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Sessão de 19 de Maio de 1920

Frequentei a Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, quando ela era um pardieiro a derrubar, um casarão em ruínas. Dizia--se que por ser assim a escola é que nela se não fazia sciência, resumindo-se todo o seu labor na preparação de clínicos.

Mais tarde, em Berlim, tive ocasião de visitar o insignificante laboratório em que Wirchov fez todos os seus trabalhos de patologia celular; então pensei que todas as instalações escolares são suficientes quando os mestres podem ter iniciativas intelectuais, esforçando-se por ampliar a esfera da sciência que cultivam.

A Escola Politécnica de Lisboa vale bem mais, como instalação, do que a Escola Politécnica de Paris; mas é debalde que nós procuramos na produção scien-tífica rastos dos nossos físicos e dos nossos químicos.

Não quero embrenhar-me em considerações, que não viriam fora de propósi+o sobre a função essencial, por assim dizer específica, duma Biblioteca Nacional que não pode ser apenas, que não pode ser principalmente, um vasto, um descomunal gabinete de leitura. Tam pouco uma Biblioteca Nacional deve ser um depósito de livros novos e velhos, todos os livros que no país se publiquem e todos aqueles que no estrangeiro possamos adquirir.

Uma Biblioteca Nacional deve ser acima de tudo, o arquivo, religiosamente bem conservado, de todos os documentos que sirvam à elaboração da nossa história e nos seus múltiplos aspectos, documentos que sejam a fonte em que se inspirem os estudiosos para traçarem, desde os mais longíquos tempos, a linha de evolução que tom seguido o organismo nacional.

Apenas isto?

Não; mais alguma cousa do que isto, um- gabinete que facilita a leitura e a consulta de livros que não podem andar nas mãos de toda a gente, uns porque são raros, outros porque são caros, todos eles representando uma parcela maior ou menor de trabalho intelectual, digno de registo.

O trabalho da inteligência, para se vender em livros, sobretudo no que diz respeito à literatura, entrou numa fase de industrialização e mercantilismo que de certo modo o amesquinha.

Não há que arrumar nas bibliotecas nacionais tudo quanto se imprime, sob pré-

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texto de que tudo isso tem valor documental, como trabalho de espírito.

Se assim fosse, as bibliotecas seriam sempre exíguas, ainda que lhes dessem as mais vastas proporções.

Sou dos que reclamam o descongestionamento da Biblioteca, onde se encontra a montes, toda a sucata, em matéria de livraria, dos conventos e congregações, para ali transportada em carroças, sem nenhuma espécie de escolha.

Sou dos que entendem que a Biblioteca Nacional não pode ser um gabinete de leitura para estudantes cábulas e marçanos desempregados, as necessidades espirituais de semilhantes Jeitores devendo sa-tisfazê-las as bibliotecas populares, alimentadas pela Biblioteca Nacional, na medida em que o puder fazer.

Disseram-me, e esta informação tenho-a por absolutamente verdadeira, que na Biblioteca só há uns dez ou doze serventes...

O Sr. Ministro da Instrução (Vasco Borges):—Posso informar V. Ex.a de que o pessoal encarregado da limpeza e beneficiação da Biblioteca é apenas de doze serventes.

O Orador : — A Câmara compreende que com um pessoal tam reduzido, tam mesquinhamente reduzido, quási senão pode fazer senão o que até agora se tem feito, deixar que os livros se estraguem.

Mas para acudir a este mal que tem um remédio pronto e eficaz, seria inútil ã proposta que estamos discutindo.

Os livros que estão em via de se perderem, à certa que S9 perderiam se os deixassem ao abandono, entregues à fauna devastadora da Biblioteca, aguardando que estivesse pronto o novo edifício para nele se instalarem convenientemente.

Pouco ou muito, mas eu presumo que seria muito; ele seria em todo o caso, suficiente para que acabassem de se estragar muitos dos livros já atacados pelo bicho, contaminando-se muitos dos quo ainda estão indemnes.