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Sessão de 10 de Abril de 1923
que entendo que a comemoração dêste acontecimento não exije muita retórica. Eu quero simplesmente levantar duas ou três afirmações que aqui se fizeram.
Sr. Presidente: se a hora não é de recriminações, é todavia de justiça e de verdade histórica. A justiça e a verdade histórica afirmam-se em todos os momentos e nunca, se deve perder a ocasião de se afirmar.
Não sei se foi ou não a maioria, ou antes o partido que representa a maioria, que tomou a iniciativa da guerra, porque eu sempre ouvi dizer que nós tínhamos ido para a guerra convidados pela Inglaterra.
Ora se fomos convidados pela Grã-Bretanha, nenhum partido tomou essa iniciativa. Evidentemente, qualquer partido que estivesse no Poder teria de aceder ao pedido da Grã-Bretanha. Parece-me errado estabelecer que nós fomos para a guerra, não a convite da nossa aliada; porque, se assim fôsse, então dávamos de certo modo razão aos adversários dessa intervenção. Eu por mim que sempre defendi a nossa intervenção, e não estou arrependido disso, estou convencido de que fomos para a guerra, porque tínhamos de ir para lá em virtude, do tratado que nos une a uma nação que tinha entrado nessa grande pendência.
Mas, Sr. Presidente, se não houve nenhum partido que tomasse a iniciativa da guerra, houve todavia a obrigação que não foi cumprida de auxiliar o partido que então estava no Poder. Êste é que é o facto.
Desde que a guerra tinha sido declarada, Portugal não tinha que discutir se devia ir ou não para êsse conflito.
Desde que se deu a entrada na guerra, desapareceram todos os partidos; e diante de nós só apareceu a guerra. Mas isto é que se não fez. Não quero agora aqui censurar ninguém porque, repito, a hora não é de retaliações nem recriminações; mas o que também não posso, eu que defendi tenazmente a intervenção na guerra, é consentir que se diga aqui que ninguém foi contra a guerra. E não posso consentir não só por ter o meu nome ligado à guerra, mas porque dêsse facto da guerra ser contrariada resultou uma cousa tremenda para Portugal; e essa cousa tremenda foi não termos feito na guerra a figura que devíamos ter feito, nem tirarmos da guerra o resultado que devíamos tirar.
Esta é que é a verdade.
Não houve quem combatesse a guerra?
Então porque estive eu três meses metido na cadeia?
Houve o mais vivo combate à guerra. Contrariou-se a guerra por todas as formas.
Êsse combate à intervenção na guerra desmoralizou o exército, desorientou a opinião pública, e dessa desmoralização e dessa desorientação resultou não só o não desempenharmos o glorioso papel que devíamos ter desempenhado, mas o cairmos na orgia escandalosa em que temos vivido. Há dois erros capitais cometidos pelos portugueses que eu quero registar aqui. Um dêles foi a traição — é o verdadeiro nome — que se desenvolveu durante a guerra; outro foi a orgia em que caíram todos os partidos depois da paz. Se, feita a paz, nos tivéssemos sabido manter naquela atitude de moralização e de respeito pelo Direito, pela Justiça e pelo trabalho em que nos devíamos ter mantido, nós seríamos hoje o primeiro povo da península e não estaríamos assistindo a êste espectáculo único de a Espanha ter maior consideração internacional que o país que combateu ao lado dos aliados.
Era isto o que eu queria dizer. De resto, associo-me à proposta de V. Ex.ª e escusado era dizê-lo, porque, tendo defendido a guerra, não me tendo nunca arrependido de a defender, tàcitamente lhe estava dada a minha adesão. Além, todavia, dessa adesão tácita, eu queria declarar expressamente que me associava às palavras de V. Ex.ª e que o principal acto de Portugal nos últimos tempos foi a sua entrada na guerra, lamentando apenas que dêsse facto se não tivessem tirado os resultados que seriam de esperar.
Tenho dito.
O orador não reviu.
O Sr. Pires Monteiro: — Sr. Presidente: após as considerações produzidas pelos ilustres oradores que me precederam, tenho a convicção de que a proposta de V. Ex.ª será aprovada por aclamação.