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Diário da Câmara dos Deputados
Em virtude da grande desvalorização da moeda, o valor não é em Portugal o elemento que melhor nos habilita a julgar com exactidão qual o verdadeiro movimento comercial do País.
Temos de recorrer a um outro elemento, que dá lugar a uma determinação mais exacta da verdade, qual seja o quantitativo das mercadorias.
Em 1919, precisamente o período em que, acabada a guerra, Portugal entrava numa época de paz, o nosso movimento comercial foi de cêrca de metade do de 1913. Esto aspecto da questão é aquele que com maior nitidez esclarece o problema e também aquele que constitui um indicador mais seguro para determinar a grande obra que há a fazer. Essa obra é tríplice e constituem-na o melhoramento dos nossos portos, o desenvolvimento das nossas relações comerciais e, em especial, o desenvolvimento do nosso comércio com as colónias.
Quanto ao melhoramento dos nossos portos, não posso deixar de salientar neste momento a situação verdadeiramente extraordinária em que se encontram três dos mais importantes portos de Portugal: o porto grande de S. Vicente, o porto do Funchal e o porto de Leixões.
O porto grande de S. Vicente ocupa uma situação verdadeiramente privilegiada, sendo um dos mais notáveis do mundo. Constitui um ponto obrigatório de passagem pára a navegação do sul, mas acha-se ao abandono, e entregue ao privilégio das suas magníficas condições naturais.
O pôrto do Funchal encontra-se numa situação ridícula, visto que não tem cais acostável.
No momento de maior temporal os barcos têm de sair daquele lugar para procurar abrigo noutro porto, e assim a riqueza foge para outros portos.
O porto de Leixões ocupa uma situação especial, principalmente perante as classes produtoras do norte, e que V. Ex.ªs, continentais, conhecem muito melhor do que eu.
Andou-se a ver o que se havia de fazer em relação a êste porto, levantarem as suas condições, pelo decreto ruïnoso de 1921, pelo qual os direitos são pagos em ouro no porto de Leixões, revertendo a favor dele apenas uma parte em escudos. A meu ver deveria ser entregue ao porto de Leixões o produto das suas receitas próprias.
Em três pontos tem naturalmente de firmar-se a nossa constituição económica: a Inglaterra, a Espanha e o Brasil.
A Inglaterra, nossa antiga aliada, que tem um movimento comercial representado por 54 por cento; a Espanha, que pela nossa aproximação dêsse país é elemento para nos convencer a realizar empreendimentos que melhorem o intercâmbio, tornando-o maior do que antes da guerra, e o Brasil é ponto de apoio em que o Parlamento devia fixar as nossas relações comerciais.
Animados os dois países da mesma ânsia de entendimentos, devemos convencer-nos de que é interessante estabelecer entre os dois países, no campo económico, um regime em que o porto do Lisboa desempenha um grande papel no movimento comercial entre Lisboa e o Brasil, pelo estabelecimento de carreiras de Lisboa.
Antes e durante a guerra deixámos completamente abandonado o mercado do Brasil às nações rivais da nossa, e assim, procurando entendimento entre as duas nações, seria essa, creio eu, a mais brilhante e mais benéfica consequência que poderíamos desejar do famoso raid e da visita do Chefe do Estado ao Brasil.
O Govêrno tem por isso de não só pròpriamente se apoiar no seu pessoal de carreira, mas tem de fundamentar-se em trabalhos especializados.
Entre a comitiva presidencial foi uma figura encarregada de estudar esta especialidade. Refiro-me ao Sr. Francisco António Correia. Tive ocasião de falar com S. Ex.ª depois do seu regresso, e encontrei-o cheio de esperanças e inteiramente confiante numa acção futura entre Portugal e o Brasil.
Da entrevista que S. Ex.ª teve com o Ministro das Relações Exteriores e com o Presidente da Câmara do Comércio chegou o distinto economista à conclusão de que um grande entendimento entre os dois países era necessário, possível e profícuo.
Não sei, porém, se os trabalhos e conclusões de S. Ex.ª foram tidos na devida conta pelo Govêrno.
Sr. Presidente: a obra tríplice a que