente, e que o princípio da permuta internacional é absolutamente- necessário, pois não há país no mundo que possa viver num regime de isolamento.

£ E afinal o que importamos nós? Os objectos de luxo?

Mas, se verificarmos bem as estatísticas alfandegárias, verificamos que os objectos de luxo são de importância mínima.

As sedas, os veludos, as jóias e outros objectos com que .se adornam as senhoras chies e os janotas, fazem muito barulho, prendem muito as atenções, mas são, afinal, duma medíocre importância relativa.

Sr. Presidente: a maior parte destes produtos importamo-los de França, que é hoje a principal compradora do nosso stocJc de vinhos. Esses produtos são acusados nas estatísticas das nossas alfândegas por estas quantias mesquinhas:

Em Abril de 1919 importámos de França 184 contos, em Maio 23 contos, em Junho 361 contos, em Agosto 134 contos, etc.

E, paralelamente, sabe V. Ex.a, Sr: Presidente, quais foram os países de que acusames maior importação? Vou dizô-lo 'à Câmara, para que a Câmara verifique o verdadeiro mal da nossa situação financeira e económica, e não dê crédito às soluções simplistas que uão passam de lugares comuns que vão fazendo carreira entre o público fácil dos jornais e cafés.

Esses países são os seguintes:

Da Argentina importámos: em Abril 9:566 contos, em Julho 9:151 contos, em Agosto 6:646 contos; dos Estados Unidos importámos: em Abril 4:068 contos, em Maio 8:118 contos, em Julho 922 contos, em Agosto 2:416 contos; da Inglaterra importámos: em Abril 9:566 contos, em Maio 6:819 contos, em Junho 7:777 contos, em Agosto 5:580 contos; e até

17

da Cochinchina importámos, nestes meses, 1:664 contos, ou seja uma cifra superior à da importação da França . . .

Quere dizer, para uma importação que é verdadeiramente mínima, feita do comércio francês, dos artigos chamados de luxo, nós temos uma importação tremenda dos artigos de primeira necessidade : a carne o o trigo, que nos vem da Argentina e dos Estados Unidos; o arroz, que vem da Cochinchina, e o carvão que vem da Inglaterra.

Para este aspecto da questão é que eu chamo a atenção do Sr. Ministro das Finanças e da Câmara. Vejam V. Ex.as que não nos governamos com palavras, que não passam de palavras; com decretos de pequeno alcance, que apenas servem para iludir aqueles que não olham a fundo para as questões. E é necessário que olhemos a serio para as deficiências da nossa produção, para o pequeno desenvolvimento da nossa indústria, que não extrai ainda das oficinas, das nossas terras e do mar, aquilo que o caudal dos nossos braços, a fertilidade do nosso solo e a riqueza da "nossa força hidráulica, podem e devem ainda produzir.

Para este aspecto da questão é que desejo chamar a atenção do Sr. Ministro das Finanças e da Câmara.

Tenho dito.