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Diário da Câmara dos Deputados
que são elas a única fôrça que hoje auxilia a colonização como deve ser feita.
A questão das missões está, pois, colocada neste dilema, neste raciocínio simples e claro: nós somos obrigados por convenções internacionais a permitir que entrem missões nas nossas colónias, o que quere dizer que tanto podem entrar missões portuguesas como estrangeiras. Para a questão religiosa, para a Igreja, pouco importa que entrem missões francesas ou portuguesas, o fim pròpriamente religioso cumpre-se da mesma maneira, o que se não cumpre da mesma maneira é o fim patriótico porque, se as missões forem francesas, além do fim religioso a que se destinam farão política francesa, e só podem fazer política de nacionalização portuguesa as missões que forem portuguesas.
Sr. Presidente: se são precisas as missões, é necessário que o Govêrno da República, ou quem quer que seja que nesse assunto tenha interferência, não contrarie a sua acção, porque, devo dizer, a perseguição às missões portuguesas religiosas vem já do tempo da monarquia.
Se queremos missões portuguesas, é necessírio que lhes dêmos os meios indispensáveis à sua existência e o principal meio que elas exigem é a liberdade que se lhes tem negado até agora. Não se podem fazer missões senão como a Igreja as prepara.
Diz-se que as missões religiosas não são competentes; se não são competentes é porque não lhes dão a liberdade suficiente para se prepararem. Uma missão religiosa não se improvisa em oito dias, leva anos a preparar-se.
Se não lhes dão os meios necessários para viverem, como querem que elas vivam?
Então faz-se o- mal e a caramunha?
Então negam-se-lhes os recursos e depois vem dizer-se que não há missões?
Sé queremos ser lógicos e coerentes, se porventura a República quer ser lógica e coerente, se reconhece, como teve de reconhecer a monarquia em 1891, que uma obra de desnacionalização estava sendo feita nas nossas colónias por missões estrangeiras, se a República reconhece, como reconheceu a monarquia em 1890, que foi devido às intrigas dos padres escoceses que se deu o ultimatum.
se a República, repito, quere impedir que se dêem êsses factos, é preciso que se criem as missões religiosas e elas só podem ser criadas por elementos congreganistas, isto é, torna-se necessário conceder a suficiente liberdade às congregações, pelo menos para êste fim, para elas irem lá fora às nossas colónias fazer uma obra civilizadora. Isto é que é lógico e coerente.
O problema, portanto, está assim pôsto.
Sr. Presidente: poderia agora completar a minha argumentação e a prova contra o argumento do Sr. Almeida Ribeiro de que os indígenas não compreendem o catolicismo porque é uma religião muito alta, dizendo a S. Ex.ª que nenhuma missão deixa de fazer a preparação dos indígenas não só sob o influxo religioso, clarificando-lhes o seu espírito, como tam bem despertando e disciplinando a sua actividade por meio do ensino de artes e ofícios.
Temos por exemplo a missão de Bolama; havia em volta dela várias aldeias e depois de instruídos competentemente os naturais eram mandados para essas aldeias a fim de ensinarem os pretos.
Eram por consequência indivíduos mandados para o meio de elementos da própria raça. É assim que sempre procuram trabalhar as missões, fazendo a obra do desenvolvimento da raça.
E, Sr. Presidente, toda a obra que não é feita sob êste aspecto religioso, pela acção exercida no espírito do preto, é uma obra que se reduz a explorar o preto a favor do branco. Seria interessante dizer neste ponto a verdade inteira e completa ao país.
Falamos nas nossas colónias procurando muitas vezes iludir o nosso patriotismo e supondo que com paliativos podemos fazer a política colonial e que consegui» remos melhorar e transformar a mesma política.
Se pudesse alongar-me neste momento em considerações, diria como isto é verdadeiro presentemente. Por exemplo, e cito apenas êste exemplo muito ràpidamente: na nossa colónia de Moçambique a situação do preto do norte de Moçambique é a de ser explorado pelo branco, e é ver quanto as companhias do norte de Moçambique pagam ao preto; $15.
Porventura é um homem livre um homem que ganha $15 por dia?