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E nessas horas amargaã que eu passei em Aveiro, durante esses cinco longos dias que decorreram dó 20 a 25 de Janeiro, em que nós, republicanos, 200 soldados e 80 civis, ali nos encontrávamos isolados, mal sabendo se dentro em pouco íamos ser cercados pelos monárquicos que possivelmente teriam triunfado no sul e já avançavam do norte, tendo como barreira o Vouga, — eu pensei que se, porventura,' a República triunfasse mais forte e digna, daí por diante se mudaria de costumes.

Assim não sucedeu, infelizmente, principalmente, na instrução.

- Nas escolas superiores e secundárias do norte os professores, que sempre atentaram contra a República, continuaram nos seus lugares.

j Na Universidade do Porto pude constatar que as criaturas que praticaram os mais graves crimes contra a República, inclusivamente organizando uni batalhão intitulado o -«Rial Batalhão Académico do Porto», que o Porto pitorescamente designou «Rabos de Bacalhau a Pataco», e o próprio professor que o comandava, permaneceram a dirigir o ensino republicano!

Fizeram-se duas sindicâncias, uma pelo velho republicano Dr. Paulo Ferreira, director da Faculdade de Sciências, outra feita pelo ilustre republicano e antigo Deputado, o Dr. Bernardo Lucas, que, com o-seu escrúpulo de jurisconsulto abalizado e causídico distinto, realizou a sindicância com o maior rigor, apurando bem .nítidas todas as responsabilidades. Nessas sindicâncias encontram-se depoimentos de pasmar, tendo sido elaborados no Ministério da Instrução Pública vários decretos de demissão dalguns professores e empregados menores, mas que não chegaram a ser assinados pelo Ministro dessa época.

Entre esses decretos citarei, por exemplo, o da demissão do Sr. José Diogo Arroio, que bem mereceu essa sanção, porque ele disse aos seus alunos, no momento em que apareceram sobre o Porto os aviões republicanos, que viessem para a rua e lhes dessem o maior número de tiros qne pudessem, porque estavam ali os inimigos da sociedade.

Foi suspenso, é certo, o -Sr. Gonçalo Sampaio, organizador do batalhão académico monárquico, mas ele apresentou a

Diário da Clamara doe

sua defesa e no fim de quinze dias foi-lhe levantada a suspensão, e, mais do que isso, foi lavrado um decreto que justifica o levantamento da suspensão por falta de provas.

j Por falta de provas, quando toda a gente viu esse homem à frente do batalhão académico na cidade do Porto !

Na sua defesa ele diz que organizou ôsse batalhão para evitar que os alunos fossem vítimas dos perigos que os pudessem atingir se fizessem parte doutros grupos e não para combater a República.

Mas para mostrar que esta asserção não é verdadeira, eu posso citar o testemunho do empreiteiro das obras da Escola Superior de Farmácia, José Francisco Conceição, a quem ele' disse no dia 12 de Fevereiro, na Rua dos Clérigos, que o mandava prender se dissesse que a monarquia estava perdida, isto por ele o ter aconselhado a meter-se em casa, porque os ares começavam a turvar-se para os sequazes de Couceiro.

•Alega ainda que não teve conhecimento de que os alunos tivessem ido para o norte combater, porque senão tê-lo-ia evitado.

Também não é verdade, porque foi visto na estação de S. Bento -a despedir--se dos -alunos que partiam para Vila Rial, dizendo-lhes que cumprissem o seu dever, que ele no Porto cumpriria b seu.

Pois esse homem foi restituído ao exercício das suas funções.

Podia citar também casos relativos ao pessoal menor, e mais pessoal que estava ao serviço da Universidade, mas falta-me o tempo.

Não compreendo que para toda essa gente haja esta benevolência e que para outros, como para alguns professores de instrução primária a quem foi dada a demissão simplesmente porque excederam em uma palavra a fórmula estabelecida pela Junta Governativa como declaração de acatamento. ,