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riam agravada, porque os assambarcado-res, aqueles elementos gananciosos que estão sempre à espreita duma alta de salários, fariam imediatamente uma alta nos géneros, e superior àquela que eles tinham obtido.

Não se quis ouvir nessa altura a voz daqueles poucos que falaram nesse sentido, e continuou-se de então para cá a aumentar os vencimentos de toda a gente, não querendo reconhecer-se quo as más condições de vida vão crescendo em proporção maior, o que leva a novos pedidos de aumento de salários com uma certa razão, porque, efectivamente, se se for fazer o orçamento económico de cada um dos peticionários, reconhece-se que em face da carestia da vida os salários não chegam para viver.

Não tom querido, contudo, os Governos enfrentar este problema e reconhecer que, de facto, pela convulsão especial que a sociedade atravessa, os poucos elementos que trabalham têm um direito sobre os outros, que ó o de ser escutados. É exactamente aos trabalhadores que se deve garantir a sua assistência, porque s"o eles que ainda concorrem para que o caos e a anarquia não se manifestem mais livremente, conduzindo-nos a uma situa-Qão insuportável.

Não se deve estranhar que não só em Portugal, como em todo o mundo, aqueles quo exercem uma profissão, intelectual ou manual, procurem sempre fazer ouvir a sua voz, fazendo sentir ao capitalismo e à sociedade burguesa que têm direito a uni certo bem-estar e conforto.

É preciso encarar a sério e separar as •convulsões e movimentos de. carácter social, dos movimentos de carácter político. Eu não posso admitir que nos considerandos que precedem o projecto se procure confundir estas duas cousas, que são fundamentalmente diferentes.

No primeiro considerando diz-se que o Governo suspeitava que se iriam 'dar alterações de ordem pública. Eu não posso aceitar como boa essa doutrina, pois não admito que as classes trabalhadoras, que procuram melhorar a sua situação, -se queiram misturar com aquelas hordas monárquicas, que apenas querem aproveitar essas ocasiões para perturbar a Pátria e a República.

Diário da Câmara doa Deputados

O Sr. Ministro da Guerra (Helder Ribeiro) (interrompendo}: — Eu não creio que o significado de alteração do ordem pública seja apenas aplicado aos monárquicos ou a quaisquer outros perturbadores.

O Orador: — Quando uma classe entende que deve pedir umas determinadas regalias, V. Ex.a considera isso como, alteração de ordem pública?

O que o Governo deve fazer é estabelecer o contacto com essas classes, e mostrar que devem excluir do seu meio os indivíduos que as comprometem.

Mas neste caso há paradoxos interessantes.

O aumento pedido pelos ferroviários não ia além de 1000 contos, e o Governo dá este exemplo: o de pedir um crédito de 3:000 contos e na certeza de que o Sr. Ministro do Interior também virá aqui pedir um crédito igual.

Eu já disse numa das passadas sessões que ainda poderia admitir esta verba se ela fosse gasta neste sentido; mas, por muito que se diga que a situação tende a normalizar-se, e que o Governo o diga, o que eu receio, Sr. Presidente, é que dentro em breves dias estejamos numa situação perfeitamente análoga, e que novas propostas neste sentido nos sejam aqui presentes, quando essas verbas poderiam ser perfeitamente aplicadas na melhoria dos serviços ferroviários. (Muitos apoiados).

Eu ainda me lembro, Sr. Presidente, das graves alterações da ordem pública, que se dizia irem dar-se durante o Ministério do Sr. Sá Cardoso, o que fez com que semanalmente nos viessem apresentar propostas de lei pedindo novos créditos, verbas essas que foram gastas sem que alteração alguma se tivesse dado.

Eu, Sr. Presidente, faço justiça à alta inteligência do Sr. Ministro da Guerra, e S. Ex.a que esteve durante o período da guerra, em contacto com outras nações, sabe muito bem o que se está passando lá fora e assim sabe bem que o assunto a que me estou referindo se não pode resolver como se resolvia antes da guerra.