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Sessão de 7 de Junho de 1923
casos relatados pelo Sr. José de Magalhães.
Apelo para a consciência de todos que me escutam, e muito principalmente pára a daqueles que pelas colónias têm andado, e pregunto se isto não é assim.
Assim é que nós encontramos cidadãos das colónias como empregados públicos em todos os quadros, com garantias e direitos perfeitamente iguais aos que da metrópole vão para as colónias, não havendo sequer qualquer diferença de vencimentos, apesar daqueles estarem na sua terra, e, consequentemente com uma vida mais fácil.
O Sr. José de Magalhães: — Em S. Tomé há um vencimento para o branco e outro para o preto.
O Orador: — Há bem pouco tempo que para os europeus se estabeleceu um subsídio colonial, mas isto em virtude da grande carestia da vida, e concorrer para que êles não abandonem todos os serviços públicos e apliquem a sua actividade no comércio e indústria, como estava já acontecendo.
O Sr. Brito Camacho: — Em Moçambique uma professora, que vivia à moda dos cafres, pediu-me para ter os vencimentos iguais às suas colegas da Europa.
O Orador: — Para os direitos todos querem ser iguais, mas para as obrigações cada um entende a seu modo. Em S. Tomé toda a gente veste à europeia e todos querem saber ler.
O Sr. José de Magalhães: — Infelizmente as escolas são poucas e as crianças têm muitas vezes de ir a mais de três quilómetros, e têm só escola durante três horas.
O Orador: — São mais horas do que cá. Uma das razões por que o indígena quere saber ler é para ser cidadão eleitor. O indígena de S. Tomé, de quem aliás não recebi senão atenções, não gosta de trabalhar nem mesmo para si, e se tem uma roça, por pequena que seja, a sua maior, ambição é arranjar para casa algum serviçal, pois que êle se limita a transportar os frutos e a vendê-los na cidade.
O indígena tem também sempre muitas mulheres, e quantas mais tiver mais se valoriza, gostando imenso que digam que êle tem muitas mulheres.
O Sr. Paulo Cancela de Abreu: — Por cá também há disso.
O Orador: — V. Ex.ª sabe, também, que o indígena vende tudo para gastar numa festa, não tem qualquer noção de economia doméstica; salvo raríssimas excepções gasta se tem quê, sem pensar no dia de amanhã e isto até aqueles que pela sua situação burocrática já tinham obrigação de pensar por forma diferente.
Se o europeu, como se diz, e parece ser verdade, arranjou propriedades à custa dos indígenas por processos menos lícitos, que ainda hoje não podem alguns apresentar a sua documentação, agora os indígenas estão a fazer o mesmo uns com os outros. Isto acontece em S. Tomé o acontece porque a propriedade ali tem muito valor. Como a constituição «da família é1 muito irregular, pois como já disse, tendo os santomistas muitas mulheres, têm também bastantes filhos, e por isso nos inventários é curioso notar que todos pretendem ter um pedaço de cada propriedade que entre em partilhas, ainda que uma seja situada na Madalena e outra na cidade, e apesar da diversidade das mães dêsses filhos, parecendo natural que êles em vez disso pretendessem agrupar-se por família em cada sítio, não o fazem nunca, por mais que se tenha o cuidado de lhes mostrar a conveniência que em tal teriam; e isto porque?
Porque querem êles pedaços aqui, pedaços além, em duas ou mais freguesias?
Para se ludibriarem uns aos outros.
Conheço em S. Tomé muitos casos dêstes, assim com o da venda da mesma propriedade a compradores diferentes.
O Sr. José de Magalhães: — Isso é humano.
O Orador: — Não é bem assim, porque V. Ex.ª sabe que nós europeus, quando por qualquer partilha vimos a possuir uns pedaços de propriedade, preferimos