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Sessão de 10 de Abril de 1923
um bravo marinheiro que tam bem soube honrar a sua farda.
Refiro-me ao tenente Raúl Cascais, que no seu pôsto foi atingido mortalmente pela explosão duma mina flutuante.
Quem, como eu, lidou de perto com Raúl Cascais, conheceu bem as suas raras qualidades de homem e de marinheiro.
O seu exemplo de valentia o de patriotismo, certamente perdorará através a História, para incitamento das gerações futuras.
Foi depois dêste facto que se deu o glorioso acontecimento em que Carvalho Araújo perdeu a vida.
Sr. Presidente: permita-me V. Ex.ª o a Câmara, que eu cite alguns casos que conheço de pôrto e que concorrem para afirmar a glória, extraordinária do temperamento de valentia que foi Carvalho Araújo.
Fazíamos juntos um trabalho de dragagem de minas na costa de Portugal.
Carvalho Araújo era de todos nós o mais valente, o que mais depressa corria para o perigo e aquele que mais denodamente se dedicava a êsse trabalho ingrato da destruição de minas.
Lembro-me de que, à vista de Cascais, em determinado dia, nós encontrámos quatro minas alemãs.
Tratava-se de destruir essas minas, colocadas na passagem dos grandes paquetes, que demandavam a nossa baía.
Carvalho Araújo avançou com os seus dois navios para cima das minas e tam bem efectuou a manobra que conseguiu juntar as duas minas e rebentá-las simultâneamente.
Logo em seguida, os navios que eu comandava, tinham cortado a amarração de uma das outras minas, fazendo-a flutuar.
Carvalho Araújo, que tinha os seus navios desembaraçados, avançou colocando-se apenas a 40 metros dessa mina, o que foi evidentemente um acto do grande valentia, pois estava estabelecido que a distância mínima a que sem perigo, nos poderíamos colocar era a de 90 jardas ou seja aproximadamente 90 metros.
Era assim toda essa valentia homérica de Carvalho Araújo, e tudo quanto se possa dizer para exaltar essa valentia épica não será demais.
Sr. Presidente: em nome da marinha de guerra portuguesa eu associo-me à proposta de V. Ex.ª prestando a minha mais sincera homenagem ao esfôrço do soldado português na Grande Guerra.
Tenho dito.
O orador não reviu.
O Sr. Tôrres Garcia: — Sr. Presidente:, associo-me à proposta de V. Ex.ª para que os nossos olhares se dirijam para a Batalha, por dois minutos, comovidamente, enternecidamente, tendo diante de mim os cadáveres dos dois Soldados Desconhecidos, que para mim representam a própria Pátria; e diante da Pátria deve-se estar comovido, enternecido, tudo afectando religiosidade, de joelhos como os crentes estão diante do seu Deus, enternecido como os filhos estão diante das mães.
Basta de palavras de glória, à volta dos mortos e dos vivos que souberam honradamente cumprir o seu dever.
O 9 de Abril militarmente pode não ter sido, e não foi, infelizmente, para nós, um feito de armas retumbante, e não o poderia ter sido porque o exército português já estava vencido há muito tempo, já tinha sido vencido na barra de Lisboa; mas é que a comemoração dêste feito deve também servir de lição e talvez não seja mau para regulamento futuro da nossa vida, pormenorizá-lo detalhadamente e ver quais foram as causas dêsse enfraquecimento de potência militar, da eficiência que levou as nossas tropas a serem derrotadas com honra — mas derrotadas.
Os nossos soldados já saíram vencidos de Portugal, mas, embora pareça paradoxo, já saíram cobertos de glória, porque não houve soldado nenhum no mundo que demonstrasse maior compreensão dos seus deveres do que o soldado português, que no momento supremo de sacrifício se viu abandonado de tudo e de todos, até daqueles que por dever profissional lhe deviam toda a assistência;
E há que lembrar aqui, àqueles que diziam que a guerra repugnava a todo o País, um ponto que demonstra bem o contrário de tal afirmação. O batalhão de infantaria n.º 34 saiu do seu aquartelamento sem nenhum oficial. Onde é que se encontram soldados desta têmpera, que, desataviados de educação moral e cívica que não lhe pudemos dar, têm uma