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Diário da Câmara dos Deputados
enviaram uma representação ao Govêrno em que pediam os meios necessários para realizarem uma grande obra, que até ali não tinham podido fazer.
As missões religiosas, justamente porque não observaram as condições indispensáveis à sua função, mostraram-se incapazes duma obra útil e profícua.
O Sr. Presidente: — Devo prevenir que V. Ex.ª esgotou já o tempo de que podia dispor para fazer as suas considerações.
O Sr. Lino Neto: — Fale! Fale! S. Ex.ª é o relator dêste orçamento, e por isso deve merecer uma deferência especial.
Vozes: — Não pode ser. O Regimento tem de cumprir-se!
O Orador: — Sr. Presidente: eu não quero infringir o Regimento; mas em todo o caso não é justo que o relator, que tem de responder a todos os Srs. Deputados, disponha apenas de meia hora.
O discurso será publicado na íntegra, revisto pelo orador, quando, nestes termos, devolver as notas taquigráficas que lhe foram enviadas.
O Sr. Dinis da Fonseca: — Sr. Presidente: duma maneira prática, as discussões orçamentais para apreciação das verbas que estão inscritas no orçamento seriam inteiramente inúteis.
Tratando-se, porém, do orçamento do Ministério das Colónias, parece-me que seria ocasião de chamarmos a atenção do país para a necessidade que existe de nos interessarmos a valer pela política do levantamento colonial.
As nossas colónias, para a maioria dos portugueses, são uma cousa ignorada, ainda mesmo para aqueles r que têm cursos secundários e superiores.
Para o sentimento das multidões as nossas colónias são consideradas como um lugar de degredo; são as costas de África, como lhes chama o povo, na idea que lhes liga de lugar de penitência.
Sr. Presidente: creio que esta discussão devia ser considerada no sentido de esclarecermos um pouco a nossa política, colonial; mas o Regimento não nos concede mais do que uns escassos minutos para fazermos as nossas considerações, e por isso limitar-me hei a sintetizar numa frase o que poderia desenvolver largamente neste sentido.
Disse o ilustre Deputado Sr. Almeida Ribeiro que a única política colonial tem de ser orientada no sentido de que as colónias vivam e trabalhem para si mesmas»
Estou nesta parte inteiramente de acôrdo com S. Ex.ª, e também entendo que o futuro, não só do nosso domínio colonial, mas até do próprio país, deve ser orientado no sentido de que as nossas colónias? progredindo, possam formar, com Portugal, os Estados Unidos de Portugal, disfrutando uma certa independência.
Não tenho tempo de me referir mais desenvolvidamente a êste aspecto da questão colonial, o que lamento bastante.
Mas, Sr. Presidente, se estou de acôrdo com o Sr. Almeida Ribeiro neste seu modo de ver, não concordo, todavia, com S. Ex.ª, relativamente à sua opinião sôbre o Padroado do Oriente e às missões religiosas.
Disse S. Ex.ª, interpretando nesta Câmara o sentir do livre pensamento, que o Padroado português é uma velharia que, nada vale e que as missões religiosas são uma cousa de luxo que não tem valor absolutamente nenhum.
Vejamos se realmente, neste plano patriótico que deveria ser o levantamento da nossa política colonial, o Padroado português e as missões religiosas são factores para pôr de parte, como disse o Sr. Almeida Ribeiro, ou se no seu conjunto, estas duas instituições não são uma cousa valiosa que é preciso aproveitar.
Afirmou S. Ex.ª que entre centenas de milhões de habitantes que há na Índia, apenas 4 milhões são católicos.
Êste argumento da aritmética é desmentido tanto pela história como pela sociologia.
S. Ex.ª sabe que o valor que nós tivemos não foi, afinal de contas, devido aos milhões de habitantes do nosso país.
O que domina evidentemente não é o número, mas o critério da capacidade.
Domina quem tem capacidade, e foi assim que perante uma população de milhões, que é a população indígena, escravizada pelas castas e pelas superstições religiosas, uma elite católica conseguiu dominar, porque entre êsses povos ignorantes a religião era a única influência que podia existir.