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Diário da Câmara dos Deputados
intuição tam clara e tam nobre do cumprimento do seu dever? Onde era possível levar à guerra soldados em circunstâncias morais desta natureza?
O ribombar do canhão, o rebentar de uma granada, o explodir de um torpedo nada mais são do que incidentes materiais como todos aqueles da mesma natureza que encontramos debaixo dos pés todos os dias; não intimidam ninguém se houver a base moral, princípios morais, moral colectiva, a fôrça moral.
Essa importa ao homem que está senhor de todas as suas responsabilidades de cidadão, quer expludam granadas ou sibilem balas!
O que é isso, Sr. Presidente?
Não é nada, absolutamente nada. Vive alheio a isso tudo, porque apenas está dominado por fôrças estranhas, por eflúvios estranhos de natureza, convincente que o mantêm no seu pôsto, e essa atmosfera de ordem moral é que não se realizou em Portugal.
Sr. Presidente: já dizia não sei quem que, quando a língua de um homem por prudência não sabe dizer a verdade, essa prudência é mais vil que a mais vil das cobardias, e eu hei-de dizer a verdade.
Desde a primeira hora se disse que a nossa intervenção na guerra era um acto puramente mercantil; era uma negociata. E um jornal que se publicava à noite, A Notícia publicou artigos nesse sentido e até aqui se atacou o Govêrno.
Uma voz: — Nas próprias trincheiras se afirmavam cousas idênticas.
O Orador: — Os oficiais milicianos eram tratados com desprêzo; e até os instrutores não lhes apertavam a mão, havendo para com êles toda a falta de consideração, chegando a não acreditar no nosso patriotismo.
Mas um dia chegará em que se há-de fazer justiça, doa a quem doer.
Eu estive em França como miliciano.
Não fui herói; e se não sofri agruras materiais, sofri profundas chagas morais, pois chegava a parecer impossível que não se acreditasse na minha boa fé, no meu patriotismo, cousas que eram recebidas à gargalhada.
Sr. Presidente: o que teria sido a vida do Corpo Expedicionário Português em França se os nossos homens públicos tivessem sabido ou querido manter até o fira toda a sua primitiva eficiência, dizimando o morbus que corroendo-o intensamente acabou por o matar?
Uma acção militar foi sempre julgada pelo esfôrço da colectividade que nela se empenhou.
E nós nessa data, data sempre memorável do 9 de Abril, só tivemos para salvar a honra do nosso nome algumas centenas de criaturas que, individualmente, souberam conservar-se na nobre e elevada posição de soldados portugueses, olhos, postos na Pátria, que tam denodadamente souberam defender.
Ainda bem, Sr. Presidente, que neste Parlamento nem todos se acobertaram com o manto das imunidades para se eximir ao cumprimento do seu dever. Foram muitos, felizmente, os parlamentares que tomaram parto na Grande Guerra, ao lado dos filhos de povo, dêsse povo que não queria a guerra, mas que foi para a guerra alevantadamente quando se lhe mostrou a necessidade imperiosa e insofismável da nossa intervenção.
Sr. Presidente: a minha fala hoje, aqui, é de louvor para todos quantos souberam, então, cumprir o seu dever de portugueses, mas também é de análise às circunstâncias e às pessoas que proporcionaram ao nosso esfôrço militar verdadeiramente gigantesco, um desfecho bem pouco próprio das nossas tradições militares.
No momento em que se comemora o 9 de Abril tinham de ser ditas estas palavras para que, à fôrça de repetidas, elas possam constituir uma lição que sirva para de futuro impedir que, em idênticas circunstâncias, se produzam os mesmos fenómenos.
Sr. Presidente: neste momento em que se aponta à veneração nacional o nome daqueles que mais se salientaram na Grande Guerra, é justo levantar acima de todos o nome do general Norton de Matos o grande organizador do Corpo Expedicionário Português, a alma da nossa participação na guerra.
Muitos apoiados.
O orador não reviu.
O Sr. Homem Cristo: — Sr. Presidente: não roubarei muito tempo à Câmara, por-