O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

12

Não pretende o Grupo Parlamentar Popular provocar a queda do Ministério, antes deseja grudá-lo às consequências da sua obra para que a opinião republicana se desiluda em presença dos disparates destes Ministros milicianos. Mas, com franqueza, Sr. Presidente, é-me impossível deixar de fazer sobressair o .quanto tem de ridículo e despropositado, na explicação dada pelo Sr. Ministro, a mudança da sua concepção.

^Pois fabricando o"pão só com farinha de trigo, não via Cie que o tipo de pão único deveria, por fas ou por nefas, ter um preço eornprendido entre o de l.a e o de 2.a qualidade, e, portanto, mais elevado do que o último?

O que estes homens aprendem nas cadeiras do Poder, Sr.' Presidente, é francamente extraordinário.

j Não me admiro de que, qualquer dia, ao serem chamados a ocupar aquelas cadeiras, peassem a frequentar qualquer escola nocturna a fim de aprenderem o a, bj c!

Mas o Sr. Min:stro não foi capaz de abranger o problema sob um aspecto mais consentâneo com os iutõrêssos da colectividade. Não encarou, por exemplo, a hipótese de misturar farinha de milho com a farinha de .trigo de modo a obter, simultaneamente, a redução do preço do pão e a diminuição do déficit do trigo, cousa que influi, dum modo sensí vel, no estado da nossa balança económica.

Fala-se em desenvolver a cultura do> trigo nos planaltos de Benguela e Huíla, o que é de louvar, mas não se pensa em aproveitar completamente todos os recursos em milho de que dispõem, desde já, as nossas colónias.

Ora. se há nesta questão qualquer cousa que sobreleve >ainda em importância às roubalheiras da moagem, é, com certeza, isto da rodnção das importações de trigo. Aí ficam atiradas a esmo estas idcas, que oxalá caiam em bom terreno e produzam os seus frutos, só bem que. por hábito, sejamos sempre propensos- a desconfiar das farturas.

Entramos agora no capítulo passional, que mais interessa o público, o das «fraudes da moagem».

Fcilando ontem a este respeito numa sessão no Centro Dr. António José de

Diário da Câmara dos Deputados

Almeida,'o Sr. Costa Júnior previu que «à volta deste as§unto se estivesse urdindo uma tremenda questão política para derrubar o Governo».

Se está alegação nos diz respeito, dir--Ihe hemos que ela resvala sobre nós sem nos atingir. Concedêrnos-lhc o santo des-dôm que nos merece. . O que doe ao ilustre Deputado é que não conhece a questão, coipo vou procurar demonstrar-lhe. . Os roubos que se fazem com o pão, Sr. Presidente, dividem-se em duas categorias :

l.a Os que se fazem propriamente dentro das fábricas de moíigern ;

2.a Os que-se fazem na panificação.

Os primeiros são possíveis mesmo com o tipo único de pão. Os segundos evitam--se completamente por esta forma.

A moagem, que hoje está ligada à panificação, como o está à indústria do íabrico da'bolacha è das massas, prevendo a possibilidade de ser arrastada na onda, associa-se aos gritos dos que pedem o tipo único de pão, certa como está de que, mais mês, menos mês, o relaxamento dos nossos costumes tudo fará voltar à primeira forma, permitindo-lhe o alargamento do seu campo de operações. Mas, repito, que ela «tem a antecipada certeza de que as fraudes, sendo reduzidas, não são evitadas pela criação do tipo único de pão».

Para perceber o mecanismo cias fraudes que a moagem faz por si só,'mesmo imaginando os seus destinos separados dos da panificação, vamos considerar um exemplo:

.Suponhamos que o Estado entrega à moagem 100 toneladas de trigo exótico para moer e que, levando as suas precauções até o limite máximo da exigência da entrega integral dos produtos derivados, força a moagem a dar-lhe, segundo o decreto n.° 6:470:-15 toneladas de farinha de l.a, 60 toneladas de farinha de 2.a, 25 toneladas de sêmeas.

Depois desta segurança, que parece a máxima, o Estado, triunfante, esfrega as mãos de contenle, com a plena certeza de que o decreto se cumpriu, quando, de facto, pode não ser assim.