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Diário da Câmara dos Deputados

todos os momentos que há conspirações organizadas, sabendo-se até o plano delas, pregunto se nós havemos de acrescentar o número dos nossos inimigos, muito embora os possamos vencer?

Seria argumento para alguém o dizer--se que, tendo nós polícia suficiente para reprimir todos os crimes, podíamos abrir as portas das cadeias a todos os ladrões e criminosos. Não; isso não é argumento para ninguém.

Nós não devemos transigir diante de revoltas. Não queremos amnistia, porque amnistia quere dizer esquecimento e nós não podemos esquecer quando os nossos inimigos estão, com armas nfn mão, prontos para nos atacar. (Apoiados).

Mas uma grande parte da piedade dos republicanos compra-se com votos; quem a paga são os caciques, j Aqui é que está o ponto principal! Efectivamente, para mim, esta questão é uma questão de princípio tam clara, que vou dizer uma cousa que, porventura, horrorizará os republicanos.

Se o Sr. Presidente do Ministério aqui chegasse e declarasse que a Eepública não tem homens capazes de a administrar, que a República se tornou incompatível com os altos interesses do país, que nestas condições nós prestávamos um mau serviço ao país, querendo impor-lho a Eepública.

Sr. Presidente: mais depressa faria a entrega do país aos monárquicos do que • votaria a amnistia, e a razão é simples: ou nós estamos convencidos de que, realmente, a República pode conduzir este país a uma condição melhor, e então devemos defendê-la com todas as armas. com a nossa inteligência e a nossa impiedade, ou, pelo contrário, vemos que não somos bons administradores e cometemos um crime continuando a querer mante-la. (Apoiados).

Abdicações ficam tam mal ao regime como aos indivíduos. Efectivamente não há ninguém, a menos qne não seja interessado ou louco, que possa compreender a concessão de dez amnistias em dez anos de República. Tam extraordinário facto apenas patenteia o medo de castigar os delinquentes, obrigando-os ao cumprimento integral das penas respectivas.

^.Continuando a proceder assim, como podemos evitar futuros movimentos de

hostilidade por parte de quem nada tem a temer da justiça pela certeza da sua impunidade?

O ofício de conspirar tornar-se há dentro em pouco, se o não é já, ama cousa normal e regular.

Depressa esquecem as lições do passado e a memória daqueles que valentemente souberam dar a sua vida'pela República os que neste momento fcam afano-nosamente reclamam a amnistia.

Se os mortos se erguessem dos seus covais e conseguissem fazer-se ouvir, decerto eles, tal qualmente César ao pre-guntar a Varro o que fizera das suas legiões, nos preguntariam, frementes de indignação e de desespero, o que fizemos nós da República. (Muitos apoiados).

Eu não quero alongar o debato; além disso não desejo justificar os receios angustiosos do Sr. Bernardino Machado, que tanto nos pediu para não fazermos sair a discussão para fora do caminho da serenidade.

Vou, por isso terminar, ficando inteiramente convencido de que se os votos que vão ser dados à concessão da amnistia pelos ilustres membros desta assemblea fossem dotorminados apenas pela inteligência o não pelo sentimento, essa amnistia jamais seria concedida. Mas vêm'as solicitações partidárias, mas vêm as eleições, mas vêm os votos, tudo se esquece e a amnistia será concedida.

Tenho a certeza de que sobro a cabeça desses há-de cair o ódio de muitos.

Também não quero terminar as minhas considerações sem lembrar que esta concessão fará alargar as listas negras que são programa das 'revoluções, nem quero terminar som apelar para a consciência cio todos, para que ponderem bem o voto que vão dar.

Sr. Presidente: aprove-se ou não se aprove a amnistia, é-me indiferente.

O que eu quero é afirmar qr,e o Parlamento, votando a amnistia, não trata dos interesses da República e dos interesses da Pátria.

Apartes.