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Sessão de 30 de Julho de 1923
Por educação, por temperamento, a discussão sôbre matéria política esteve sempre fora dos meus hábitos já porque no meu espírito se foi desenvolvendo principalmente o estudo de assuntos de carácter técnico, já porque, tenho de confessá-lo, falta-me a leveza de inteligência para suportar Uma tal discussão.
No emtanto, quem dá o que tem a mais obrigado não é, e eu quero justamente fazer ao ilustre sub-leader do meu Partido e meu querido amigo Sr. Cunha Leal o sacrifício, o holocausto da minha própria vaidade.
Depois dos brilhantes discursos proferidos nesta casa durante êste debate pelo ilustre Deputado Sr. Cunha Leal, outros entenderiam que a melhor homenagem à sua inteligência e à proficiência com que expôs todos os assuntos, só o silêncio seria de aconselhar; eu, porém, dizendo aqui estou consigo, di-lo hei melhor ou pior.
Ao facho deslumbrante da sua voz acrescentarei o titubeante pavio da minha eloquência.
Fala-se já num falso pretexto de tempo que se perde; já os jornais o insinuaram e nas conversas políticas já se tem pretendido insinuar que o objectivo da minoria nacionalista seria, com o arrastar dêste debate, evitar que de assuntos mais sérios a Câmara tratasse.
Não me sujeitarei a quaisquer pressões, nem da maioria nem do Govêrno, sobretudo e principalmente porque estou convencido de que êste é, perante o País, o meu dever.
É necessário que as minorias se emancipem do papão do Partido Democrático, que directamente ou pelas suas ligações dá rua, costuma sempre antepor a quem Dão navegar nas suas águas.
Bom é que a maioria se convença de que se torna difícil conseguir paredes suficientemente resistentes à caldeira para evitar que expluda quando sujeita a mais altas pressões.
A asfixia do Partido Democrático já deu em Portugal o 5 de Dezembro.
Sr. Presidente: sempre tive para mim que a República era um conjunto de ideas democráticas, mais nobres, mais livres e mais generosas, e não uma simples mudança de rótulo em vulgar frasco de boticário guardando a mesma droga.
A minha imaginação nunca poderia conceber a triste realidade de que os interêsses gerais da Nação, continuamente esquecidos, haviam de ser sacrificados às conveniências das oligarquias financeiras e às ambições dos grandes blocos de ouro que sôbre nós pesam como tombando dó alto da montanha, e, na verdade, eu tenho de constatar que êste Govêrno, tentando-o simulacro da repressão do jôgo nas mesmas casas onde alguns dos seus membros entretém as melhores horas das suas noites de descanso, sem que uma inadmissível ignorância os pudesse absolver, permite a jogatina descarada que sôbre fundos públicos se faz na Bolsa de Lisboa, transformada em casino da jogatina nacional, nos bancos e nas esquinas povoadas da Rua dos Capelistas.
Na verdade, tenho de constatar que êste jôgo desenfreado é a causa principal da formidável carestia da vida e da miséria das classes menos protegidas na luta honesta pela existência.
Há de reconhecer-se que o Govêrno tem pactuado com todas as fôrças da finança, até abrindo a batota e estendendo no pano verde as cartas sôbre as quais assenta a estabilidade governamental, mas de que pode resultar a débacle desta sociedade política já mal segura em si.
Arrancou-se ao Parlamento, quási à fôrça, sob a pressão mirabolante de melhores dias e de mais brandas divisas cambiais, a autorização para o empréstimo ultimamente votado.
O empréstimo é coberto, e coberto imediatamente como uma pechincha para os subscritores, mas o câmbio agrava-se, a vida torna-se mais cara, tornando-se cada vez pior a situação.
E porquê?
Porque o empréstimo só serviu para especulação e para a jogatina, que só terminarão quando o Govêrno e o Parlamento, num acto de violência, resolverem evitar as tremendas consequências que dentro em breve esgotarão o tesouro público.
Há de reconhecer-se e reconheça-se que o Govêrno tem pactuado com os grupos financeiros que são os pontos fortes da jogatina nacional.
Sr. Presidente: a esta Câmara foi trazida não há muito tempo a proposta da Companhia Nacional de Navegação para