O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

20

Diário da Gamara dos Deputadoi

Em Portugal até se vê este facto: dar--se uma crise parcial num Gabinete pela saída do seu Ministro das Finanças e fazer-se o preenchimento dessa vaga, sem que ao Parlamento o Ministro que a vai ocupar venha dizer quais os seus pontoa de vista em matéria de finanças, qual o seu p]ano de acção financeira! Diz-se que a razão por que se deu este facto está na circunstância verdadeiramente anormal de ter de se preencher a vaga de uma pasta por um Ministro dum Governo que está demissionário. Mas a única conclusão a tirar deste facto verdadeiramente extraordinário é aquela que eu tirei do início: vivemos no país das cousas raras.

Em Portugal temos problemos comple-xíssimos a encarar, e um dos mais com-plexosj, pelo somatório enorme de factores que nele intervêm, é o problema cambial. Num momento em que aos Governos incumbe encarar de frente problemas complexos como ó porventura o problema cambial, vemos que é preenchida interinamente a pasta das Finanças por um membro do Ministério dimissionário. Isto, Sr. Presidente, só fica devidamente classificado dizendo-se que é verdadeiramente assombrosa a vertigem com que os câmbios descem, as manobras que de instante a instante se fazem na praça, revelações ainda ontem trazidas a esta Câmara pela boca do ex-titular da pasta das Finanças, Sr. Cunha Leal. Essas revelações dão a todos nós a corteza, impõem a todos nós a convicção e o reconhecimento de que ó absolutamente necessário que na pasta das Finanças se não sente qualquer, mas um verdadeiro valor, e não interinamente, mas duma forma efectiva.

O ex-titular da pasta das Finanças, Sr. Cunha Leal, referiu ontem à Câmara este íacto verdadeiramente assomboso, e que se não fosse a notória falta de sensibilidade teria conseguido levantar um movimento enorme por parte da Câmara.

Disse S. Ex.a que na praça, e aproveitando a convicção em que os elementos da finança estavam de que ao Governo era necessário, para se cobrir das quantias de que carece, adquirir um montante grande de libras, estava a ser feita, por empregados de bancos que têm relações com o Estado, uma altíssima especulação. E para quê? Para amanhã, quando o Estado tiver necessidade de ir adquirir íi

praça, e por intermédio díisses bancos que com o Estado têm relações, as cambiais precisas para se cobrir, os elementos a eles afectos já tenham na mão essas cambiais com as quais negociarão largamente. Em presença deste facto, que não pode ser, e não é decerto do desconhecimento da Câmara, urgia imediatamente a presença do Sr. Ministro das Finanças para que dissesse ao País que providências tinham sido tomadas, talvez ontem mesmo.

O momento que passa não se compadece com esta morosidade.

O Partido Eepublicano Popular não pode recusar-se a votar a proposta de duodécimos, porque a reputa absolutamente necessária para a vida do Governo, mas, ao dar o seu voto de aprovação, não pode deixar também de manifestar perante a Câmara e perante o país o seu profundo desgosto em ver que a dois anos depois de firmado o armistício não tenhamos feito ainda a discussão dum orçamento. Representa também um enorme desejo do Partido Republicano Popular que as Câmaras que constituem o Congresso da República, em vez de se preocuparem com pequeninos nadas, dando ao País a impressão de que estamos em Bisâncio, em vez de estudar projectículos de campanário, estudar o mais importante dos problemas que ó o Orçamento, porque implica com a vida geral do Pais.

Tenho dito.

O discurso será publicado na integra, revisto pelo orador, quando restituir as notas taquigráficas que lhe foram enviadas,

O Sr. António Granjo: — Sr. Presidente: por parte do grupo parlamentar do Partido Republicano Liberal mais uma vez quero manifestar a necsssidade que há de se discutirem os orçamentos. É indispensável que entremos em vida nova.

E lamentável, como muito bem disse o Sr. Manuel José da Silva, que a dois anos do armistício não tenhamos discutido um orçamento. Mester ó que essa discussão se faça.

Votamos o duodécimo soíi) a pressão das circunstâncias, mas esperamos que o novo Governo se apresse a lazer discutir o Orçamento.

Tenho dito.