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Sessão de 22 de Abril de 192 í

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tade lha dará. Assim só pode falar quem tem inteira consciência da sua probidade.

Concluindo, dirá que mal irá a República se não se liquidar com honra este caso e se não tomar a responsabilidade a quem a tiver.

O discurso será publicado na íntegra quando o orador haja devolvido as notas taquigráficas.

0 Sr. Cunha Leal: — Sr. Presidente, saí desta casa absolutamente convencido de que. o debate continuaria na segunda feira. Senão teria ficado nesta sala.

Sr. Presidente, é preciso, absolutamente necessário que num regime de moralidade como é a República, se faça luz, se castiguem os criminosos, mas que também se faça justiça aos homens honrados.

Sr. Presidente, muita cousa se tem afirmado, mas também muita cousa de fantástico eu tenho ouvido.

Eu recebi em minha casa os homens que pertencem ao Conselho de Administração; entre eles há um, que declarei eu que é um homem honrado : Carvalho Araú-jo, a quem vi com lagrimas nos olhos.

1 A questão é uma questão de moralidade para o regime!

i Antes de dizer a miuha opinião sobre este caso, eu direi ao Sr. Augusto Dias da Silva: V. Ex.a depois desta sessão vai deixar de voltar ao Parlamento!

Pelo que ouvi, sou a concluir que a questão nas mãos de Y. Ex.a teve um mau defensor. Nas mãos de V. Ex.a morrem todas as questões. (Apoiados}.

A questão tinha um só aspecto.

Existia a informação de uma comissão parlamentar de inquérito, que propôs ao Ministro a suspensão do Conselho de Administração. V. Ex.a aguardaria o resultado do inquérito e nem mais uma palavra deveria ter pronunciado, porque era antepor-se a julgar a quem de direito!

Fez mal Sr. Dias da Silva.

O Sr. Augusto Dias da Silva (interrompendo) : — j Quem me obrigou a ler os documentos foi o Sr. Ministro!

• O Orador: — A questão está entregue a uma comissão de inquérito; esperemos o relatório! Se V. Ex.av tivesse sido pronunciado criminalmente, nos termos do artigo 18.° da Constituição, eu seria o

próprio que proporia a cessão das suas funções legislativas. (Apoiados)

Quando eu vi V. Ex.a naquela tribuna a arrastar palavras sobre pahvras, factos sobre factos, tive a impressão de que V. Ex.a se estava condenando.

j É preciso que a República se dignifique. Temos ^vivido numa atmosfera de suspeições. É preciso que isto acabe e que os criminosos, se os há, sem excepção entrem na cadeia! (Apoiados)

Só assim o regime se purificará.

E preciso seleccionar os partidos e que os ódios não sejam apenas para atingir um determinado organismo!

Não haja dúvida: a República afunda-se porque não há regime que resista a estas cousas.

^ Como poderá viver um regime com constantes suspeições e acusações e sem haver criminosos?

Então somos todos agarrados a este di lema fatal que os nossos adversários não têm sabido pôr: ou não há tantos criminosos e somos uns desvairados, ou, se os há, nós todos somos seus encobridores.

Sr. Presidente, toda esta discussão que tem havido é extemporânea. Adiantamo-nos ao juízo da comissão de inquérito.

Trazendo estes factos aqui, prestamos um mau serviço ao país e à Repbúlica.

Uma cousa havia, comtudo, que tinha entrado no domínio dos factos debatidos, e que era necessário apurar-se porque homens honestos não podem estar sujeitos a determinadas acusações sem poderem ser comprovadas ou não.

É o caso do célebre complot que foi abrangido na última amnistia'. Não sei porquê. Pois na verdade não acho que possa classificar-se de questão social esta cousa de se juntarem indivíduos com o fim de assentarem na morte de um homem.

Uma voz: — Foi considerado um crime político.

O Orador: — Julguei que era um crime religioso não sendo social. (Risos).

Mas vamos adianto. Esses homens não foram julgados. Estão sob a acusação que lhes foi feita. Não podem fazer prova negativa.