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Sessão de 22 de Abril de 1921

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dor, reunindo-se nesta sessão para o ouvir. Permitam-lhe também que diga que merecia esta atenção da Câmara. (Apoiados).

Há 15 dias que sobre o seu nome chovem na imprensa de Lisboa as maiores calúnias. E ôle, orador, tem-se calado. Há 15 dias que nesta mesma Câmara, por várias vezes, tem sido alvo de doestos — e tem-se calado. Por várias vezes os jornais desta cidade e do Porto lhe pediram que numa entrevista esclarecesse este caso — e ele, orador, calou-se. Calou-se porque entendeu que as suas primeiras palavras sobre este desgraçado incidente deveriam ser trazidas à Câmara dos Deputados. (Apoiados)

É perante o Parlamento do seu país que tem de dar antes de tudo, as explicações necessárias sobre todo este incidente. (Apoiados].

O que depois terá de dizer, não sabe; por agora deve à Câmara dos Deputados, esta consideração especial.

Por isso, ele, orador, há pouco, insistia em usar ainda hoje da palavra, esperando que a Câmara tivesse a atenção de o ouvir, visto que já era demais o seu silêncio. A atmosfera que sobre ele pesava era preciso desfazer-se.

Muito se tem dito sobre este caso dos bairros sociais, muito se tem escrito, muita fantasia se tem bordado em volta do assunto. Porém da sua parte até este momento nem uma única palavra há; apenas existem-duas notas oficiosas.

Num jornal desta cidade foi publicado um violento artigo contra o orador. Assinou esse artigo um funcionário do seu ministério.

Entendeu por isso levantar-lhe um processo disciplinar. Deu então a público uma nota oficiosa pela qual tornava conhecido que havia levantado processo disciplinar contra esse funcionário.

Posteriormente deram-se sucessos mais graves, e ele orador, entendeu dever mandar instaurar processo disciplinar contra os implicados nesses factos. Deste seu procedimento deu conhecimento ao país por uma segunda nota oficiosa que foi publicada.

Fê-lo para que o país soubesse que nada havia que perturbasse a serenidade com que o Ministro do Trabalho encarava os acontecimentos; que não havia amea-

ça alguma que fosse capaz de desviar o Ministro do caminho que tinha traçado.

Com efeito, nada o perturbava. E nada o poderia ou poderá perturbar, visto que tem por yi a íorte consciência de que tem cumprido sempre o seu dever, única e exclusivamente o seu dever. O seu dever há-de continuar a cumprir, emquanto o Parlamento o honrar com a sua confiança. (Apoiados').

No dia em que o Parlamento lhe indicar que andou mal, abandonará o seu lugar. Mas sairá dele contente consigo mesmo, porque até hoje, apesar de tudo e contra tudo, tem sabido cumprir o seu dever. (Apoiados}.

O orador passa a historiar o que é a questão dos bairros sociais.

Já antes de ser Ministro do Trabalho, haviam chegado até ele os boatos de irre-gularidades cometidas a dentro dos Bairros Sociais. Não quis dar-lhes crédito. Sabe que estamos numa terra onde muito se insinua e pouco se prova; e, por isso, queria ser cauteloso nos seus juízos.

Uma vez na posse da gerência da pasta do Trabalho, chegaram-lhe variadíssi-mas queixas sobre a administração de tais bairros.

Eram-lhe trazidas por pessoas de todas as categorias sociais e políticas' desde o mais conservador até o mais avançado.

Alguns levavam apenas as suas queixas verbais; outros por escrito lhas deixavam; entre elas contam-se as de homens de todos os partidos e até da Federação da Construção Civil.

Estas considerações mostram que nada 'havia contra um partido.

Entretanto, desde que havia uma comissão parlamentar de inquérito, ele, orador, entendeu que era de seu dever calar-se e não se antepor a essa comissão. Não quis dar uni passo em falso nem lançar sobre os homens dos bairros sociais a mais pequena suspeita, nem proceder com menos correcção.

E assim foi que no dia 20 de Março recebeu um ofício que foi enviado ao presidente da comissão parlamentar de inquérito aos Bairros Sociais e que o orador lê à Câmara.

Kecebeu depois uma comunicação, lavrando em seguida o despacho suspendendo o Conselho dos Bairros Sociais.