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Sessão de 26 de Junho de 1923
refugiado nos olhos, e o seu olhar tinha um brilho invulgar, como se quisesse significar que ia encontrar na morte a paz para todos os sofrimentos, para todas as ambições e para todas as vicissitudes.
Leote do Rêgo era alguém; homem de grandes defeitos, de ambições insatisfeitas, sentindo-se injustamente ferido nas suas aspirações, possuía ao mesmo tempo qualidades nobres que lhe impunham o respeito e o reconhecimento do seu mérito.
Leote do Rêgo sabia encontrar em si próprio a grandeza do perdão para aqueles que elo supunha que o não ajudavam a satisfazer as suas ambições, que afinal não tinham outro objectivo que o desejo de servir o seu País.
Leote do Rêgo era, repito, alguém neste País e oxalá que nós, através das lutas políticas, não nos lembremos de que os homens só são alguém depois de morrerem.
Tenho dito.
O orador não reviu.
O Sr. Lino Neto: — Sr. Presidente: por parte da minoria católica associo-me com o vivo sentimento à proposta de V. Ex.ª por motivo da morte do nosso querido colega Sr. almirante Leote do Rêgo.
Efectivamente Leote do Rêgo foi alguém no nosso meio, oficial dos mais distinto da nossa marinha de guerra e homem público de relêvo.
Teve responsabilidades especiais, ligadas a alguns factos da nossa política comtemporânea, intervindo por vezes ruidosamente na marcha da administração pública. A história o julgará.
Sr. Presidente: eu peço licença para chamar a atenção da Câmara sôbre o precário da existência humana.
Só valem na vida os sacrifícios quando são feitos por um ideal, e felizes aqueles que sabem elevar o horizonte da vida até ao infinito do espírito. Faço sinceros votos para que a alma de Leote do Rêgo tenha encontrado êsse caminho de vida eterna.
Perante a memória do Leote do Rêgo descubro-me com respeito, sentindo profundamente a morte dum companheiro tam correcto e tam leal.
Tenho dito.
O orador não reviu.
O Sr. Agatão Lança: — Sr. Presidente: associando-ma às palavras de homenagem que dos diferentes lados da Câmara têm sido proferidas à memória de Leote do Rêgo, não faço mais do que cumprir o meu dever.
Faço-o, porém, em condições excepcionalíssimas, condições que provém do meu estado de profunda mágoa e da grande prostracção em que me encontro, sem dormir há mais de 48 horas.
A noite de ante-ontem passei-a a bordo dum dêsses navios que Leote do Rêgo tanto amava e esta última junto dêsse meu grande e querido amigo, oficial de marinha dos mais distintos que tenho conhecido e que me deu os primeiros ensinamentos a bordo do primeiro navio em que tive a honra de embarcar.
É cedo para só avaliar das qualidades dêsse alto espírito que brilhou sempre como astro de primeira grandeza nos serviços que desempenhou.
Muitas vezes nós ouvimos discursos em que manifestava as suas opiniões que interessavam à vida nacional, discursos muito diferentes daqueles que por vezes se ouvem nesta Câmara.
Ainda o seu corpo está quente e ainda é cedo para revelar ao público todos os seus serviços, mas eu, que durante dez anos servi na marinha e tive a intimidade da sua convivência, posso dizer à Câmara, posso dizer que sofreu ultimamente os mais duros golpes morais que a sua alma podia sofrer.
Ainda agora recebeu um profundo golpe que muito o fez sangrar.
Êsse homem, que tudo colocava acima dos seus interêsses particulares, que tantos anos serviu a República, teve de viver com a sua mulher e os seus filhos a vida dum estudante pobre, numa pensão, vendo destruída a sua casa, que tinha constituído com muito trabalho e sacrifícios.
A bordo dos seus navios, manobrava-os com tanta galhardia, que nos pôrtos estrangeiros recebeu sempre os maiores elogios.
Êsse homem tinha um grande defeito para os políticos.
Não ocultava os seus pensamentos para bem servir os interêsses nacionais, e talvez por isso lhe fizeram uma guerra pessoal.