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Diário da Câmara dos Deputados
dêsse grande génio, que se chama Clémenceau, digo com autoridade que a revolução monárquica foi uma traição não só contra a República, mas também uma traição contra a Pátria.
Muitos apoiados no centro e esquerda da Câmara e protestos veementes dos Srs. Deputados monárquicos.
Sussurro.
O Sr. Presidente agita a campainha.
O Orador: — Numa assemblea tam alta como esta, penso, entendo que temos obrigação de acentuar êstes factos...
Apoiados na esquerda.
O ilustre Deputado Sr. Carvalho da Silva, quando falou e disse que na minha moção só se prestava homenagem aos mortos da República, pretendeu concluir que a minha alma de republicano distinguia entre mortos republicanos e mortos monárquicos.
Ora se eu não tenho hesitado em expor a minha vida pela República, quando os monárquicos se encontram vencidos, respeito-os.
Apoiados.
Sussurro nas bancadas monárquicas.
O Orador: — A minha moção presta homenagem aos mortos, sem distinguir se pertencem ao arraial A, se ao arraial B.
Para terminar, digo a V. Ex.ª e à Câmara que me sinto hoje numa das horas mais felizes da minha vida, por ter tido mais uma vez a fortuna de saber interpretar o sentimento da Câmara verdadeiramente republicana, e da nação que quere viver sob a égide da República, pois reconhece que só por meio dela poderá alcançar a continuïdade dos grandiosos dias do passado.
Tenho dito.
O orador não reviu.
Foi lida na Mesa a moção apresentada pelo Sr. Ginestal Machado.
Seguidamente foi admitida e entrou em discussão.
O Sr. Presidente: — Tem a palavra o Sr. Paulo Cancela de Abreu que há pouco a pediu para invocar o Regimento.
O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Embora tenha passado já a oportunidade para eu invocar o artigo 65.º do Regimento, eu não deixo de lembrar que é preciso ter presente a sua doutrina.
Devo dizer, em nome dêste lado da Câmara, que repilo enèrgicamente todas as referências insultuosas, injustas e impróprias dêste recinto, dirigidas a correligionários nossos.
Nada mais.
O orador não reviu.
O Sr. Presidente: — Cumpre-me dizer a V. Ex.ª que não ouvi que o Sr. Agatão Lança tivesse empregado no seu discurso quaisquer palavras injuriosas.
S. Ex.ª fez no uso do seu direito a apreciação de um facto, e V. Ex.ª está também no seu direito de o apreciar como entender.
O Sr. Carvalho da Silva: — Eu não tencionava falar mais sôbre o assunto, mas sou agora forçado a abandonar êsse meu propósito, por algumas referências feitas pelo Sr. Agatão Lança.
Declarou S. Ex.ª que o movimento de 5 de Dezembro fôra uma traição à Pátria, visto estar-se em plena guerra.
Eu não penso da mesma forma e nisso até não faço mais do que prestar justiça às qualidades pessoais do ilustre Deputado.
Em 14 de Maio de 1915, já havia a guerra e em 14 de Maio de 1915 rebentou em Portugal uma revolução na qual, segundo creio, tomou parte o ilustre Deputado Sr. Agatão Lança.
Ora eu não faço a injúria de o considerar traidor à Pátria.
Também foram aqui apodados de traidores os oficiais que tomaram parte no movimento de Monsanto, porque foram combater pela monarquia, quando haviam jurado fidelidade à República.
Não acompanho êsse modo de vêr.
Por essa teoria todos os oficiais revolucionários de 5 de Outubro teriam sido traidores e até V. Ex. a, Sr. Presidente, por quem todos nós temos a máxima consideração, teria sido um traidor.
Também V. Ex.ª e todos os demais oficiais que entraram no movimento que implantou a República em 5 de Outubro de 1910 tinham jurado fidelidade à monarquia e entretanto, como os seus ideais eram republicanos, nobremente resolveram defendê-los.