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Diário da Câmara dos Deputados

Não sei quem estava no Governo ao tempo, pois que .tantos Governos têm passado pelas cadeiras do Poder; mas, fosse qual' fosse, não cumpriu o seu dever.

Se se tivesse feito o que fez a Bélgica, a tempo e horas, estou convencido de que de há muito as campanhas da África do Sul contra nós teriam acabado, e que o Sr. Semuths, que é um homem que tem a ambição de fazer do seu país um grande país, mas que é cheio de lealdade, vendo que a nossa nação inteira -se levantava contra aqueles que induziam os pretos contra as nossas autoridades, seria o primeiro a dizer que não permitiria que esses actos se repetissem, e teria para conuosco o mesmo procedimento que teve para com a Bélgica: «Srs. portugueses, tranquilizai-vos, que eu sou homem hon-mem honrado, e não permitirei que a vossa integridade seja molestada».

Podemos estar certos de que assim o faria, e como, de resto, a União é já um país tam independente que o seu primeiro Ministro pôs a sua assinatura no Tratado de Versalhes, em pé .de perfeita igualdade com os representantes dos países aliados, nós e ele poderíamos ir até o pacto de garantia, porque o interesse de todos os portugueses era discutir com ele todas as condições.

Mandamos delegados nossos ao Cabo, no intuito de negociarmos um novo convénio; porém, foram-nos apresentadas condições de tal mbdo incompatíveis com a dignidade nacional que necessário foi'romper imediatamente as negociações.

Se benv que até hoje, Sr. Presidente, lhes tenhamos dado todas as facilidades, o que é verdade ó que, com o intuito certamente de estrangular o porto do Lou-ronço Marques, nos ameaçaram já com a supressão da mãp de obra portuguesa e com a construção dum outro porto, que deverá custar uns 15 milhões de libras, e que levará uns dez a doze anos a construir. ,

E realmente interessante, Sr. Presidente, o que se diz relativamente à mão de obra, pois a verdade é que a África do Sul vive das minas, se bem que hoje a agricultura esteja ali muito desenvolvida.

Já ali se produz tudo, não se importando como antigamente.

O que é um facto é que, segundo um

inquérito que o Governo msndou fazer por um magistrado, veio a saber-se que, além de acusações e calúnias, eles aproveitaram a sua passagem pela nossa colónia para provocarem revoltas dos indígenas contra nós. ^

Quanto à mão de obra, eu vou ler à Câmara um relatório da emigração, pelo qual V. Ex.as verão que a percentagem tem aumentado desde 1909 a 1920.

O ^que é um facto, Sr. Presidente, ó que temos feito esforços e sacrificado quási todas as receitas da província ao porto de Lourenço 'Marques, onde já temos enterrados perto de 4 milhões do libras, de modo que a administfacão directa do Estado, mesmo em serviços autónomos, tem dado provas de ser quási sempre feliz.

%Seria o ponto da administração dos caminhos de ferro passar para uma grando empresa, garantindo-se o Estado dos valores que lá tem, e com capitais portugua-ses, e, porventura, do Brasil.

Há anos que havia governadores que se davam ao incómodo de às 7 horas aparecerem nos cais a verificarem os trabalhos, mas hoje isso não acontece ; e como diz num telegrama, só se trata de.política.

Nós devemos fazer todos os sacrifícios para que não continue a campanha que contra nós se tem feito, e não me canso de o repetir.

Sr. Presidente: as palavras «política do silêncio» não são minhas, pois vieram pela primeira vez escritas num jornal inglês por um jornalista que veio a Portugal entrevistar os nossos homens públicos por ocasião da intervenção na guerra, e que, ao regressar a Londres, disse que ficara surpreendido de ver os primeiros ho-meiros homens de Estado portugueses terem todos por hábito a política do silêncio.

A política do silêncio teve o seu tempo.

Hoje acabou em todo o murdo.

Por mais alto que seja o valor dos homens públicos, têm sempre de se apoiar na opinião pública, dando conhecimento ao país do que se passa.