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Sessão de 9 de Fevereiro de 1920

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cão e a quem presto homenagem do meu muito respeito, quando se lhe apresentou nesta casa do Parlamento a proposta autorizando o pagamento de 5.000 contos à Câmara Municipal de Lisboa, porque se tivesse propalado que issa obedecia a uma ameaça de guerra por parte dos seus funcionários, preguntou com indignação e veemência: ^Pois então nós havemos de obedecer às imposições desses funcionários ?

Ora, eu devo dizer ao ilustre Deputado que não é só em Portugal que essas imposições se fazem. A pressão do proletariado sobre as classes burguezas, torna--se evidente e geral.

Aqui está a chave da administração portuguesa. Numa situação calamitosa como aquela que todos são unânimes em confessar, é que nós aumentamos do 1919--1920 para 1920-á921 as receitas apenas em 5 por cento e as despesas em 20 por cento!

Para ver-se o que tem sido a administração pública e qual o direito que há de exigir que a população acredito nas palavras dos Ministros basta que examinemos os factos com números nas mãos.

Eles fazem revelaçõos assombrosas. As desposas com o pessoal. civil foram em 1913-1914 orçamentadas em 9:109 contos ; em 1920-1921 em 26:653 contos!

Nos dois respectivos orçamentos as despesas com o pessoal militar passaram de 16:509 contos para 80:859 !

Vê-se que só as despesas do pessoal civil se elevaram 192 por cento em seis

anos

As do pessoal militar foram aumentadas de 1913-1914 até 1920-1921 em 411 por cento!

Outro ponto também assustador, para o qual chamo a atenção do V. Ex.as

Todos sabem que eu sou, por assim dizer, um filósofo. NEío um político, nem um matemático. j\fas pertence-me a qualidade dê pensador que examina o assunto na generalidade, sob o ponto do vista do conjunto, e mais sob o ponto de %7'ista objectivo do que subjectivo, como os outros oradores, em geral, o têm examinado.

Em seis anos com o pessoal do serviço militar aumentaram-se as despesas 411 por cento, o que é, repito, verdadeiramente assombroso. Fez-se a última

guerra por causa das rivalidades entre a Alemanha e a Inglaterra. Fomos, como outras nações, impelidos para ela.

Formaram-se dois grandes blocos. Nós virno-nos arrastados para o bloco inglês.

Todos por toda a parto unanimemente eram conformes em que se fazia a guerra para firmar o direito e a justiça, e para extinguir o militarismo, e decorridos anos, acabada a guerra, estamos mais militaristas do que nunca fomos.

Um dos maiores cancros que corrói a sociedade portuguesa é o militarismo.

O que se passa aqui passa-se em outras nações, por toda a parte.

80 por cento dos 120:000 contos vão para a marinha e para o exército, e 6 curioso que, tendo-se feito a guerra para extinção do despotismo, ainda se mantenha o navalismo inglês, que está esmagando a humanidade inteira.

Fez-se a guerra para que a justiça raiasse e as nações mantivessem os Seus direitos e os das suas colónias. E.neste sonho lá fomos atrelados à decantada influência da Inglaterra.

Vejamos agora o lado gravíssimo da situação fiduciária.

Em 1910 circulavam 70:000 contos em notas. Grituva-se que isto era um horror, que era um estado insolvente, um estado perfeitamente caótico. Eis que dez anos depois, em 1920, os papelinhos represcn-tam-se por 340:000 contos, e há apenas uns 27:000 contos a garantir ! Feita a capitação dessa dívida, verifica-se que o estado capitalista vendeu a população portuguesa por 56$50 por cabeça!

Computando a dívida global da nação em 1:500.000 contos, e estando a riqueza pública computada em 4:000.000 de contos, vemos que 40 por eento da riqueza nacional já está também vendida, já está hipotecada! Quom a vendou? Quem a hipotecou? Foram exactamente os burgueses capitalistas. São esses que em Portugal, como de resto em França o outros países, estão procurando ver se ainda continuarão a vender os povos como carneiros. Mas não tardará, não haja disso dúvida, o momento em que as populações se revoltem, como já se revoltaram na Rússia.