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Diário da Câmara dos Deputados
êle marca um dia como qualquer outro dia. Assiste-nos todo o direito de o distinguir; ninguém pode estranhar que o comemoremos.
Faz hoje quatro anos, Sr. Presidente, que filhos da mesma terra, com armas na mão, se defrontaram, batendo-se uns pela República, outros contra ela se tendo levantado. E dum lado e doutro muitos para sempre tombaram.
Da luta sangrenta saíram uns vencidos, os outros vencedores. Pertenço eu, pertence o bloco das direitas republicanas, pertencemos todos os republicanos ao grupo daqueles que venceram. Como vencedores, e vencedores senhores da sua vitória, temos de falar e proceder. E, sendo assim, não nos ficará mal, parece-me, usar de certa nobreza para com os vencidos, que de mais são portugueses, como nós o somos.
Não temos neste momento de julgar o acto então praticado pelos vencidos. Não temos também de apreciar-lhe os determinantes. O acto foi julgado e por quem de direito o podia julgar, e é cedo ainda para a história o considerar. Recordar a jornada de há quatro anos, recordá-la com júbilo, está certo. É só o que faz e ao que se associa o bloco das direitas republicanas. Os que se bateram eram portugueses, diferentes no pensar quanto às excelências dos regimes políticos, iguais no sentir, apraz-me acreditá-lo, quanto ao amor pela Pátria comum.
Mas, Sr. Presidente, recordar a jornada de Monsanto é recordar uma grande lição. Mais uma vez se mostrou então, e de novo se mostraria hoje, se fôsse necessário, que, a República continua tendo fortes raízes em muitos corações portugueses; mais uma vez se viu que a fé republicana continua sendo em Portugal uma viva fé! Não podemos esquecer a lição. E é a nós dirigentes que sobretudo nos corre o dever de fazer tudo para que se mantenham íntegros aqueles generosos princípios, pelos quais tantos se têm já sacrificado, e com tamanha abnegação que os próprios adversários hão de, no íntimo da sua consciência, reconhecê-la.
É necessário, Sr. Presidente, que tenhamos sempre em vista os altos interêsses da República, só a êles atendendo.
E é assim procedendo que nós melhor prestamos justas homenagens àqueles que pela República souberam morrer.
Se além túmulo alguma cousa pode chegar do que se passa nesta vida de tristes contingências, nada mais consolador para os heróicos defensores do regime lá chegará do que o reconhecimento de não ter sido inútil o seu sacrifício. Mas como verdadeiramente útil só poderá ser reconhecido quando, servindo de exemplo aos que ficámos, nos leve a ter como dominante preocupação o tornar a República capaz de condicionar à Pátria crescente grandeza, capaz de lhe proporcionar nobre e belo destino.
Tenho dito.
Vozes: — Muito bem.
O orador foi muito comprimentado por vários lados da Câmara.
O Sr. Agatão Lança: — Aproveito a ocasião de usar a palavra para agradecer ao Sr. Aires de Ornelas as suas palavras que reputo imerecidas às minhas modestas qualidades de marinheiro.
S. Ex.ª foi um dos soldados que mais se distinguiram nos rincões africanos.
O Sr. Presidente: — Já deu a hora para se continuar o debate que está marcado na ordem do dia.
Vozes: — Fale, fale.
O Sr. Presidente: — Nestas circunstâncias considero generalizado o debate.
O Orador: — Não foi sem uma grande emoção que ouvi as palavras de S. Ex.ª e cumpro um grato dever retribuindo-as.
Mas o Sr. Aires de Ornelas, como militar ilustre que foi, quis habilmente desviar a questão do campo em que estava a minha moção, que não contendia diretamente com o Sr. Aires de Ornelas. S. Ex.ª, como militar, foi um estratégico e por isso quis desviar um pouco a questão para campo diferente daquele em que eu a havia pôsto. Assim é que reconheço qualidades ao Sr. Aires de Ornelas, para poder sempre admirar a sua obra de colonial perante os portugueses de lei, perante os militares que sabem honrar as armas da Pátria, e tenho autoridade para