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Sessão de 5 de Junho de 1923
300:000 católicos romanos da índia Portuguesa 89. 5 por cento são analfabetos.
Aqui tem a Câmara, em números oficiais, os benefícios do Padroado.
E esta a tam apregoada acção do Padroado.
Se realmente o número elevadíssimo dos missionários mandados para as nossas colónias garantisse de alguma maneira o progresso dessas colónias, nós teríamos hoje o domínio colonial mais civilizado e educado de todo o mundo.
O Sr. Lino Neto (interrompendo): — V. Ex.ª esquece-se da acção civilizadora que os missionários portugueses exerceram no Brasil.
O Orador: — Não foram os padres que fizeram progredir o Brasil.
A civilização e o progresso não se fazem com a fé, mas sim com o desenvolvimento da instrução, do comércio, da indústria e da agricultura.
O indígena não pode, de resto, compreender a religião, porque não tem capacidade mental para isso, sendo portanto tempo perdido aquele gasto pelos missionários na prédica das crenças religiosas.
Os serviços do Padroado são, positivamente, serviços do luxo e não de qualquer utilidade prática e palpável para o País.
Tenho dito.
O orador não reviu.
O Sr. Júlio de Abreu: — Sr. Presidente: a hora vai adiantada e eu não desejo por isso cansar a atenção de V. Ex.ª e da Câmara, tanto mais que concordo com a maioria das considerações dos dois ilustres Deputados Srs. Almeida Ribeiro e Delfim Costa que me precederam e brilhantemente se referiram aos dois assuntos do parecer da comissão do Orçamento que chamaram a minha atenção transferência dos degredados de Angola para qualquer das ilhas de Cabo Verde e Padroado do Oriente.
Pouco por isso poderão adiantar as minhas desataviadas palavras, mas sinto-me na obrigação de esclarecer a Câmara sôbre factos por mim directamente observados e que me parece que poderão de
alguma cousa servir, pelo menos, para aqueles que só cá de longe conhecem o que se passa no ultramar.
Sr. Presidente: eu não tenho procuração de Cabo Verde para me referir como o vou fazer ao caso da transferência dos degredados para qualquer das ilhas do arquipélago, mus o que é certo é que, conhecendo-as todas, com excepção do Saí e Boa Vista, devo declarar com toda a franqueza que essa transferência se me afigura quási impossível.
Para os transferir para qualquer das ilhas habitadas, a isso se oporá a população cujo estado de adiantamento é muito superior ao do nativo,de Angola, além de considerar como impraticável a expropriação duma ilha inteira e de obrigar os seus habitantes a mudarem-se para qualquer outra, pois não creio que se pense em misturar a gente livre com os condenados.
Dos ilhéus desabitados, só o de Santa Luzia pode merecer menção especial, visto ter uma superfície bastante considerável.
Os outros ilhéus, Branco. Raso, Rombo e outros ainda menores, nem vale a pena falar, neles, visto a sua pequena superfície, que em nenhum atinge quatro quilómetros.
Mas só, repararmos que Santa Luzia é uma ilha baixa, em que as maiores altitudes não atingem 300 metros, que o seu clima é de deserto com uma vegetação mesquinha — ervas e plantas rasteiras — e nos poucos anos em que o acaso ali faz cair algumas chuvas, não havendo lá uma única árvore, é claro que ficamos logo com a impressão de que ali se não podem instalar todos os degredados da metrópole e colónias, como se pretende pelos projectos apresentados sôbre o assunto pelos ilustres Deputados Srs. Leote do Rêgo e Abílio Marçal, e que devem andar por 2:000.
Mas há mais. Em toda a ilha e só na costa sudoeste, em frente ao fundeadouro que está entre o Monte Espia e o ilhéu do Leão, se encontra um único poço ex-cavado perto da costa, de onde se tira água salobra, sendo provável que abrindo mais alguns poços nas partes altas dêsse vale, como na vertente ocidental do Monte Grande e no vale ao sul do Monte Agua Dôce, se encontrasse mais água