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Sessão de 23 de Fevereiro de 1921

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e conservar todo o material de guerra, e também porque as sociedades, tal como estão constituídas,, e sobretudo a nossa, parece-me que ainda não atingiram aquele brilhante e utópico estádio de civilização, progresso, bem-estar e solidariedade que porventura dispensará a existência dos núcleos militares permanentes.

As paixões humanas, as ambições, os desequilíbrios sociais são e serão ainda por muito tempo a origem de questões violentas a derimir entre os povos, e, a meu ver, por emquanto utopia é supor-se que elas poderão ser resolvidas, no seu constante entrechocar por veredictum de tribunais internacionais ou de ligas de nações.

Os precursores de tais doutrinas ainda hão-de atravessar ínuitos ciclos de progresso e evolução até que sejam realizadas as suas aspirações, se é que elas se realizarão algum dia!

É certo que todos os povos se encontram horrorizados com as peripécias que se deram na Grande Guerra e com as consequências dela e, portanto, reputam como uma das mais justas aspirações o desarmamento geral; mas o facto é que estamos muito longe da efectivação de tam sublime idea, pois vemos que todas as nações se armam até aos dentes para o que der e vier. Portanto os exércitos, o militarismo são cousas que têm de existir, infelizmente, durante muito e muito tempo, e não nos é dado antolhar a futura época em que a organização militar deixará de pesar nos orçamentos das várias nações. Essa aspiração ó como que uma linha as-simptótica que j amais encontrará a curva que define a trajectória progressiva da humanidade.

Posto isto, e não devendo Portugal, que deseja ser uma nação livre e independente, deixar de ter um exército, maior ou menor, consentâneo com os seus recursos e necessidades, de admirar é que se pretenda dar um golpe tam estranho nas nossas instituições militares desorganizando-as profundamente, tais são, como bem o demonstrou o Sr. Pereira Bastos, as consequências inevitáveis da doutrina do projecto que se discute.

Trouxe-se também à nossa consideração o argumento de que a incorporação de recrutas era prejudicial neste momento em que tanto se necessita da intensifica-

ção agrícola, visto que por virtude dela se arrancariam à agricultura grande número de braços de que ela tanto carece.

Ora este argumento cai em todos os tempos, em todos os lugares e em todas as situações, e eu não tenho visto que em qualquer parte se tenha modificado o recrutamento militar, atendendo a semelhante alegação.

O que eia vejo é que a emigração no nosso país é apavorante e aumenta dia a dia, desoladoramente, o que vem demonstrar-me que os braç@s dos trabalhadores portugueses não encontram na sua terra aquela aplicação que tam necessária lhes era, tendo que ir em terras estranhas, sabe Deus com que sacrifícios e através que desventuras, angariar os meios de satisfazem às suas mais instantes necessidades.

Daqui se conclui que à terra portuguesa não faltam braços para o trabalho, mas verifica-se infelizmente que falta trabalho para esses braços.

Será por falta de braços que temos tantos terrenos incultos, tantas minas por explorar, tantas quedas de água a aproveitar, tantos caminhos de ferro a construir, tantas energias a tirar do estado latente em que estão?

Eu julgo que outras são as causas disto, destacando eu de entre elas a desorganização social, a incúria e o retraimento do capital. Não é, pois, de aceitar a alegação de que a incorporação dos recrutas, chamando um certo número de mancebos ao^serviço militar, em cada ano e em curto período vá prejudicar o desenvolvimento intensivo da agricultura, contrariandp, o aumento de produção.

Não colhe também, a meu ver, a alegação de que, tendo os serviços militares de sofrer profunda modificação, devido aos ensinamentos da grande guerra, a instrução que actualmente damos ao soldado é improfícua por absoluta e não tem as características que a nova s ciência militar impõe.