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Diário da Câmara dos Deputados
requisitados para a Guarda Nacional Republicana representa braços arrancados à agricultura.
A maioria dos indivíduos que vão para a Guarda Nacional Republicana é constituída por aqueles que não querem trabalhar; e, assim, êsse recrutamento que se faz para os corpos da Guarda Nacional Republicana, traduz-se num roubo de braços às ocupações agrícolas.
Ainda se os quartéis, se a vida nas casernas, representassem, como deviam, uma escola de disciplina e de morigeração de costumes, uma vantagem resultaria, ao menos, do internamento nas casernas dos elementos arrancados às aldeias para desempenharem funções militares durante algum tempo.
Mas toda a gente sabe, Sr. Presidente, que infelizmente êsse facto se deve em grande parte à própria desorganização dos serviços militares, não só no que diz respeito à Guarda Nacional Republicana, como aos outros corpos do exército.
O que é facto é que a indisciplina é grande; e na maior parte das vezes os camponeses que entram para êsses serviços militares vão para lá ainda com o espírito de disciplina. Quando voltam, porém, para as suas terras vão completamente mudados.
Eu sou, pois, de opinião, Sr. Presidente, e creio que comigo estará muita gente, de que prestaríamos um grande serviço ao país se reduzíssemos a Guarda Nacional Republicana ao estritamente necessário para a polícia das duas grandes cidades, como sejam Lisboa e Pôrto.
O que é uma verdade, Sr. Presidente, é que de dia para dia se vai tornando mais necessário o estabelecimento de uma polícia rural; porém, essa polícia rural não pode ser desempenhada cabalmente pela Guarda Nacional Republicana, muito principalmente pela forma como ela se encontra organizada.
Eu creio, Sr. Presidente, que seria muito mais útil para o país e que daria resultados muito mais práticos se tratássemos de aumentar os corpos de polícia cívica, que existem ainda nas diferentes cidades e distritos do país, procurando alargá-los, de forma que de certo modo pudessem servir do polícia rural.
Isto, Sr. Presidente, a meu ver seria de uma grande vantagem, tanto mais quanto é certo que êles estão habituados a lidar com o povo, podendo assim prestar relevantíssimos serviços, que na verdade a Guarda Nacional Republicana não presta; pois a verdade é que a maior parte dos processos que vão para os tribunais organizados pela guarda republicana são geralmente mal feitos.
A Guarda Nacional Republicana tal como está organizada, Sr. Presidente, não dá resultados apreciáveis nem aproveitáveis; e assim não se justifica, a meu ver, que se continue a inscrever no Orçamento, sob a rubrica «Segurança pública», uma verba tam avultada, tanto mais quanto é certo, repito, que ela não presta os serviços que seriam para desejar, antes pelo contrário, sendo os seus serviços por vezes contraproducentes, pois a verdade é que a ela se deve os roubos que se têm feito nas igrejas, assunto êste que deve estar na memória de todos.
A verdade é esta, Sr. Presidente, é que se não fôsse a Guarda Nacional Republicana, não se teria consumado o atentado que se deu ainda não há muito tempo, o de que toda a Câmara deve estar lembrada, em que o povo pretendeu defender e proibir a venda dos bens de uma igreja, isto é, duma cousa que de direito lhes pertencia.
Assim, eu digo e repito que nada justifica a existência da Guarda Nacional Republicana, visto que ela não está em condições de servir para um corpo de segurança pública, principalmente nas pequenas cidades.
Com a organização que ela actualmente tem não presta realmente serviços de utilidade, não se justificando, portanto, que se continue a inscrever no orçamento uma verba de 37:000 contos, só para a Guarda Nacional Republicana.
O Sr. Francisco Cruz: — E ainda é pouco.
O Orador: — Diz V. Ex.ª muito bem, que ainda é pouco, pois a verdade é que o melhor seria inscrevermo-nos todos, como soldados da Guarda Nacional Republicana, para assim melhor nos podermos defender.
Nas sessões de ontem e na de hoje ouvi fazer interessantes considerações, das quais se pode concluir que uma vez que