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• Sessão de 15 de Dezembro dê 1922

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Por isso, o facto de nada sabermos está servindo para constantes sobressaltos, que sabe Deus quando acabarão!

Se não fosse a política do silêncio, o povo português já saberia o que fizeram os nossos delegados nessa conferência.

São passados três anos e nada se sabe do que eles trataram nas Conferências de Versailles, Bruxelas e Génova, e as suas palavras só eu e mais alguns portugueses o conhecerão,, pela leitura dos compte ren-dus que foram publicados nos jornais estrangeiros, e que todo o mundo pôde ler.

O povo português sabe vagamente o que se passou, pelo que algum delegado português que vai lá fora vem dizer aos jornais.

E ó tal o vício da política do silêncio, que alguns dos nossos representantes, haja o que houver, não dizem uma palavra.

Ainda há pouco, na última reunião da Sociedade das Nações, tivemos dois representantes nossos.

Por sinal que fomos maltratados nessa sessão.

Ficámos à porta da Sociedade das Nações, ao passo que entraram neutros, e até um que era quási neutro entrou por ter emprestado 500 pesos a um dos beligerantes, num dado momento.

No dia em que essa conferência acabou, Juvenal, político e jornalista, fazendo a invocação patriótica, referiu-se ao esforço dos aliados, ao sangue derramado por cada um dos aliados e, aludindo a cada um dos representantes de cada país, passou por cima dos delegados portugueses, e não pronunciou o nome do Portugal.

Pois esses dois delegados, cujos serviços à pátria são enormes, esses dois homens não sentiram a necessidade de falar para dizer ao mesmo Sr. Juveiial que Portugal também tinha estado na guerra; e um desses delegados, estando há pouco tempo em Lisboa, foi para os jornais dizer que lá fora não- se fala em nós e que .não podemos fazer cousa alguma.

Outro delegado disse a um jornalista: «Imagine que ainda não nos pagaram aquilo que gastámos», como se os jornais fossem o papel selado, para requerer ao Ministério dos Negócios ^Estrangeiros os vencimentos em atraso!

Persistir na «política do silêncio», é, a meu ver, servir mal o país, sobretudo

tratando-se de casos tam graves como este que acabo de' referir e à nossa independência está ligada a continuação das nossas colónias, pois no dia em que as perdêssemos, nesta nesga da península, á beira mar plantada, só podíamos fazer uma cousa': um cortejo fúnebre à Pátria.

Tenho dito.

Vozes : — Muito bem.

O orador foi muito cumprimentado pelos S?*s. Deputados do grupo dos independentes.

O orador não chegou a distribuir, revistas, as notas taquigráficas que lhe f oram enviadas.

O Sr. Ministro das Colónias, não fez a revisão do seu discurso.

O Sr. Agatão Lança:—Pedi a palavra para manifestar a V. Ex.a e à Câmara o que eu penso acerca do depoimento que tenho de fazer no tribunal mixto militar.

Eu, como Deputado da nação, podia eximir-me a ir, mas tenho o maior empenho e o maior interesse em depor.

De mais é do conhecimento de V. Ex.a e também da nação, e os jornais diários de Lisboa já reproduziram na íntegra, um novo depoimento que fiz perante a jus; tiça.

Mas eu francamente não compreendo, como o tribunal militar mixto, que foi criado pelo projecto de lei que tive a honra do apresentar nesta Câmara, e que, • apesar de ter sofrido violentos ataques, não só aqui dentro, mas até da imprensa, consegui fazer vingar.

Direi agora: mal irá à justiça 'desta terra, mal irá aos supremos interesses da Eepública se não se fizer completa luz sobre os casos sucedidos em 19 de Outubro. '

Não compreendo como a nós, Deputados, não seja fixado um dia para irmos depor.

Não há nenhuma lei que nos obrigue a ler os jornais para saber esse dia, sendo por essas indicações que eu devo saber quando tenho de me apresentar.

Portanto manifesto o meu completo desacordo com a deliberação do tribunal militar, ontem tomada.