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Sessão de 21 de Maio de Í920

tanto necessidade nacional, porque se V. Ex.a, ou ato qualquer pessoa medianamente culta, entrar na Biblioteca Nacional de Lisboa, imediatamente verifica que aquele edifício de maneira alguma podo prestar-se à conservação e mobilização dos livros.

Os corredores são estreitos e não têm a luz o o ar necessários e indispensáveis.

Estamos, por consequência, em presença de dois factos: temos um edifício que de nenhum modo pode adequar-se à função que lhe foi destinada, e temos lá dentro uma enorme riqueza intelectual. Temos lá, porventura, a melhor parte do trabalho intelectual de que podemos orgulhar-nos.

Disse um Sr. Deputado, hoje, ressuscitando a frase dum velho economista que pretendeu Atalhar fórmulas eternas para o desenvolvimento das sociedades humanas que preferia uma arroba de batatas a um poema:

Primam viver e...

Unia sociedade não pode viver sem defender o seu património intelectual, pois a vida duma sociedade é, sobretudo, um fenómeno de carácter psicológico e, por maior quantidade de subsistências que um país tenha ao seu alcance ele não é capaz, só pelo facto de possuir essas subsistências ein quantidade bastante é ali excedente,, do definir-se como um instrumento apto para concorrer com as outras nações e raças livres para o progresso da comodidade geral.

Lembrou, e muito a propósito, o ilustre Deputado o Sr. Eduardo de Souza que os rudes e modestos' burgueses do Porto têm demonstrado uma consciência mais perfeita das^ necessidades da vida nacional portuguesa, dedicando o maior carinho aos serviços da sua biblioteca. Também na noção altamente, utilitária a que já me referi existe, pode dizer-se assim, o culto das bibliotecas, E não podia deixar de ser assim, visto que nem cultura que pertence ine v i tal mente ao domínio das cousas intelectuais, não pode conceber-se, no nosso tempo, o prejuízo material. Do maneira que dentro do ponto de vista utilitário nos admira que um nosso colega, diplomado com uin curso superior, nos viesse aqui dizer que se carecemos de defender a nossa Biblioteca, por-quo o quo é prociso são mais batatas.

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Mas voltemos ás nossas afirmações que é preciso ter sompre presentes no espírito: em primeiro lugar está ameaçada a conservação da melhor e maior parte do património intelectual de Portugal. Depois o edifício em que está instalada à Biblioteca Nacional nem se adapta à sua função nem é susceptível de transformações eficazes nesse sentido.

Visitei bibliotecas lá fora, desde as monumentais como a de Washington, às pode dizer-se, industriais como a da universidade de Ilavard. Esta última tinha uma instalação modesta. Mas as magnificas estantes de ferro estavam dispostas de forma que o ar e a luz circulavam largamente, inundando os milhares de livros, nele acondicionados. Desta maneira não era possível dar-se qualquer fenómeno anormal num livro, que não pudesse ser logo apercebido e atacado com êxito. Até em caso de incêndio, se poderiam isolar uns dos outros determinados sectores da biblioteca.

Não era, no emtanto, repito, unia instalação magestosa; mas era adequada ao fim a que se destinava.

Tive ocasião de visitar a Biblioteca Nacional de Lisboa, porque sendo pobre, dela necessito para a minha cultura. Nunca fui, porém capaz de, contrair o habito de ser leitor assíduo dessa Biblioteca, porque não tinha o ambiente necessário para poder estar ali com proveito para mini.

O Sr. Brito Camacho disse que a Biblioteca Nacional de Lisboa não tem servido, em geral, senão para estudantes que perderam o ano, ou marçanos em via de colocação.

Pois dadas as condições da sua sala de leitura, e eu chego a admirar a resistência dos que a visitam com assiduidade, seja qual for a sua categoria social.

Por consequência, tanto em relação ao acondicionamento de livros, como às condições de trabalho, visitando o edifício da Biblioteca verifica-se ser absolutamente impossível fazer dali alguma cousa de capaz.