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Diário da Câmara dos Deputados
Houve um regimento, o 33 de infantaria, que preferiu a sua desonra a ir para a guerra.
Sr. Presidente: eu tenho prazer em me lembrar que fui um dos que saí daqui para ir ocupar o meu lugar, onde estive como soldado e tive a glória de concorrer para a obra de estabilidade da nossa nacionalidade.
Mas, Sr. Presidente, vamos encarar o facto sob o aspecto político.
Em 1890, a nossa aliada com o ultimatum arrancou-nos o coração da África.
Foi então que nos convencemos que as nossas colónias eram necessárias à nossa vida.
Mantivemos depois disso as nossas colónias pela rivalidade entre duas grandes nações: a Alemanha e a Inglaterra.
Se fôsse necessário, como condição da paz entre essas duas nações, sacrificar as nossas colónias, V. Ex.ª tenha a certeza de que o caso da sua perda se daria e todos sabem que houve um tratado secreto em que as nossas colónias eram divididas.
Com o regime mais tarde estabelecido da porta aberta entregámos a nossa colónia de Angola à Alemanha, chegando um jornal alemão a dizer que Angola era portuguesa porque pagava ao funcionalismo, mas que de facto pertencia já ao Império.
Eu, como Deputado, tenho o direito de expor as minhas opiniões.
Pregunto agora: não era chegada a nossa hora para criticar do Livro Branco?
E como penso assim pregunto se tínhamos ou não razão de ir para a guerra.
Talvez à nossa aliada, cujos serviços reais consistiam em nos defender da Espanha, não conviesse a nossa atitude perante todas as nações do mundo, e talvez isso explique como a nossa olhou com benevolência para o dezembrismo.
A nossa situação em África poderia ser atribuída apenas ao nosso egoísmo, e sendo estéril podia trazer-nos uma prova de incapacidade.
De resto, o futuro das colónias foi tratado na Conferência da Paz, e, portanto, se nós não tivéssemos ido para a Flandres não tínhamos quem defendesse nessa Conferência os nossos interêsses coloniais.
Parece-me, pois, que sempre valeu a pena termos ido para a guerra. A nós portugueses salvou-nos a guerra, pelas razões que expus, e se nós hoje nos debatemos com uma grande crise económica e financeira que eu ouço atribuir à guerra, mas que afirmo ser devida à nossa desordem, devo dizer também que ela não é irremediável exactamente pelo facto de termos entrado na guerra.
Mas ditas estas cousas, que eu procurava ensejo para dizer, vamos ver o que foi o 9 de Abril.
O 9 de Abril foi devido ao abandono que votou o dezembrismo ao Corpo Espedicionário Português. Havia batarias de artilharia apenas, com dois ou três oficiais, e batalhões de infantaria reduzidos ao mínimo, estando até sargentos a comandar pelotões.
Foi no momento em que a guerra se tornou mais intensiva, que o esgotamento do exército português mais se evidenciou sobretudo no mês de Março, em que se vivia apenas entre metralha e gases, o que levou o comando inglês a ordenar a substituição da divisão portuguesa, divisão que era uma simples divisão, quando nós tivemos a honra de ter no front um corpo de exército.
As condições em que lá estávamos oram as que acabo de citar, quando quis o destino que se dêsse o 9 de Abril que esmagou o núcleo de portugueses. Ora êste esmagamento é que serve para atestar a todo o mundo a glória de Portugal.
Tenho dito.
Vozes: — Muito bem, muito bem.
O Sr. Morais Carvalho: — Sr. Presidente: a homenagem que a Câmara ora presta aos combatentes da Grande Guerra, em comemoração do 9 de Abril e do aniversário que passou ontem, é absolutamente justificável, e a ela me associo com orgulho, em nome da minoria monárquica.
Os soldados portugueses que, fez ontem cinco anos, tombaram na França, na batalha de Lys, morreram todos em holocausto da Pátria. É êste o pensamento que deve dominar o nosso espirito, porque é o único que nos pode unir. (Apoiados). Quaisquer outras considerações de ordem crítica, por mais justas que sejam, parece-me não terem cabimento nesta altura.