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Diário da Câmara ds Deputados
O Sr. Presidente: — Continua no uso da palavra sôbre a interpelação do Sr. Cunha Leal o Sr. Jaime de Sousa.
O Sr. Jaime de Sousa: — Sr. Presidente: reatando as minhas considerações de ontem, contínuo a dizer a V. Ex.ª que me sinto em sérios embaraços para responder ao ilustre Deputado Sr. Jorge Nunes, porquanto S. Ex.ª que ordinariamente, com a sua forma parlamentar de sempre demonstrar as suas afirmações, de sempre provar com factos as suas acusações aos Govêrnos, desta vez S. Ex.ª causou-me uma completa desilusão.
Procurei em Tão em toda a brilhante exposição de S. Ex.ª uma prova, um facto concreto do qual pudesse inferir-se que é justa a ordem de despejo que S. Ex.ª deu ao Govêrno, e que tenha qualquer fundamento a afirmação de que o Govêrno não tenha cumprido nenhum dos compromissos a que se tenha obrigado.
O Sr. Jorge Nunes foi tam longe que chegou quási a convencer-nos de que o Govêrno não tinha, razão para abandonar as cadeiras do Poder, porquanto S. Ex.ª chegou a afirmar que, dos Govêrnos que se sucederam, a melhor presidência tem sido a do Sr. António Maria da Silva.
Daqui se conclui que o mandato do despejo era apenas floreado de retórica, sem nenhum outro significado que não fosse uma aspiração para que o Govêrno deixasse as cadeiras do Poder para ser substituído por figuras militantes e eminentes do seu partido, que estão à altura de ocupar aquelas cadeiras com brilho. Todavia, uma afirmação S. Ex.ª fez que causou certa impressão na Câmara, e foi um tal ou qual ressentimento pela atitude da imprensa para com o seu partido em questões em que êle tem estado envolvido. Ligando esta afirmação com outra que li num jornal da noute, da autoria dê um marechal do Partido Nacionalista, eu concluo que creio que não pensei mal quando me convenci de que os estadistas portugueses não têm a noção certa do que seja a imprensa de um país, que é uma fôrça muito mais poderosa do que todas as outras fôrças que influenciam no equilíbrio social.
É Portugal talvez o único país do mundo em que os seus estadistas estão divorciados da imprensa, quando entre os homens de Estado e a imprensa deve haver uma perfeita harmonia, não só na imprensa nacional, mas também na estrangeira, porque hoje não há uma imprensa dêste ou aquele país, mas uma só imprensa.
Hoje a imprensa é uma.
O Sr. Jorge Nunes: — É um trust do pensamento...
O Orador: — Sim, é um trust do pensamento que tem necessidade de ser orientado sôbre tudo quanto se passa, e a dentro do qual se encontra localizada uma das maiores responsabilidades dos homens de Estado modernos e conscientes.
Entre nós o contacto entre a imprensa e os homens públicos não existe. Existe sim uma outra cousa que lhe é quási absolutamente oposta: o mutismo, o mu-iisino sistemática que impede que essa imprensa só esclareça e elucide sôbre as questões que dizem respeito à vida administrativa do País. E é exactamente porque êsse mutismo existe e é exactamente porque existe a ignorância de todas essas questões, que o jornalismo se vê forçado muitas vezes a lançar-se no campo da fantasia, fantasia que nem sempre, infelizmente, é útil aos interêsses do Estado.
Desta falta de contacto entro os homens públicos e a imprensa resulta o paradoxo que representa o divórcio completo entre o Estado e a opinião pública do País. Somos a única nação do mundo onde se tem a idea de que o Estado é qualquer cousa de diferente da própria nação; que Cio é, até, o inimigo.
Mas, Sr. Presidente, não é só aos homens do Estado a quem incumbe procurar e manter êsse contacto; êsse trabalho incumbe também a todas as pessoas que podem de futuro gerir os negócios públicos; incumbe não só aos partidos do Govêrno, mas também aos partidos de oposição.
Sr. Presidente: eu não quero alongar-me em considerações sôbre o assunto, que é vasto e se presta a largas divagações.
Mas não convém fazer a confusão sôbre uma questão que é clara. Deixemo-la ficar por aqui.