O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

Diário da Câmara dos Deputados

Os livros estão caríssimos. Eu que sou director duma biblioteca e que nessa qualidade tenho °de aplicar uma determinada verba consignada no orçamento, na aquisição .de livros estrangeiros e outra na aquisição de livros nacionais, vejo que os livros estão tam" caros que se essas verbas fossem decuplicadas, não poderia obter tantos livros como os que obteria com as verbas actuais, antes de 1914. Os livros, na França, na Inglaterra, na Suíça e na Itália têm atingido preços incomportáveis.

Agora os livreiros de Paris e dos outros centros cultos da Europa fazem isto: sobre o preço das lombadas, à medida que sobe o preço do papel, ú medida que o preço da mão de obra vai subindo vão lançando sucessivas percentagens de maneira que um livro que custava 7 francos seis meses depois custava 9, três meses depois 12, custando actualmente 20 e 30 francos, e, alguns há que são postos à venda por preços inverosímeis. Eu como director da Biblioteca tenho df«do ordem de não se comprar livros nessas condições.

Para fazer face a obras de alargamento da biblioteca tive de lançar mão da verba que o Estado punha à minha disposição para ter a biblioteca actualizada, alargamento que se tornava necessário por já ser pequena pára comportar só àqueles livros que a Biblioteca recebe em virtude duma disposição de leis Para fazer face a essas obras, tenho de lançar mão da verba destinada à compra de livros. Vejam V. Ex.as se é possível prolongar-se uma situação desta natureza. O Estado amanhã terá que gastar muito dinheiro para actualizar as suas bibliotecas.

As verbas destinadas à aquisição de livros são verdadeiramente mesquinhas, são ridículas.

Alguns parlamentares queixam-se, tendo alguns Srs. Senadores já dito no Senado que, na Biblioteca Pública de Lisboa, é muito difícil encontrar-se um livro nioderno.

E isto porquê? Porque as verbas são insuficientes para satisfazer a essas necessidades.

Se Portugal quere ser um país pro-gressivx),'se quere acompanhar o movimento da civilização moderna, não tem outro remédio senão empregar os meios necessários para alcançar esse fim.

(j Então nós temos a veleidade de querer hombrearcom nações cultas e havemos de continuar neste marasmo, nesta apatia?

Não pode ser. É preciso semear para colher.

Não podemos deixar de dizer isto, por isso dou o meu voto à proposta na generalidade, porque entendo prestar assim um grande serviço à República.

O que eu desejaria pedir ao Sr. Ministro é que permitisse à Câmara dos Deputados substituir a parte relativa a fontes de receita por outras mais comportáveis e mais em harmonia com o que nós queremos.

Não devemos semear males e S. Ex.a, com a sua proposta, alguns semeia.

Se não encontro agora editores para editar os meus livros, com certeza que depois muito menos probabilidades haverá em os encontrar, porque, decerto, algumas livrarias fecharão.

Estes impostos são violentos. Não pode ser.

Incidir sobre um livro que custa l franco $06 de percentagem de taxa de contribuição, é de mais.

Sou contrário a tudo isto. Tributar o livro, tributar o pensamento humano, tributar a cultura, ó um contrassenso.

Não concebo mesmo que do cérebro dum Ministro da Instrução surgisse esta idea; e sem querer, por forma alguma, pôr nas minhas palavras qualquer sombra de desconsideração pela intelectualidade do Sr. Ministro, parece-me que é um paradoxo.

É um paradoxo, ó uma contradição. O livro não deve ser tributado.

Tributar o livro é tributar o pensamento humano, é tributar a cultura.

Não podemos ir buscar recursos a fontes desta natureza. Há fontes melhores. Tributemos o vício, tributemos as bebidas alcoólicas.

O Marquês do Pombal criou o subsídio literário para fazer face às despesas da sua reforma que assombrou o mundo inteiro. 'Obteve no primeiro ano 150 contos, ou sejam 1:000 contos na desvalorizada moeda de hoje. E, nesse tempo, um professor de instrução primária recebia 32$000 réis. Uma riqueza. O subsídio deu para tudo.