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Diário da Câmara dos Deputados
tribuído para a desordem nas finanças e até nos espíritos.
A que propósito ou despropósito, à última hora, surge o Govêrno, que tem sido inepto para o exercício da sua função, a dizer à Câmara que, se não lhe votarem determinadas medidas, não poderá governar?
A moagem nunca teve um Govêrno que melhor servisse os seus interêsses, as colónias estão reduzidas à condição de territórios em que a situação financeira talvez àmanhã seja riremediável, e a acção do Sr. Ministro do Comércio tem sido perniciosa ao país. Nestas circunstâncias, qual deve ser a atitude da oposição? Impedir que se prorrogue a sessão legislativa.
O apoio que o Govêrno tem encontrado na maioria é determinado por uma necessidade de disciplina partidária, ao passo que o nosso ataque determina-se pela convicção profunda de que o Govêrno serve mal os interêsses do país.
O Sr. Ministro das Finanças declarou que, se nós lhe não dermos o sêlo e o registo, retirar-se há desolado para um convento.
Eu não tenho senão a dizer-lhe:
— Vá! Vá para um convento, retire-se!
Mas analisemos um pouco as razões apontadas pelo Sr. Ministro das Finanças.
Um dia, perante a proposta de lei do empréstimo, nós proclamámos que, se o câmbio não acompanhasse as esperanças de S. Ex.ª e dos seus defensores, a operação, seria ruinosíssima para o Estado, em vista da maneira como tinha sido concebida. Nessa ocasião o Sr. Ministro das Finanças não integrava dentro de um plano a sua proposta de lei e dizia que nisso havia pessimistas e optimistas; êle, que era optimista, disse-me: o senhor é um triste pessimista, e eu, ingénuo, respondi-lhe que, em matéria de câmbios, não há pessimistas nem optimistas, e que seria preciso que me demonstrasse que os meus argumentos eram falsos para eu me convencer de que o câmbio ia melhorar. Mas o Sr. Ministro das Finanças não saiu disto: que o câmbio ia melhorar.
Emquanto nós éramos insultados por não acreditarmos nos dogmas do Sr. Ministro das Finanças, desentranhou-se o Sr. Adrião de Seixas em profundas congeminações, que eram tudo quanto há de mais piramidal em matéria financeira.
Fomos insultados, os que não éramos optimistas, a tanto por linha, nos jornais que tiveram o cuidado de apresentar a conta, e quando vimos que o empréstimo era coberto muitas vezes, e quando vimos, em longas parangonas pagas, proclamar-se a grande confiança que havia no Estado, nós dissemos que isso não significava confiança, mas apenas usura. A tentação do juro era de tal forma poderosa para aqueles que arrecadavam a nota, que, apesar da desconfiança de um Estado que nem sempre pagou a horas, o cidadão português ia entregar os seus escudos.
Mas dizia-se: o câmbio vai melhorar por virtude de outras propostas.
O Sr. Joaquim Ribeiro: — V. Ex.ª conhece o facto de o Sr. Ministro da Agricultura descobrir que havia fábricas de moagem que há três anos não tinham pago ao Estado? Sabe V. Ex.ª também se há funcionários do Ministério dos Abastecimentos que se encontrem ao serviço das companhias de moagem? V. Ex.ª decerto está a ver a razão destas minhas observações.
O Orador: — Isso só prova que o Sr. Ministro da. Agricultura está a representar a velha comédia do Comissário bom rapaz.
Mas, continuando, devo dizer à Câmara que em devido tempo prevenira o Sr. Ministro das Finanças de que se estava gastando mais do que se deve gastar na aquisição de trigos, e que procurasse evitar êste ano a repetição da mesma crise.
S. Ex.ª disse que por ora ainda não gastámos os 20:000 contos que estão no Orçamento e eu respondi-lhe que isso era falsear o espírito do Orçamento.
O Sr. Ministro das Finanças não interpretou da mesma maneira que eu, mas com o seu critério tinha gasto muito mais do que os 20:000 contos, porque teve 77:000 contos de prejuízo.
Pregunto eu agora: Para que é que querem uma nova lei cerealífera?
Para chegarmos à seguinte conclusão, que é desagradável, mas verdadeira: querem uma lei para a não cumprirem.
Passam os Srs. Ministros trabalhos de